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Intervenção do COI na Rio 2016 chega atrasada, dizem especialistas

Fernando Caulyt11 de abril de 2014

Comitê Olímpico Internacional deveria ter agido antes, afirma engenheiro. Para ele, Brasil tem capacidade técnica, mas faltou planejamento. Aceleração deve elevar custo das obras.

Foto: Getty Images

A preparação do Rio de Janeiro para receber os Jogos Olímpicos de 2016 foi colocada à prova nesta quinta-feira (10/04). Mesmo dizendo que não se tratava de distribuir cartões amarelos ou vermelhos, o alemão Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), anunciou que o órgão vai enviar ao Brasil um diretor para acompanhar – e acelerar – as obras para o evento.

Por meio desse agente e ainda da contratação de uma consultoria independente, o COI passará a ter um papel mais central na coordenação e avaliação da construção da infraestrutura para os Jogos Olímpicos. Mas, para especialistas ouvidos pela DW, essa intervenção chega com muito atraso.

"A intervenção vem tarde. O COI deveria ter observado há muito mais tempo esses problemas", afirma Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, engenheiro civil e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ). "A engenharia brasileira tem capacidade técnica, mas acho que faltou planejamento: já sabemos desde 2009 que vamos sediar os Jogos Olímpicos de 2016."

Para o especialista, com a intervenção do COI, os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro deverão ficar mais caros, já que agora, por pressão do COI, o Comitê Organizador Local deverá colocar mais força de trabalho – disponibilizando, por exemplo, mais um turno de operários –, equipamentos e recursos para aumentar a velocidade das obras.

"Faltou um projeto executivo antecipado detalhado com todas as especificações técnicas dos materiais e planejamento preliminar. Não foi só nas obras referentes aos Jogos Olímpicos, a crítica é geral para quase todas as obras públicas realizadas no Brasil", diz Araújo.

Ocorreram avanços, diz comitê local

Entre os principais problemas apontados pelos dirigentes esportivos ao COI estão o Parque Olímpico de Deodoro, que está com o cronograma apertado; o Parque Olímpico da Barra, que enfrenta greve de operários; o estádio do Engenhão, que sofre atraso de cinco meses na reforma da sua cobertura; e a despoluição da Baia de Guanabara, cujas obras estão atrasadas e preocupam os velejadores.

Thomas Bach fez o anúncio da força-tarefa em reunião de emergência na TurquiaFoto: picture-alliance/dpa

Para Sylvio Maia, coordenador do CBA Gestão e Marketing Esportivo do Ibmec/RJ, um órgão internacional como o COI, que tem o compromisso de entregar um evento perfeito, em todos os sentidos, aos patrocinadores que investiram bilhões de dólares e aos atletas que dedicaram anos de preparação não pode se submeter à lentidão de órgãos governamentais que emperram os processos.

"Em alguns casos, especificamente no Brasil, atrasos são propositalmente provocados, pois geram aumento de custos em função de projetos com emergência nos prazos", diz Maia.

O Comitê Organizador Local afirmou, por meio de nota, que a iniciativa do COI de intensificar as reuniões com representantes dos governos e do Comitê Rio 2016 é oportuna e que já ocorreram avanços desde a última visita do COI ao Brasil, em 21 de março.

"A criação de novos grupos de trabalho faz parte do relacionamento permanente do COI com os organizadores de Jogos Olímpicos. Trabalhar em equipe é a melhor e a única maneira de avançar", diz a nota. "O Comitê Rio 2016 segue com compromisso de organizar Jogos de excelência, dentro do prazo."

Explosão de custos

A menos de dois anos e meio para o início dos Jogos Olímpicos, os organizadores ainda não fecharam o custo total do evento. A Autoridade Pública Olímpica (APO) divulgou no final de janeiro a Matriz de Responsabilidades dos Jogos incompleta. O documento, que estava prometido desde o início de 2013, define prazos e qual esfera de governo vai arcar com os custos dos projetos.

Apesar de a matriz contemplar 52 projetos, o documento listou e informou os custos estimados, e não os finais, de 24 obras de instalações voltadas exclusivamente para a realização dos Jogos Olímpicos. De acordo com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o restante do documento, que corresponde a outras 28 obras, será divulgado até a próxima semana.

Além da incerteza dos custos – pelo fato de muitos projetos ainda não terem sido licitados –, segue incerto o valor que sairá dos cofres públicos e de empresas privadas por meio das parcerias público-privadas (PPPs). A estimativa inicial era que cerca de 75% dos custos fossem bancados por investidores privados e aproximadamente 25%, pelos governos federal, estadual e municipal.

O custo total de 25,9 bilhões de reais apresentado pela candidatura da cidade não deverá ser cumprido, e o gasto do poder público deverá aumentar, já que ele deverá assumir alguns serviços e projetos que estavam sob a responsabilidade do Comitê Organizador Local, que é uma entidade privada.

"As dificuldades são operacionais e orçamentárias", diz Valter Caldana, professor e diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. "Certamente o COI estava esperando aportes de recursos emergenciais que as três esferas do governo não vão fazer. Isso gera atrasos, mas são recuperáveis."

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