Investigação foca em detalhes para identificar algoz de James Foley
27 de agosto de 2014Segundo a imprensa britânica, o assassino de James Foley já foi descoberto: um ex-rapper britânico, de origem egípcia, teria sido o responsável por decapitar o jornalista americano na Síria, na semana passada.
Os jornais dizem tratar-se de Abdel-Majed Abdel Bary, que teria se radicalizado, se mudado para a Síria e postado há alguns meses uma foto ao lado de uma cabeça no Twitter. Fontes oficiais ainda não confirmaram as informações, mas o embaixador britânico nos Estados Unidos, Peter Westmacott, admitiu, em entrevista à CNN, que os investigadores estão próximos de anunciar o nome do assassino.
O pai do suposto assassino de Foley, o egípcio Abdel Abdul Bary, é acusado pelos bombardeios das embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, que mataram 224 pessoas em 1998.
O ataque havia sido ordenado pelo então líder da Al Qaeda, Osama bin Laden. Abdel Abdul Bary pai está preso em Nova York, e o início de seu julgamento está marcado para 3 de novembro. A imprensa britânica especula ainda que a confirmação de Abdel-Majed como sendo o assassino de Foley trará complicações para o processo judicial do próprio pai.
Sotaque entrega origem
Embora o assassino de Foley apareça completamente mascarado no vídeo divulgado pelo "Estado Islâmico" (EI), existem detalhes úteis para os investigadores determinarem a origem e identidade dele. A principal pista é o áudio do vídeo: nele é possível ouvir a voz do assassino, que dissemina a propaganda islâmica em um inconfundível sotaque britânico.
John O'Reagan, linguista do Instituto de Educação da Universidade de Londres, consegue, inclusive, precisar ainda mais a origem do suspeito. O sotaque no vídeo é o inglês multicultural de Londres. De acordo com o especialista, o agressor procura se expressar de maneira formal e elegante, e toma a precaução em pronunciar as letras P e Q com exatidão.
A voz entrega ainda mais: "Durante a fala, todo mundo carrega certas características devido a sua mandíbula", diz Paul Elmar Jöris, especialista em terrorismo da emissora alemã ARD. "Essas características não podem ser alteradas, e existem equipamentos específicos que podem criar uma representação gráfica. Ao ter esse padrão, pode-se começar com a comparação de outras amostras coletadas", explica Jöris.
Agências como o FBI ou o Serviço Secreto Britânico – que investigam o caso Foley – podem utilizar outros vídeos publicados na internet ou gravações telefônicas para reduzir a lista de suspeitos. Por fim, testemunhas e pessoas do círculo de convivência do suspeito seriam questionados.
"Fazemos uma 'justaposição acústica' para termos uma certeza e dizer: 'Sim, este é o nosso homem'", explica Jöris, sobre o método de investigação. Ainda segundo a imprensa britânica, ex-reféns dos radicais islâmicos teriam reconhecido a voz. Ela é compatível com um de seus guardas, e eles também presumem uma origem britânica.
Análise detalhada de imagens
Mas não apenas a voz dá indícios sobre a possível identidade do criminoso. No vídeo de Foley é possível ver os olhos do assassino pela fenda de seu capuz, que se assemelha a uma balaclava. "É factível medir com exatidão a distância entre os dois olhos", diz Jöris.
Os investigadores, portanto, aproveitam todas as informações que possam ser coletadas apesar do disfarce: altura, porte e até mesmo a progressão das veias visíveis na parte externa da mão do homem. Importante também é que os investigadores tenham fotografias para comparações.
Porém, em tempos de redes sociais, este é aparentemente o menor dos obstáculos. A maioria dos jovens combatentes do "Estado Islâmico" possui contas no Facebook ou no Twitter. Muitos continuam postando das zonas de guerra e se gabam de seus crimes.
Peter Neumann, especialista em extremismo do King's College de Londres, acredita que os jovens infratores nem poderiam agir de maneira diferente. "Eles estão muito enraizados à cultura online", argumenta. "Muitos não conseguem deixar o hábito de postar fotos na internet."
Rastros na internet
Mesmo aqueles que não estão registrados com seus nomes verdadeiros nas redes sociais revelam bastante sobre as suas origens e seus círculos de amizades. De acordo com Neumann, extremistas islâmicos que decapitam pessoas também comentam na internet sobre os seus clubes de futebol preferidos, por exemplo.
A internet desempenha ainda outro papel importante na perseguição de criminosos. Especialistas em informática tentam descobrir a origem – o local – de onde os vídeos foram postados.
A aparentemente paisagem neutra de um deserto no fundo da imagem pode ser comparada com dados geológicos. Até mesmo ruídos do ambiente podem ser úteis para os investigadores mapear a região.
A tecnologia desempenha um papel-chave, mas igualmente importante é também o inquérito de testemunhas pela polícia. No Reino Unido, muitos clérigos muçulmanos condenaram o assassinato do jornalista americano e pediram a todos que conhecem o agressor que entrassem em contato com as autoridades competentes. Dessa forma, o trabalho policial tradicional pode levar ao assassino de James Foley.