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Intercâmbio acadêmico, diferenças e interesses

Erica Matsuura 17 de setembro de 2006

Gabriele Althoff, diretora do escritório brasileiro do DAAD, fala sobre o perfil do brasileiro que estuda na Alemanha e sobre os alemães interessados em estudar no Brasil.

Gabriele Althoff fala sobre os estudantes alemães e brasileirosFoto: DW/Erica Matsuura

A diretora do escritório brasileiro do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), Gabriele Althoff, aponta as diferenças entre universitários brasileiros na Alemanha e de alemães no Brasil e salienta a necessidade de promover as universidades brasileiras no exterior.

DW-WORLD: Quais são os cursos da maioria dos bolsistas?

Gabriele Althoff: Nas universidades alemãs, temos todos os anos por volta de 1,7 mil estudantes brasileiros, sendo mais de 900 deles bolsistas. Já o número de alemães que estão nas universidades brasileiras varia de 700 a 800 estudantes por ano e poucos vão sem uma bolsa de estudos. Esse número é ainda muito pequeno.

Antigamente a maioria dos brasileiros eram alunos de Ciências Humanas, inclusive Direito e Ciências Sociais. Hoje, existe uma boa distribuição. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) tem cinco grandes áreas e por isso pode-se dizer que as diferenças são pequenas.

Em geral, onde a Alemanha tem um curso de destaque com bom desempenho existe interesse. Posso citar os bons cursos de Economia que existem agora na Alemanha, com cursos de MBA e boas corporações, o interesse nesses cursos tem crescido nos últimos tempos. Também em áreas inovadoras, como nanotecnologia e biotecnologia.

Para Marcela Oliveira (USP) na Alemanha 'é preciso ser mais independente'Foto: DW/Erica Matsuura

Os estudantes alemães também provêm de diferentes carreiras. Porém é preciso saber diferenciar. Há, por exemplo, muitos estudantes com bolsa individual, com diferentes interesses. Muitos vão para a Unicamp ou para a USP porque sabem que o nível dos cursos é altíssimo e lá também podem estudar em um nível internacional. Há também interessados em assuntos mais regionais, que vão para as mais diversas partes do Brasil fazer pesquisa de campo. Não se pode dizer que existe um enfoque particular.

Qual é o grau de internacionalização das universidades brasileiras ?

No dia 22 de setembro haverá um simpósio e cooperação com o Faubai (Fórum de Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais) para discutir as experiências de internacionalização das universidades no Brasil e na Alemanha.

Eu acredito existirem alguns déficits nas universidades brasileiras em relação à promoção. Há cursos belíssimos de altíssimo nível, cursos avaliados com conceito 7 da Capes. Quem sabe disso na Alemanha, nos Estados Unidos? Só mesmo os parceiros que têm cooperações com essas universidades. Universidades da Austrália, da Nova Zelândia, dos EUA ou do Reino Unido fazem muito mais promoção para atrair estudantes estrangeiros e por isso também há poucos estudantes alemães que têm interesse em estudar no Brasil.

Existem iniciativas para atrair o estudante brasileiro para as universidades alemãs?

Entre os dias 19 e 23 de setembro, vai ocorrer o evento itinerante "Estudar e Pesquisar na Alemanha", com estandes e palestras de instituições alemãs de ensino superior em Campinas (Unicamp, dia 19), São Carlos (UFSCar, dia 20), Araraquara (Unesp/Instituto de Química, dia 21) e São Paulo (Instituto Goethe, dia 23). Será uma ótima oportunidade para obter informações e orientação sobre como estudar e pesquisar na Alemanha. Alguns professores estarão lá e será possível estabelecer um contato mais direto.

Atrair alunos não é o único objetivo desse evento, novas cooperações dentro das universidades brasileiras são uma outra meta. O intercâmbio de estudantes sempre funciona melhor se existir uma cooperação mais ampla entre professores e entre pesquisadores.

Oliver Thier pesquisou no Rio de Janeiro. A experiência o ajudou no desenvolvimento pessoal e profissionalFoto: DW/Erica Matsuura

E a responsabilidade social dos bolsistas brasileiros? Eles voltam ou acabam ficando na Alemanha?

Este não é um problema sério. Afinal a maioria dos brasileiros que estudam na Alemanha voltam. Os nossos bolsistas gostam e têm muita saudade do Brasil. A maioria deles se sente compromissada a voltar e apoiar o desenvolvimento do país, da sua universidade. Acho que a responsabilidade social dos bolsistas é muito grande, mais de 90% deles voltam para fazer algo no Brasil.

Continue lendo na página seguinte sobre as novidades dos programas de intercâmbio do DAAD.

Phillip Heintzmann fez pesquisa em Pernambuco: 'No Brasil os professores conhecem os alunos por nome e as turmas são menores. O contato pessoal é muito bom'Foto: DW/Erica Matsuura

E as novidades dos programas de intercâmbio do DAAD?

Há pouco tempo, começamos com um programa de bolsas no país. O DAAD fomenta no Brasil bolsistas brasileiros que fazem mestrado no Nordeste pelo Prodema (Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente). Este programa é muito importante porque estabelece novos contatos com universidades dessa região, que representava um lacuna no mapa do DAAD.

Fomentamos os melhores do programa, com aulas de alemão ou até mesmo inglês, já pensando no mestrado e no doutorado. A idéia também é iniciar esse programa em outros países da América Latina, pensando em cooperações triangulares e regionais. Mas ainda não temos nada concreto. É mais um pensamento para o futuro, fazer do Brasil a locomotiva da região, para que em conjunto com a Alemanha possa apoiar os países vizinhos.

Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelos bolsistas?

No Brasil, os alemães têm dificuldades em conseguir informações sobre as universidades. Existem instituições que já têm um certo nível de internacionalização, mas falta pessoal nas assessorias internacionais e por isso fica difícil a comunicação. Outro problema é o processo de acreditação, que é muito diferente do alemão e por isso existem ainda muitas dificuldades.

Na Alemanha, a língua pode ser um problema para alguns brasileiros, apesar de ser possível em muitas instituições escrever teses em inglês ou espanhol. Outro problema inicial é o fato de as universidades alemãs exigirem uma grande responsabilidade. O contato com os professores e seu acesso é muito menor se comparado com o Brasil. Nas universidades alemãs, espera-se muito mais autonomia do aluno.

Thiago Monteiro, bolsista do DAAD: 'É bom aprender alemão antes de vir e estar pronto para encarar uma cultura diferente'Foto: DW/Erica Matsuura

No início, esse é um obstáculo para estudantes da América Latina, acostumados com outro sistema. Um estudante brasileiro de mais de 25 anos muitas vezes ainda mora com os pais, sem precisar fazer compras, cozinhar e ainda tem professores que se ocupam dele na universidade. Aqui, ele tem que resolver todos os problemas sozinho. Este é um fator estimado muito pelos brasileiros, pois quando retornam ao Brasil estão mais maduros do que quando partiram.

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