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Intelectuais alemães alertam para riscos no Brasil

22 de outubro de 2018

Manifesto assinado por grandes nomes do mundo acadêmico alemão, como o filósofo Axel Honneth e o sociólogo Claus Offe, expõe preocupação diante de crescente discurso de ódio no país.

Partidários de Bolsonaro queimam modelo de urna eletrônica no primeiro turno em São Paulo
Partidários de Bolsonaro queimam modelo de urna eletrônica no primeiro turno em São PauloFoto: Getty Images/AFP/A. Schneider

Um grupo de mais de 40 acadêmicos alemães de diversas áreas lançou uma carta aberta sobre os riscos à democracia e aos direitos humanos no Brasil, em meio ao cenário de discurso de ódio, violência e polarização às vésperas do segundo turno da eleição presidencial.

"Aprendemos, dolorosamente, com a história europeia e, em especial, com a história alemã, que a apologia da tortura e da violência e o desrespeito a concidadãos e minorias jamais serão solução para crises econômicas e políticas", afirma o documento assinado por importantes personalidades da ciência alemã.

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Entre os signatários estão o filósofo e sociólogo Axel Honneth, professor nas universidades de Frankfurt e Columbia, nos Estados Unidos, e o sociólogo Claus Offe, da Hertie School of Governance, em Berlim.

Autor de Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais e O direito da liberdade, Honneth é considerado um dos filósofos mais importantes da atualidade. Aluno de Jürgen Habermas como Honneth, Offe é conhecido por suas relevantes contribuições sobre capitalismo e democracia.

Além dos dois, assinam ainda o documento o sociólogo Stephan Lessenich, que foi presidente da Associação Alemã para Sociologia (DGS) e atualmente dá aula na Universidade Ludwig Maximilian de Munique; a historiadora especializada em América Latina Barbara Potthast, da Universidade de Colônia; e a economista Barbara Fritz, da Universidade Livre de Berlim.

Os signatários da carta destacam que não desejam interferir em assuntos internos, mas defender "valores inegociáveis como democracia, direitos humanos e o caráter laico das instituições públicas" e expressam preocupação com os recentes desenvolvimentos políticos no Brasil.

O documento não cita abertamente o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), mas faz referências a declarações dadas pelo presidenciável e seus apoiadores: "Temos observado como, durante a presente campanha eleitoral, difamações, desinformação e perseguição vem colocando em questão o tratamento igualitário de mulheres e homens, a dignidade de gays, lésbicas e pessoas transgênero, assim como a legitimidade política dos movimentos sociais e os direitos de minorias ameaçadas – entre estas, indígenas e quilombolas".

A carta destaca ainda que o "estímulo deliberado de conflitos entre os diferentes grupos da população e o anunciado armamento da população civil vão gestando uma catástrofe humanitária de dimensões incalculáveis".

Por fim, os cientistas pedem que o Judiciário brasileiro defenda os direitos humanos e a democracia e puna aqueles que violam esses princípios com palavras ou atos. "As forças democráticas no Brasil não podem ficar omissas", acrescentam.

Manifestos pelo mundo

Além da carta aberta alemã, pesquisadores europeus e americanos também lançaram petições em defesa da democracia no Brasil. O primeiro manifesto foi publicado por cientistas em atividade nos Estados Unidos em meados de outubro. O documento já conta com 1.291 assinaturas.

Intitulado Em defesa da democracia no Brasil, diga não a Jair Bolsonaro, o texto lembra que o presidenciável do PSL elogia a tortura e torturadores, além de não esconder sua admiração pela ditadura militar que esteve no poder no Brasil entre 1964 e 1985.

"A vitória da extrema direita radical no Brasil reforçará um movimento internacional que levou ao poder políticos reacionários e antidemocráticos em vários países nos últimos anos", destaca o manifesto. "Seu programa visa destruir avanços políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais das quatro últimas décadas, bem como as ações empreendidas pelos movimentos sociais e os setores progressistas para consolidar e ampliar a democracia no Brasil", acrescenta.

O manifesto afirma ainda que a eleição do ex-militar ameaça as "frágeis instituições democráticas" brasileiras e destaca que seu governo representaria um obstáculo "a toda política internacional ambiciosa de defesa do meio ambiente e de preservação da paz".

Entre os primeiros signatários da petição americana aparecem historiadores de renome como Stuart Schwartz, James Green, Lilia Moritz Schwarcz, Sidney Chalhoub, Barbara Weinstein, que chegou a presidir a Associação Americana de História (AHA), e o antropólogo John Burdick.

A iniciativa americana foi seguida por europeus, coordenados pela Associação de Pesquisa sobre Brasil na Europa (Arbre), com sede na França, que reuniu um grupo de pesquisadores, políticos e artistas que atuam na Europa e no Canadá em torno de um manifesto semelhante.

O documento já conta com mais de 1,3 mil assinaturas. Entre os 226 primeiros signatários estão o economista francês Thomas Piketty, autor de O capital no século 21, e a historiadora Laura de Mello e Souza, da Universidade Paris-Sorbonne.

Além dos manifestos de cientistas, as declarações e atitudes de Bolsonaro também foram repudiadas por eurodeputados. Na terça-feira passada, representantes de cinco das sete bancadas do Parlamento Europeu se reuniram para defender uma posição contrária clara diante do candidato.

"Uma vitória de Bolsonaro – uma figura patética que será a vergonha do Brasil – significaria um retrocesso civilizatório para o país e para o mundo", afirmou o eurodeputado português Francisco Assis, do bloco socialista, durante o evento de lançamento do manifesto Democracia brasileira em risco, em Bruxelas.

Bolsonaro é o líder nas pesquisas de intenção de voto. Na última pesquisa Datafolha, o candidato apareceu com 59% dos votos, contra 41% de Fernando Haddad (PT).

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