Por causa do escândalo de corrupção, órgão internacional de polícia congela programa conjunto contra as máfias de apostas. Fifa lamenta decisão e diz que ela prejudica combate ao crime organizado.
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A Interpol suspendeu nesta sexta-feira (12/06) sua parceria com a Fifa, em razão doescândalo de corrupção que envolve o órgão máximo do futebol mundial.
"Iremos congelar o uso de contribuições financeiras da Fifa", anunciou o órgão internacional de polícia. Em maio de 2011, a Fifa concordou em iniciar uma parceria com a Interpol, apoiando com 20 milhões de euros um programa de dez anos para combater práticas ilegais de combinação de resultados em jogos de futebol.
O secretário-geral da Interpol, Jürgen Stock, afirmou ter tomado a decisão "à luz do contexto atual que envolve a Fifa". "Todos os nossos parceiros externos, públicos ou privados, devem compartilhar dos nossos valores e princípios fundamentais", afirmou Stock, em nota.
Na semana passada a Interpol emitiu uma busca global para duas ex-autoridades e quatro executivos de marketing da Fifa que enfrentam acusações, nos Estados Unidos, que incluem corrupção e extorsão. Elas fazem parte do grupo de 14 pessoas recentemente indiciadas pelo Departamento de Justiça dos EUA. Quatro pessoas já se declararam culpadas das acusações. Espera-se que mais indiciamentos venham a ocorrer.
A Interpol também havia emitido uma busca global para o ex-vice presidente da Fifa, Jack Warner, que teve seu nome ligado a pagamentos de 10 milhões de dólares, feitos através da Fifa, aparentemente subornos relacionados com a escolha da África do Sul para sediar a Copa do Mundo de 2010. Warner foi liberado, após pagamento de fiança, da prisão em sua terra natal, Trinidad e Tobago, e deverá retornar aos tribunais em 9 de julho.
Na época em que a parceria foi fechada, a apenas três semanas da eleição presidencial da Fifa, ela havia sido criticada por supostamente servir de propaganda para a campanha de Blatter. O acordo inclui uma cláusula que especifica que a Fifa deve agir de modo "compatível com os princípios, objetivos e atividades da Interpol".
A Fifa lamentou a decisão, afirmando que a parceria não tem nenhuma relação com as atuais acusações de corrupção e que a suspensão do programa prejudica o combate de atividades criminosas.
RC/ap/afp
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.