1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Intervenção humana ameaça biodiversidade em Madagascar

9 de outubro de 2012

Cerca de 85% das espécies que vivem na quarta maior ilha do mundo existem apenas lá. Mas as mudanças climáticas e a atividade humana ameaçam esse ambiente singular.

Lemure aus MadagaskarFoto: Martina Berg/Fotolia

Madagascar fica localizada a leste do continente africano, no Oceano Índico. Lá, flora e fauna desenvolveram-se em completo isolamento, porque ao longo da formação do planeta a ilha se desprendeu do continente africano. O resultado é uma riqueza biológica muito especial.

De acordo com a organização ambientalista WWF, 85% das espécies existentes na ilha são endêmicas, isto é, existem apenas lá. Entre elas estão os lêmures - das cerca de 100 espécies diferentes existentes na ilha, cerca de 30 estão na lista de espécies amea­çadas. Seu significado religioso para a população nativa é expressivo. Grande parte da população acredita que as pessoas se tornam lêmures depois da morte. Não é por acaso que eles são também chamados de "espírito da floresta".

Além disso, quase todas as espécies de cobras, sapos, camaleões e lagartixas são consideradas endêmicas. O tesouro biológico abriga cerca de 250 espécies de pássaros e 3 mil de borboletas. A variedade da flora também é única: 80% das 12 mil espécies conhecidas de plantas com flores existem apenas em Madagascar, assim como cinco das seis espécies de baobá, também conhecido como árvore pão-de-macaco. Cientistas suspeitam que nas poucas áreas com floresta virgem que ainda existem, haja muitas espécies animais e vegetais que ainda nem foram catalogados.

Lêmures são o "espírito da floresta"Foto: Jearu/Fotolia

Mais pessoas – menos floresta

Cerca de 20 milhões de pessoas vivem em Madagascar, e o número de habitantes aumenta em cerca de meio milhão por ano. Como a população vive principalmente da agricultura, mais e mais terras são preparadas para o cultivo e a pecuária, na maioria dos casos por meio da queimada de florestas. Além disso, muitas árvores são cortadas para a produção de lenha e combustível.

Isso tem efeitos dramáticos sobre a paisagem. A floresta, que já chegou a cobrir 90% da superfície de Madagascar, hoje ocupa apenas 10% do território, segundo dados da WWF. E a cada ano são derrubados 120 mil hectares de árvores. Se continuar nesse ritmo, em 40 anos Madagascar não terá mais árvores, projeta a organização ambientalista.

Biodiversidade ameaçada

Com a perda das florestas, perde-se cada vez mais o habitat de plantas e animais. "Se elas [as florestas] não forem salvas, perderemos inúmeras espécies que sequer conhecemos“, diz a especialista em Madagascar da WWF, Dorothea August. A espécie de lêmure mirza, descoberta recentemente, é um exemplo dos segredos que as florestas de Madagascar ainda abrigam.

"Se a destruição não for impedida, os dias de muitas espécies de animais e plantas estarão contados“, diz August. O crescente desflorestamento em Madagascar leva a uma gigantesca erosão. As consequências são deslizamento de terras, inundações, por um lado, e escassez de água devido ao ressecamento do solo. Essas transformações são favorecidas pelas mudanças climáticas globais.

Apesar de tudo, algumas espécies de plantas podem se adaptar. O baobá, por exemplo, pode armazenar até 500 litros de água em seu tronco e com isso sobreviver aos períodos de seca, que são cada vez mais frequentes.

Proteção ambiental apenas em nível local

Baobá consegue acumular até 500 litros de água e, com isso, sobrevive melhor ao clima áridoFoto: ileiry/Fotolia

O governo de Madagascar reconhece o princípio da conservação da natureza. E por isso trabalha, por exemplo, com a WWF em um projeto para o manejo sustentável da água. Até o momento, cerca de 35 mil pessoas de 13 municípios do Platô Mahafaly já se beneficiaram com o projeto. Mas em outros processos a situação está estagnada. "O país passa de crise política em crise política, não há confiabilidade", diz Daniela Freyer, bióloga da organização Pro Wildlife.

O sistema de fiscalização estaria totalmente desmantelado, o que, junto com a corrupção, permite o avanço na extinção de espécies de animais e plantas. "A exportação de madeira protegida para a Alemanha e para a China é aprovada pelas autoridades", diz Freyer. Isso acontece muitas vezes pela concessão de "isenções". Para completar, há ainda o comércio ilegal – e também legal – de animais de Madagascar, como as lagartixas e sapos.

Dorothea August, do WWF, critica também a falta de ação política e a impunidade. A instabilidade política no país "não ajuda na implementação de projetos ambientais", reclama a especialista do WWF.

Para Daniela Freyer, é importante que organizações ambientalistas locais estejam engajadas, para substituir a caótica estrutura organizacional e de controle do país. "Para assim garantir um mínimo de proteção."

Autor: Po Keung Cheung (ff)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Pular a seção Mais sobre este assunto