Reino Unido
7 de julho de 2007O Reino Unido foi alvo de mais atentados que os Estados Unidos ou qualquer outro país europeu. Desde 11 de setembro de 2001, extremistas islâmicos cometeram pelo menos quatro grandes atos de terror em território britânico.
Na tentativa de explicar por que o Reino Unido é mais visado que os Estados Unidos pelo terrorismo islamita, os especialistas costumam citar a fracasso dos países europeus em integrar suas populações muçulmanas.
"Não se trata de células terroristas que operam para além das fronteiras ou exportam guerreiros do Oriente Médio para a Europa", explica Hans Giessmann, professor da Universidade de Hamburgo. Os incidentes em Londres, Glasgow, Madrid e outras cidades européias foram "planejados por terroristas crescidos no próprio país".
"Trata-se de uma vazão de ideologias extremistas para dentro de comunidades privadas de seus direitos", argumenta Giessmann, sugerindo que muitos dos dois milhões de árabes residentes no Reino Unido não conseguiram se adaptar à forma de vida britânica.
Sociedades paralelas
Hazhir Teimorian, especialista de segurança do grupo Limehouse, sediado em Londres, culpa a política de imigração liberal da Inglaterra. "O governo causou grandes danos com sua política frouxa de imigração", afirma ele. Teimorian acha que o governo do Partido Trabalhista sob o primeiro-ministro Tony Blair "deu aos islamitas de todo o mundo a liberdade de se estabelecer na Inglaterra".
"O resultado", afirma ele, "é uma tendência de estas comunidades se fecharem em guetos e se alienarem", o que as torna altamente suscetíveis a ideologias radicais islâmicas, como a jihad pregada pela Al Qaeda.
Griessmann concorda que uma noção equivocada de tolerância levou ao surgimento de sociedades paralelas, nas quais muitos nem sequer falam a língua nacional. "Essas comunidades não têm uma existência integrada, o que as torna suscetíveis a diversas formas de radicalização", constata Giessmann.
Especialmente a segunda e a terceira geração de imigrantes, descendentes dos estrangeiros que chegaram à Inglaterra após a Segunda Guerra Mundial, têm se deixado se sensibilizar cada vez mais pelo 11 de Setembro e pelas guerras no Iraque e no Afeganistão.
Teimourian explica que alguns desses jovens chegam a se voltar contra os pais, por estes não serem "islâmicos o suficientes". De fato, nenhum dos sete suspeitos de terrorismo presos em função dos atentados à bomba fracassados em Londres e Glasgow na semana passada tem mais de 30 anos.
"Na Alemanha", comenta Giessamann, "finalmente reconhecemos que a integração não funciona com piloto automático. O choque de civilizações está acontecendo dentro de nossa própria sociedade fragmentada. E não conseguimos definir uma identidade coletiva no contexto de um Estado-nação multi-étnico".
A Alemanha tem um grande número de imigrantes muçulmanos, a maioria deles de ascendência turca. Geralmente residentes em áreas afastadas e de baixa renda, eles mantêm pouco ou nenhum contato com o resto da sociedade.
Além disso, muitos muçulmanos provêm de um ambiente rural. No Reino Unido, Teimorian observa que "eles sentem grande ódio pela cultura ocidental, porque não a entendem e a temem".
Como curdo iraniano emigrado para o Reino Unido mais de 50 anos atrás, Teimourian decidiu criar seus filhos como cristãos, "a fim de que eles se sentissem mais apegados à identidade européia".
Sem "Islam Towns" nos EUA
As comunidades muçulmanas norte-americanas são diferentes. "Os Estados Unidos toleram bem menos a alienação", afirma Teimourian, acrescentando que os muçulmanos residentes no país "recebem o recado, pelo menos implícito, de que têm que se tornar americanos".
Como resultado, os muçulmanos americanos não tendem a viver agrupados como entidades à parte, constata Giessmann. Neste sentido, eles diferem dos chineses, italianos e outras comunidades de imigrantes que chegaram aos EUA bem antes e formaram agrupamentos isoladas – Chinatown ou Little Italy, por exemplo. Entretanto, não existe nenhuma Islam Town nos Estados Unidos.
Em termos históricos, a comunidade muçulmana americana ainda está engatinhando. E começou a ser moldada por líderes como Zaid Shakir, um imame progressista da Califórnia que conquistou ampla popularidade pregando um modelo moderado de islamismo que condiz com a forma de vida americana.
Numa entrevista recente, Shakir apontou o "surgimento de uma cultura muçulmana nos EUA, algo muito importante, pois permite aos americanos islâmicos ocupar seu legítimo espaço entre as diversas comunidades muçulmanas do mundo."
A minoria islâmica nos EUA é menor do que no Reino Unido: com 2,35 milhões de pessoas, ela representa menos que 1% da população. No Reino Unido, os muçulmanos somam 3%.
Além do mais, os islâmicos americanos são menos camponeses e mais profissionais, explica Teimourian. Para Giessmann, "essas pessoas foram em média mais bem assimiladas à sociedade americana".