Sexo muda com idade
31 de janeiro de 2008Anúncio
O primeiro Kinsley Report, intitulado "Comportamento Sexual Masculino" e publicado 60 anos atrás, chocou o público por discutir assuntos que haviam sido tabu até então e por questionar os padrões vigentes. Embora os métodos Kinsey tenham sido freqüentemente questionados, o relatório continua sendo um dos estudos mais abrangentes sobre o comportamento sexual humano. DW-WORLD.DE: O Kinsey Report inaugurou a revolução sexual em 31 de janeiro de 1948, exatamente 60 anos atrás. Ele foi importante para sua carreira? Erika Berger: Bem, eu era jovem demais para lê-lo quando ele foi publicado, mas é claro que tenho o livro na minha estante, como toda pessoa interessada em sexualidade. Ao lê-lo, há momentos em que a gente diz "é isso mesmo!". Não há por que deixar de fazer coisas que sejam um pouco fora do comum e incompreensíveis para os outros. E sobretudo se deveria falar mais de sexualidade. Não deveríamos tentar esconder as coisas; o que deveríamos, sim, era deixar em paz pessoas com outras preferências sexuais. Demorou muitos anos até o Kinsey Report ser traduzido para o alemão. A Alemanha era retrógrada nesse aspecto? Quando comecei a tratar de sexualidade em frente às câmeras, o país era uma tábula rasa. O diretor Oswalt Kolle fez diversos filmes de educação sexual nos anos 60. Ele foi um pioneiro educacional e acho que só então os alemães começaram a perceber que sexo era uma coisa completamente normal. Nesse ponto, penso que a Alemanha estava um pouco aquém dos Estados Unidos. Os resultados do Kinsey Report sugerem que as práticas sexuais tradicionalmente consideradas perversas eram mais propagadas do que as pessoas pensavam. Haveria algo como "sexo normal"? Seria o caso de se perguntar o que significa sexo normal para um determinado indivíduo. O que é sexo bom ou mau para aquela pessoa? Sexo é a forma de vivenciá-lo e praticá-lo – junto com o parceiro. As concepções de sexo normal e anormal não significam nada para mim. Acho um despropósito afirmar hoje que o que os gays fazem não seja normal. Quem são eles para dizer o que é normal? Sou eu que determino o que é normal para mim. A internet abriu novas possibilidades de investigar as preferências sexuais das pessoas. Que efeito que isso teve sobre sua pesquisa? Considero a internet inacreditavelmente importante para a pesquisa sexual. Em primeiro lugar, ela permite observar as coisas instantaneamente. E também é muito transparente. Não temos que ir a lugar nenhum para comprar um livro difícil de pedir porque o título soa comprometedor. Em vez disso, só precisamos entrar na rede, clicar e já temos tudo de que precisamos. Também é interessante, porque – pelos cliques – dá para medir se as pessoas estão interessadas na posição do missionário, no amor com o mesmo sexo ou em práticas sexuais incomuns, se estão à procura de adereços sexuais ou dicas de masturbação. É muito interessante. Há diferença entre o comportamento sexual das pessoas publicamente e na internet? Absolutamente. Quando as pessoas se confrontam com o próprio desejo, pode ser que elas não tenham coragem. Muitos não querem sobrecarregar seus parceiros; outros simplesmente não sabem por onde começar. "Se eu sugerisse algum jogo de papéis ou um bondage ou qualquer coisa sadomasoquista hoje à noite, não saberia dizer como meu parceiro reagiria." Nesse caso, não há mais salvação. É por isso que, na prática, sexo pode se tornar tão entediante. Não é uma ironia o fato de que as possibilidades abertas pela anonimidade da internet acabem atrapalhando a comunicação sexual? É, de fato, isso acontece. Hoje é possível escolher um parceiro via internet, "convidar" alguém virtualmente à minha sala de estar e conversar com ele através do computador. Mas qual a graça? Isso é totalmente unidimensional. É a mesma coisa que ficar olhando fotos de mulheres ou homens pelados ou práticas sexuais na tela. O que tem de bom nisso? Então parece que ainda há necessidade de educação sexual na era da internet, uma necessidade de juntar pessoas para falar de sexo. Considero ótima a tentativa de juntar pessoas. Mas nem sempre funciona. Digamos que eu opte por um homem, entre na internet e procure um cara para conversar num chat. Então começo a falar e a conversa envereda pelos tipos de prazeres horizontais, por assim dizer. Mas mesmo assim quero encontrar o sujeito algum dia! Adoro entrar em chats e estou totalmente envolvida com a internet. Mas acho que, mais cedo ou mais tarde, é o caso de encontrar a pessoa. Sinto falta disso. É um tipo de anonimidade da qual não gosto muito. Você tem 67 anos e seu último livro fala do envelhecimento e especificamente da menopausa. Isso é bastante atual, pois a expectativa de vida está aumentando na Alemanha e em muitos outros países ocidentais. Isso vai afetar as nossas vidas sexuais? Isso levanta uma questão importante. Sexo com idade avançada é um tabu ou não? Defendo que se trate disso como algo normal. Quem falou que a pessoa deveria abdicar de sexo na idade de 60, 70, 80 anos? Não há idade máxima para o sexo – ou para o amor, que – como sempre digo – está ligado ao sexo. Se a pessoa tem saúde, pode manter uma vida sexual altamente satisfatória. Mas uma coisa que constatei conversando com algumas pessoas por causa do meu último livro é que o sexo se torna menos importante com a idade. Passa para segundo ou terceiro plano, e a prioridade passa a ser a ternura. Existe alguém que amo e que me ama? É uma questão de confiança e é daí que se desenvolve a sexualidade. Isso quer dizer que a sexualidade das pessoas mais velhas vai passar a ser foco de maior atenção? Certamente, pois as pessoas ficam cada vez mais velhas e – graças a Deus – não são mais tão limitadas a ponto de esconder que continuam fazendo coisas sujas (risos). Não importa a idade, todo mundo tem dentro de si uma criança a ser mimada. Quando se entra na puberdade, é ótimo. E quando a pessoa está na flor da idade, perde a maioria de suas inibições. Mas uma mulher que entra na menopausa começa a se inibir. Não ousa mais tirar a roupa, tem medo que o sexo machuque. Há muitas coisas que começam a tirar seu desejo de sexualidade. Então a pessoa diz: "Estou ficando velha". Mas não é questão de envelhecer. É uma nova fase da vida que começa.
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