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"Invasão da Ucrânia saiu pela culatra", diz ex-chefe da CIA

Natalie Müller
6 de maio de 2022

À DW, general aposentado David Petraeus diz que, com guerra contra o país vizinho, Rússia tornou a Otan mais forte. Para ele, é improvável que Putin planeje usar armas nucleares ou químicas.

David Petraeus
Petraeus teve papel de destaque na área militar e de inteligência em vários governos dos EUAFoto: DW

O ex-diretor da CIA David Petraeus afirma que os "esforços do presidente russo, Vladimir Putin, para tornar a Rússia grande novamente" por meio da invasão da Ucrânia foram "um tiro pela culatra".

Em entrevista à DW, o general aposentado do Exército dos EUA avalia que as forças russas foram malsucedidas "em praticamente todas as áreas concebíveis" desde que a guerra começou, em 24 de fevereiro.

"Para começar, eles não tinham um plano de campanha competente. Eles atacaram em cinco ou seis locais diferentes. A logística deles se mostrou absolutamente abismal. O nível de treinamento dos soldados e dos líderes em escalões inferiores é claramente inadequado", critica.

Depois de não conseguir capturar nenhuma das principais cidades da Ucrânia, o governo de Moscou foi forçado a recuar do território ao redor de Kiev e se concentrar novamente nas regiões separatistas do leste. Embora grande parte do porto estratégico de Mariupol, ao sul, esteja sob controle russo, um último bolsão de resistência tem se mantido na cidade, na siderúrgica Azovstal.

A Otan pode crescer

Por causa da invasão, os EUA, países da União Europeia (UE) e outras nações impuseram sanções a Moscou e aumentaram o investimento em defesa. Suécia e Finlândia estão considerando ingressar na Otan, o que levaria a aliança militar a ter 32 membros. A decisão deve ser tomada ainda neste mês.

"Outra consequência do esforço de Putin para tornar a Rússia grande novamente saiu pela culatra e está servindo para tornar a Otan grande novamente", afirma Petraeus, lembrando que a aliança sofreu pressão considerável durante a presidência de Donald Trump.

Moscou alertou para "sérias consequências" e afirmou que poderia implantar armas nucleares no enclave europeu de Kaliningrado se a Suécia e a Finlândia decidirem aderir à Otan. Petraeus diz ser necessário se preocupar com uma possível resposta da Rússia, mas também chama a atenção para a qualidade das tropas da aliança militar ocidental.

"Em primeiro lugar, essas são forças muito competentes. Trabalharam para mim no Afeganistão. Foram muito competentes, muito profissionais, muito bem equipadas. E trabalharam muito bem com as forças internacionais."

"Alemanha tomou decisões extraordinárias"

Após o início da guerra, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, anunciou 100 bilhões de euros (R$ 532 bilhões) em financiamento para a Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) e se comprometeu a aumentar os gastos militares para mais de 2% do PIB.

"Deixe-me apenas observar o quão extraordinárias foram as decisões tomadas por um chanceler relativamente novo e um novo governo", diz Petraeus, chamando o aumento de verbas para a Bundeswehr de "compromisso muito sábio".

Ele também avalia como "muito significativa" a decisão de Berlim "de fornecer suprimentos militares letais e sistemas de armas para outro país pela primeira vez na história da Alemanha pós-Segunda Guerra Mundial".

Petraeus estava no comando da maior missão da Otan da qual a Alemanha já participou no Afeganistão. Ele também foi uma personalidade de destaque da área militar e de inteligência em vários governos dos EUA que tentavam, apenas com sucesso muito moderado, incentivar a Alemanha a aumentar seus gastos militares e considerar um papel militar mais ativo no século 21.

A Alemanha, que tem enfrentado críticas por demorar a apoiar Kiev com armas, aprovou na semana passada o envio de armas pesadas para a Ucrânia. O país deve enviar obuses, além de tanques antiaéreos Gepard e outros equipamentos que já concordou em fornecer à Ucrânia.

Planos de Moscou para o Dia da Vitória

Petraeus também comenta as previsões de que Moscou pode estar planejando declarar uma vitória ou uma expansão da guerra em 9 de maio, o chamado Dia da Vitória, um grande feriado russo que marca o triunfo da União Soviética sobre a Alemanha nazista.

"Há relatos de que os russos, no mínimo, estão considerando algum tipo de anúncio de mobilização geral, na qual o país sairia de uma 'operação militar especial', como eles chamam, para conduzir a Terceira Guerra Mundial, ou algo parecido, para tentar galvanizar o apoio popular russo", destaca Petraeus.

Ele acredita ser improvável que Putin planeje usar armas nucleares ou químicas. Petraeus também expressa dúvidas sobre a teoria de que a Rússia pode usar o 9 de Maio para um ataque ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. "Você nunca pode tirar nada da mesa quando se trata de Vladimir Putin. Mas, novamente, não acho que isso seja muito provável", frisa.

A ONU diz ter registrado 3.200 mortes de civis na guerra até agora e alerta que o número real provavelmente ée= consideravelmente maior. O Ocidente acusa a Rússia de cometer crimes de guerra, algo que Moscou nega.

Ao responder a uma pergunta sobre se o Ocidente deveria apoiar as negociações de trégua com Putin depois de acusá-lo de atrocidades, Petraeus diz que isso é algo para ser decidido pela liderança da Ucrânia.

"Devemos seguir a liderança do presidente Zelenski, e se ele e seu povo estiverem dispostos a negociar, então claramente acho que seria a hora de colaborarmos com ele nisso", sublinha. "Afinal, é o país dele que está sofrendo com o poder destrutivo da Rússia."

Ele também diz ser importante ter em mente que Vladimir Putin quer negociar, não necessariamente por causa das perdas militares russas no campo de batalha, mas na esperança de alívio das sanções sobre sua economia, sistema financeiro e pessoas de seu entorno e pelo preço sendo pago pela comunidade empresarial.

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A entrevista foi conduzida por Ines Pohl, correspondente da DW em Washington.

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