A Alemanha tem mais de 10 milhões de habitantes de cidadania estrangeira, e integrá-los é debate constante. Estatísticas mostram que, apesar de todas as dificuldades, o país está se saindo melhor do que se pensa..
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Em seu best-seller Arrival City (cidade de chegada), o autor canadense Doug Saunders elogia a Alemanha como um dos países "mais bem sucedidos" em termos de integração. Ao descrever como a imigração transcorre nos Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Turquia e Alemanha, o especialista no tema elege como modelo a cidade de Offenbach.
Com uma parcela de 37% de estrangeiros, a mais alta do país, a localidade no estado de Hesse dispõe dos quatro critérios que, na opinião de Saunders, permitem sucesso em integração: acesso à educação e ao mercado de trabalho, moradia financiável, e redes sociais eficazes.
O tema integração atravessa a história da Alemanha, embora só a partir dos anos 1990 sua relevância política tenha crescido. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, vieram milhões de desalojados, seguidos pelos milhões de "trabalhadores convidados" do milagre econômico.
Nos anos 90, as guerras nos Bálcãs desencadearam um grande movimento de êxodo em direção ao país, ao qual, após o colapso da União Soviética, se juntaram milhões de cidadãos do Leste Europeu de origem alemã. Uma nova onda ocorreu em 2004, com a inclusão dos países do Leste na UE. Em 2015, quase 1 milhão de refugiados do Oriente Médio procurou a Alemanha.
Segundo o Cadastro Central de Estrangeiros (AZR), em 2017 havia no país 10,6 milhões de pessoas de cidadania estrangeira, além de 18,6 milhões de origem imigrante.
Mas quão longo é o caminho entre a "cidade de chegada" Offenbach e o "país de chegada" Alemanha? As estatísticas mostram que, apesar de todas as dificuldades e déficits, a integração no país vai melhor do que se pensa. A seguir, cinco setores em que se tem alcançado progresso.
Educação: No espaço de 11 anos, os jovens migrantes conquistaram bastante terreno no campo da formação acadêmica. Se em 2005 apenas 13,9% daqueles entre 25 e 35 anos tinham título universitário ou de escola superior técnica, em 2016 essa percentagem já era de 26%, segundo o Departamento Federal de Estatísticas.
Também o grau de escolarização progride. Entre 2010 e 2015, a proporção de imigrantes ou seus descendentes entre os que obtiveram o certificado de Abitur (conclusão do curso médio com capacitação para frequentar a universidade) cresceu de 9% para 17%. Em relação ao Mittlerer Abschluss, que habilita à formação superior técnica, o incremento no mesmo período foi de 38% para 44%.
Emprego: A parcela de desempregados também caiu entre os imigrantes, de 17,9% em 2005 para 7,1% em 2016. No entanto a taxa permanece bem mais elevada do que entre a população alemã, na qual o decréscimo foi de 9,8% para 3,4%.
Registram-se tendências positivas também entre os requerentes de refúgio. Segundo a Agência Federal do Trabalho (BA), 216 mil refugiados – portanto cerca de um quarto dos que chegaram de países em guerra ou crise, desde 2015 – já exerce uma ocupação e contribui para o sistema de previdência social. Atividades profissionais de menor duração e intensidade não são incluídas na estatística.
O Instituto de Pesquisa de Mercado de Trabalho e Profissão (IAB) calcula que 100 mil refugiados ingressarão no mercado de trabalho alemão, apenas em 2018. Em contrapartida, ainda é bastante elevado o número dos que dependem da previdência social entre os refugiados árabes e africanos, cerca de 500 mil.
Naturalização: O volume de processos de naturalização voltou a subir desde 2014, quando 108.422 imigrantes obtiveram a cidadania alemã. Em 2017 eles foram 112.211, a maioria de origem turca. No auge do afluxo de europeus orientais de origem alemã, no fim dos anos 90, porém, o número de naturalizações chegava a quase o dobro.
Participação política: Dos 709 deputados no atual Bundestag (Parlamento alemão), 58 provêm de famílias de imigrantes, o equivalente a 8,2%. Em 2013, a percentagem era de 5,9%, e em 2009 de apenas 3,4%. Embora a participação política dos descendentes de estrangeiros aumente continuamente, os imigrantes seguem politicamente subrepresentados.
Esporte: Quer se trate de caratê, críquete ou pebolim, o trabalho de integração das associações esportivas alemãs conta com patrocínio governamental. Entre os projetos mais conhecidos está a iniciativa "1 a 0 para as Boas-Vindas", da Federação Alemã de Futebol (DFB), cujo balanço é respeitável, com mais de 40 mil refugiados já integrando algum time de futebol. Também a Federação Alemã de Esportes Olímpicos (DOSB) recebe verbas públicas para seu programa de longa duração "Integração pelo Esporte".
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Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.