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Religião e integração

Alladin Sarhan (ca)5 de março de 2007

Em entrevista à DW-WORLD, Stephan Kramer, secretário-geral do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, fala sobre o desafio da integração e o diálogo entre as religiões.

Integração é um dos termos mais usados na política alemãFoto: Fotomontage/AP/DW

O Conselho Central dos Judeus é a organização-teto da comunidade judaica alemã, que hoje contabiliza cerca de cem mil pessoas. DW-WORLD conversou com Stephan Kramer, secretário-geral da organização, durante a recente conferência "Religião e Integração" em Berlim.

DW-WORLD: O termo "integração" é um dos mais usados na política atual. Como o senhor define este termo?

Stephan Kramer: Integração significa tornar-se parte da sociedade e gozar dos mesmos direitos, sem perder de vista ou repudiar suas raízes.

Stephan J. Kramer.Foto: presse

Integração não deve significar o estabelecimento de padrões, como gostar ou não da cozinha alemã. Acredito que haja valores bem mais importantes para definir uma sociedade. Se pudermos atingir um estágio em que judeus, muçulmanos, cristãos e ateus se orgulhem de ser alemães ou de viver na Alemanha, então acho que teremos atingido nossos objetivos. Integração, no entanto, é uma via de mão dupla e não deve funcionar como forma de coerção.

Se integração, como o senhor fala, é uma via de mão-dupla, como a maioria da sociedade pode ajudar neste processo?

A integração de pessoas de diferentes religiões ou daqueles socializados em um contexto social diferente significa, de certa forma, a criação de uma nova sociedade. Acreditar que a maioria da sociedade não deve mudar ou que migrantes ou minorias têm que se subordinar à cultura dominante é completamente ultrapassado e fora da realidade.

A Alemanha tornou-se uma sociedade multiculturalFoto: BilderBox

Dêem uma olhada nos Estados Unidos, Austrália e Canadá – tradicionais países de imigração. Eles demonstram que os imigrantes não são subordinados, mas integrados. O fato é que uma cultura muda quando os imigrantes são integrados. Ela muda de forma positiva, pois as pessoas ficam cientes de que se trata de um processo enriquecedor e que a sociedade cresce através dele, apesar de todos os desafios e dificuldades que podem aparecer no caminho.

Não pretendo menosprezar os temores dos assim chamados "alemães" quanto ao afluxo de estrangeiros, de outras culturas e outras religiões. Eu sinto que muitas pessoas, em diferentes facetas da sociedade alemã, não têm idéia de seus valores pessoais ou crenças e, por esta razão, são intolerantes com os outros e temem os estrangeiros que vêm para cá. Por isso, acredito que devemos dar uma boa olhada em nós mesmos e trabalhar os nossos próprios princípios e valores, antes de dizer para outras pessoas como devem se comportar e preencher nossas expectativas.

No seu discurso, o senhor falou que o diálogo entre as religiões é a única maneira racional de preencher o conflito entre as religiões. Qual o comprometimento dos judeus com tal processo?

Não é a único caminho, mas é um caminho importante. Conversar não prejudica. Estamos fazendo o possível para manter conversações com vários parceiros, incluindo organizações muçulmanas. Não fazemos isto de forma pública, pois não estamos interessados em ganhar pontos por diligência, mas sim em estabelecer elos de confiança com outros povos – apesar das dificuldades e diferenças existentes. Afinal de contas, não são organizações que conversam umas com as outras, mas pessoas. Passos pequenos, todavia importantes, têm sido feitos nesta direção.

Um grande número de problemas surge quando religião é aliada à política. Como isso pode ser evitado?

Pichações anti-semitas recentes em escola judaica berlinenseFoto: AP

Sempre é mau, quando a religião é deturpada pela política, independente de que tipo de religião se trate. Devemos tentar manter a política fora destas áreas o máximo possível, mas não devemos nos fechar numa torre de marfim, acreditando que podemos conduzir este tipo de diálogo sem recorrer a nenhum tipo de argumentação política. A política é parte desta sociedade, assim como o são a religião e outros valores básicos. Cabe a cada indivíduo decidir o quanto ele quer mantê-los separados uns dos outros.

Acho que o que nos falta é uma forma civilizada de debater nossos problemas. Debater é bom quando se trata de encontrar uma melhor solução para os nossos problemas e é mau quando se trata de converter ou tentar ferir alguém, o que acontece, infelizmente, muito freqüentemente em nossas discussões públicas. O resultado desta forma negativa de discussão é o silêncio, o sentimento de não ser compreendido ou de ser obrigado a encontrar uma outra forma de expressão, que leva muitas vezes à violência. E isto é, exatamente, o que devemos evitar.

Anti-semitismo pode ser muito prejudicial ao processo de integração. O que pode ser feito contra?

Tenho muito cuidado com estas generalizações, mas o fato é que o anti-semitismo é, por exemplo, crescente na comunidade muçulmana da Alemanha, que está cada vez mais propensa à violência. Estamos de acordo com a maioria das organizações muçulmanas de que temos que, juntos, empreender algo contra.

Ao mesmo tempo, e digo isto abertamente, os judeus na Alemanha e em outros países não estão isentos de estereótipos, clichês e preconceitos contra muçulmanos, talvez não na mesma medida e, certamente, não demonstrando a mesma predisposição à violência. Mas, em certos pontos, ambos os lados ainda têm que fazer seu dever de casa. Estamos trabalhando para encontrar soluções possíveis. Não digo que tudo isso seja fácil e que esteja funcionando espetacularmente, mas é importante estarmos conversando e conscientes da crise.
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