Avalanches de lama causadas pelas chuvas torrenciais já afetam mais de 600 mil pessoas no norte do país. Com pontes e estradas danificadas, governo peruano tem dificuldades para enviar ajuda às áreas mais afetadas.
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O número de mortos devido às inundações no Peru subiu para 75, afirmou o Centro de Operações de Emergências Nacional (Coen) do país andino neste domingo (19/03). Vinte pessoas estão desaparecidas e 263 ficaram feridas.
A maior parte das vítimas é da região norte do país, em Piura, Lambayeque, La Libertad e Áncash, as áreas mais afetadas pela tragédia.
O levantamento reúne dados coletados desde dezembro do ano passado, quando começou a temporada de chuvas, e não inclui outros quatro desaparecidos depois do desabamento de uma ponte sobre o rio Virú.
A destruição da estrutura impede que o governo ajude essas regiões através da estrada Pan-Americana Norte, que percorre a costa peruana desde Lima até o Equador.
Peruana escapa de avalanche de lama
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As enchentes já afetaram mais de 600 mil pessoas e mais de 100 mil residências. Escolas e postos de saúde também foram atingidos pela força das avalanches de lama, chamadas pelos locais de huaycos.
Falta de água
Em Trujillo, a capital de La Libertad, mais da metade da população está há dois dias sem fornecimento de água potável devido à ruptura do principal canal de abastecimento.
Os números são alarmantes. Dois mil quilômetros de estradas foram danificados, e quase nove mil hectares de plantações foram perdidos. O governo estima que 70 mil peruanos tenham perdido tudo.
Neste domingo, o Ministério dos Transporte e Comunicações do Peru autorizou embarcações pesqueiras a transportar, desde Lima, produtos de primeira necessidade aos portos das zonas mais afetadas. Partes da capital peruana também sofrem com a falta de água.
As chuvas se devem ao fenômeno climático El Niño, que aqueceu a superfície do litoral peruano, provocando intensas chuvas na costa desértica do país. Metereologistas preveem mais chuvas para os próximos dias.
KG/efe/afp
A tragédia de Mariana, um ano depois
O retrato dos vilarejos inundados pela lama da mineração. Num cenário de devastação, moradores ainda resistem à tragédia e esperam compensação da empresa responsável pelo maior desastre ambiental ocorrido no Brasil.
Foto: DW/N. Pontes
Fundão esvaziada
Vista da antiga barragem de Fundão, em uso desde 2009 pela mineradora Samarco,
controlada pela Vale e BHP Billiton. O local foi escolhido pela empresa em 2005 para armazenar resíduos, já que a barragem de Germano estava perto de atingir a
capacidade total. Segundo o Ministério Público, mais de 40 milhões de
metros cúbicos de rejeitos vazaram após o colapso, em 5 de novembro de
2015.
Foto: DW/N. Pontes
Ponto do rompimento
Ponto exato onde a estrutura que barrava os rejeitos armazenados em Fundão se rompeu. Segundo relatório que avalia as causas do desastre, às 14h funcionários no escritório sentiram um forte tremor. Às 15h45, gritos de trabalhadores foram ouvidos no rádio, alertando que a barragem havia entrado em colapso. Dezenove pessoas morreram. Problemas na estrutura já haviam sido registrados.
Foto: DW/N. Pontes
Nova Santarém
Construção de estrutura para reforçar a barragem de Santarém, já existente. Com capacidade para 7,1 milhões de metros cúbicos, a barragem armazenava apenas água que era reutilizada no processo de mineração. Desde o rompimento de Fundão, Santarém está lotada de rejeitos, que transbordaram e destruíram vegetação, rios e casas até chegarem ao oceano Atlântico, no Espírito Santo.
Foto: DW/N. Pontes
Vale de lama
Planície onde ficava Bento Rodrigues, distrito de Mariana mais próximo
à barragem de Fundão. Área só pode ser acessada com autorização da
Samarco ou da Defesa Civil. As 206 famílias que residiam no local hoje
moram em casas alugadas pela empresa no centro da cidade. Para
antigos moradores, a maioria só sobreviveu porque a comunidade era
unida e todos se ajudaram na fuga.
Foto: DW/N. Pontes
Dique S4
Obras de construção do dique S4, em Bento Rodrigues. Estrutura terá capacidade para armazenar 1,05 milhão de metros cúbicos e deve ser finalizada em janeiro de 2017. Dique integra sistema de retenção de sedimentos, composto pelos diques S1, S2 e S3, já implantados. Depois de pronto, o S4 vai alagar parte de Bento Rodrigues, mas ruínas importantes do vilarejo serão poupadas, afirma a mineradora.
Foto: DW/N. Pontes
Ruínas da capela
Desde que o acesso foi restabelecido, arqueólogos trabalham no local para recuperar peças históricas. Duas mil foram encontradas até agora e encaminhadas para restauração. A única parte da igreja São Bento que resistiu à avalanche de lama foi a estrutura baixa. Para restaurá-la, profissionais adotaram os mesmos procedimentos feitos em escavações arqueológicas.
Foto: DW/N. Pontes
À espera do Novo Bento
A foto mostra parte da estrutura de uma casa em Bento Rodrigues, um ano após a tragédia. Comunidade será construída em novo local, conhecido como Lavoura. O terreno, de 350 hectares, está localizado a nove quilômetros do antigo distrito. Entrega está programada apenas para março de 2019. Moradores estão em fase de contratação de uma consultoria independente, que deve acompanhar todo o processo.
Foto: DW/N. Pontes
Protesto de sobreviventes
Nas paredes que ainda estão de pé, sobreviventes deixaram mensagens de protesto contra mineradora Samarco. Acesso ao local continua impedido, devido às obras de construção do dique S4 e por causa de furtos de objetos pessoais e de materiais que não foram levados pela onda de rejeitos, como portas e janelas. O distrito foi fundado há mais de 200 anos e ficava a 35 quilômetros do centro de Mariana.
Foto: DW/N. Pontes
Ritmo de recuperação
Ribeirão do Carmo, próximo à comunidade de Paracatu de Baixo, uma das áreas atingidas pelos rejeitos que vazaram de Fundão. A última vistoria técnica do Ibama concluiu que a semeadura, que é o plantio de gramínea e leguminosas às margens dos rios para ajudar a conter os rejeitos, tem muitos problemas e precisa ser refeita em 90% dos locais.
Foto: DW/N. Pontes
Horta sobre a lama
Antônio Geraldo de Oliveira, 63 anos, nasceu na comunidade de Paracatu de Baixo e se recusa a deixar o local. Ele perdeu o contato com a esposa e filhos, que se mudaram para o centro de Mariana após o desastre. O produtor rural removeu sozinho a lama que encobriu seu terreno e plantou uma horta. Ao fundo, é possível ver os rejeitos, que tomaram a área de um antigo canavial.
Foto: DW/N. Pontes
Deserto
Nas ruas do antigo vilarejo de Paracatu de Baixo, onde viviam 103 famílias, ainda circulam alguns animais abandonados. Dentre os moradores que decidiram ficar estão apenas homens. A maioria perdeu o contato com a família depois da tragédia. O novo vilarejo será construído no distrito de Monsenhor Horta. A expectativa é que o projeto urbanístico seja concluído até o fim do ano.