Intoxicação atinge centenas de refugiados no Iraque
13 de junho de 2017
Comida estragada resulta na morte de uma mulher e uma criança em acampamento perto de Mossul. Mais de 700 são hospitalizados. Emissora da Arábia Saudita acusa instituição de caridade do Catar de fornecer refeições.
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Uma mulher e uma criança morreram e centenas de pessoas adoeceram intoxicadas por ingerir comida estragada num acampamento para deslocados, cerca de 20 quilômetros ao leste da cidade de Mossul, no norte do Iraque.
Mais de 700 pessoas foram hospitalizadas depois do iftar, refeição que os muçulmanos fazem durante a noite para quebrar o jejum do Ramadã, nesta segunda-feira (12/06), afirmou a ministra da Saúde do Iraque, Adila Hamoud.
Muitas pessoas começaram a vomitar e algumas desmaiaram depois de comer arroz, frango, iogurte e sopa, comunicou o parlamentar iraquiano Zahed Khatoun, membro do comitê parlamentar para deslocados. Muitas das vítimas precisaram ser levadas a um hospital em Erbil, capital do Curdistão iraquiano. Segundo Hamoud, cerca de 300 pessoas permanecem em estado grave.
"É trágico que isso tenha acontecido com pessoas que passaram por tanta coisa", disse Andrej Mahecic, da Acnur, a agência para refugiados da ONU, que administra o acampamento afetado e outros 12 na área devastada pela guerra.
Muitos dos residentes do acampamento fugiram dos combates em torno de Mossul, quando as forças do governo iraquiano e seus aliados lançaram uma ofensiva para expulsar da cidade militantes da organização extremista "Estado Islâmico" (EI).
Crise do Catar
A intoxicação em massa se tornou o mais recente capítulo na crise que isolou o Catar do restantes países árabes. O legislador iraquiano Raad al-Dahlaki, que preside o comitê de imigração e deslocamentos do Parlamento, disse que a comida foi distribuída por uma instituição de caridade catariana denominada RAF. A instituição faz coletas de doações e trabalhos de caridade em todo o mundo, incluindo o fornecimento de refeições a famílias carentes durante o mês sagrado do Ramadã.
Via Twitter, a emissora estatal da Arábia Saudita acusou a RAF de fornecer as refeições intoxicadas e publicou imagens que supostamente mostram crianças do acampamento "envenenadas pela organização terrorista catariana RAF". A ONG está entre as 12 organizações e 59 pessoas que foram colocadas por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Bahrein numa lista de entidades terroristas, na última sexta-feira.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) relatou que uma instituição de caridade do Catar pagou um restaurante local para fornecer a comida. "Não sei o nome do restaurante, mas é isso que nosso contato no local nos informou", disse o porta-voz da OIM, Joel Millman, em Genebra.
Nem a RAF nem autoridades do Catar se pronunciaram a respeito das acusações. Numa entrevista coletiva mais tarde no acampamento, o chefe da polícia de Erbil, Abdulhaleq Talaat, disse que sete pessoas foram presas em conexão com o incidente.
O acampamento afetado está localizado em al-Khazer, na estrada que liga Mossul e Erbil, e abriga 6.300 pessoas, de acordo com a Acnur. Cerca de 800 mil pessoas, mais de um terço da população de Mossul de antes da guerra, fugiram da cidade, buscando refúgio na casa de amigos e parentes ou em campos de refugiados.
PV/ap/rtr/efe
Como começou a crise de refugiados na Europa
Da escalada da violência no Médio Oriente e na África a crises sociais e políticas na Europa, veja como a União Europeia busca solucionar seus problemas.
Foto: picture-alliance/dpa
Fugindo da guerra e da pobreza
No fim de 2014, com a guerra na Síria entrando no quarto ano e o chamado "Estado Islâmico" avançando no norte do país, o êxodo de cidadãos sírios se intensificou. Ao mesmo tempo pessoas fugiam da violência e da pobreza em outros países, como Iraque, Afeganistão, Eritreia, Somália, Níger e Kosovo.
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Em busca de refúgio nas fronteiras
A partir de 2011, um grande número de sírios passou a se reunir em campos de refugiados nas fronteiras com a Turquia, o Líbano e a Jordânia. Em 2015, os campos estavam superlotados. A falta de oportunidade de trabalho e escolas levou cada vez mais pessoas a buscarem asilo em países distantes.
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Uma longa jornada a pé
Estima-se que 1,5 milhão de pessoas se deslocaram da Grécia para a Europa Ocidental em 2015 através da chamada "rota dos Bálcãs" . O Acordo de Schengen, que permite viajar sem passaporte em grande parte da União Europeia (UE), foi posto em xeque à medida que os refugiados rumavam para as nações europeias mais ricas.
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Desespero no mar
Dezenas de milhares de refugiados também se arriscaram na perigosa jornada pelo Mar Mediterrâneo em barcos superlotados. Em abril de 2015, 800 pessoas de várias nacionalidades se afogaram quando um barco que saiu da Líbia naufragou na costa italiana. Seguiram-se outras tragédias. Até o fim daquele ano, cerca de 4 mil refugiados teriam morrido ao tentar a travessia do norte da África para a Europa.
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Pressão nas fronteiras
Países ao longo da fronteira externa da União Europeia enfrentaram grandes problemas para lidar com o enorme número de pessoas que chegavam. Foram erguidas cercas nas fronteiras da Hungria, da Eslovênia, da Macedônia e da Áustria. As leis de asilo político foram reforçadas, e vários países da área de Schengen introduziram controles temporários nas fronteiras.
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Fechando as portas abertas
A catastrófica situação dos refugiados nos países vizinhos levou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a abrir as fronteiras. Os críticos da "política de portas abertas" de Merkel a acusaram de agravar a situação e encorajar ainda mais pessoas a embarcarem na perigosa viagem à Europa. Em setembro de 2016, também a Alemanha introduziu controles temporários na sua fronteira com a Áustria.
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Acordo com a Turquia
No início de 2016, UE e Turquia assinaram um acordo prevendo que refugiados que chegam à Grécia podem ser enviados de volta para a Turquia. O acordo foi criticado por grupos de direitos humanos. Após o Parlamento Europeu votar pela suspensão temporária das negociações sobre a adesão da Turquia à UE, em novembro de 2016 a Turquia ameaçou abrir as fronteiras para os refugiados em direção à Europa.
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Que perspectivas?
Com o acirramento do clima anti-imigração na Europa, os governos ainda buscam soluções para lidar com a crise de refugiados. As tentativas de introduzir cotas para distribuí-los entre os países da UE em grande parte falharam. Por outro lado, não há indícios de que os conflitos nas regiões de onde eles vêm estejam chegando ao fim, e o número de mortos na travessia pelo mar continua aumentando.