Investimentos
10 de março de 2011Até recentemente, administradores financeiros pareciam aficionados nos atraentes mercados emergentes. Desde o início do ano, no entanto, e agravado pelas reviravoltas no mundo árabe, este comportamento vem mudando.
Maria Laura Lanzeni, analista do DB Research, departamento de pesquisas do banco alemão Deutsche Bank, afirma que investidores internacionais começaram a retirar seu capital de muitas economias emergentes, mesmo das que não têm relação com o mundo árabe.
"Acredito que este seja um problema estrutural de alguns grupos de investidores que aplicam recursos em economias emergentes", disse Maria Laura à Deutsche Welle. "Muitos destes grupos novos pouco conheciam da economia desses países", acrescentou.
Mas o problema vai além dos investidores cuja decisão de injetar recursos em economias emergentes baseou-se puramente na perspectiva de alto retorno, acredita Lanzeni.
A tendência hoje é investir em um grupo de economias emergentes identificadas como "Próximos 11" – que inclui, entre outros, Egito, Coreia do Sul, México e Turquia. Quando agitações políticas no Egito levaram investidores a transferir seu capital para mercados mais seguros, em janeiro passado, os outros 10 membros do grupo também foram afetados.
Já Robert Halver, do alemão Baader Bank, não considera as agitações no Oriente Médio um risco sério ao mercado de ações em economias emergentes. Para ele, o problema se agravaria se houvesse uma limitação no abastecimento de petróleo.
Temor da inflação
Outro fator que induziu à retirada de 10 bilhões de euros de países emergentes em fevereiro foi o crescimento do temor de inflação. "Nos últimos 18 meses, a inflação se tornou um problema, devido à questão dos preços dos alimentos" , afirma Christian Preussner da corretora JP Morgan Asset Management.
Em comparação, matérias-primas, bens imóveis e outros produtos de consumo estiveram sujeitos a uma pressão nos preços significativamente menor. De acordo com Preussner, secas em países emergentes, a consequente queda nas exportações e o aumento nas importações pioraram a situação.
Robert Halver atribui a responsabilidade ao Banco Central norte-americano (Federal Reserve), cujo programa de "tranquilidade quantitativa" abarrotou os mercados com dinheiro, estimulando a especulação sobre alimentos e matérias-primas.
Países como o Brasil, a Indonésia, a Índia e a China perceberam o problema da inflação e aumentaram as taxas de juros. "Enquanto isso, os Estados Unidos deixam a inflação correr", destaca Halver. "E a inflação é sempre uma boa maneira de reduzir a dívida estatal". Já as altas taxas de juros em países emergentes são um risco para seus mercados de ações.
Desenvolvidos superam expectativas
Não só os baixos juros dos países industrializados, mas também programas de estímulo conjuntural fizeram com que os mercados de ações das economias industrializadas voltassem a se tornar atraentes. O crescimento econômico nos Estados Unidos e na Alemanha – esta a maior economia da União Europeia – superou as expectativas pós-recessão.
A confiança dos consumidores também está aumentando, mais uma razão para que mercados de ações nas economias dos industrializados tenham voltado a ficar interessantes para os investidores.
Por isso, a MSCI World Index, que apura índices no mercado global de ações, registrou um crescimento de 4% desde o começo do ano. Já o MSCI que reflete o desenvolvimento do mercado de ações em países emergentes mostrou uma perda de 5%.
Para tornar a situação ainda mais difícil aos emergentes, muitos investidores perceberam que podem aplicar em empresas negociadas nos mercados de ações dos EUA e da Europa, e ainda se beneficiar com seus ganhos em várias partes do mundo.
Ainda que a publicidade acerca das economias emergentes tenha sido reduzida, a analista do Deutsche Bank afirma não estar preocupada com algo similar à crise na Ásia em 1997.
Naquela época, a moeda da Tailândia entrou em colapso e gerou uma crise econômica e monetária primeiramente na Ásia. Uma reação em cadeia levou à queda no preço do petróleo e atingiu a economia russa. Alguns países sul-americanos chegaram perto da insolvência, porque os investidores passaram a retirar grandes quantias de capital.
Hoje, porém, "os países acumulam enormes reservas de câmbio e possuem uma estrutura fiscal muito melhor no tocante às suas dívidas externas", completa Lanzeni.
Autora: Jutta Wasserrab (msa)
Revisão: Roselaine Wandscheer