Investigadores da ONU acusam Rússia de crimes de guerra
23 de setembro de 2022
Em quatro regiões ucranianas antes ocupadas pela Rússia, comissão da ONU afirma ter encontrado evidências de execuções, tortura e violência sexual, além de bombardeios em áreas civis. Crianças estariam entre as vítimas.
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A Comissão de Inquérito do Conselho de Direitos Humanos da ONU informou nesta sexta-feira (23/09) que seus investigadores encontraram provas de crimes de guerra cometidos por forças russas na Ucrânia.
"Com base em provas recolhidas pela comissão, concluímos que crimes de guerra foram cometidos na Ucrânia", afirmou Erik Mose, que presidiu as investigações.
A comissão foi criada em maio para investigar alegações de crimes de guerra cometidos após a invasão russa da Ucrânia, que teve início em 24 de fevereiro. Até o momento, os trabalhos se concentram em quatro regiões: Kiev, Kharkiv, Sumy e Tchernihiv.
"Ficamos estarrecidos com o grande número de execuções nas áreas que visitamos. A comissão investiga atualmente mortes desse tipo em 16 cidades e vilarejos", explicou Mose.
"É claro que se trata de um incidente mais recente, mas certamente pretendemos observar o ocorrido em Izium também", afirmou, em referência à cidade onde centenas de corpos foram encontrados em supostas valas comuns, o que Moscou ainda nega.
Autoridades ucranianas afirmam que 436 corpos foram exumados em um local próximo à cidade, recentemente reconquistada pelas tropas de Kiev.
"A maior parte tem sinais de morte violenta, e 30 corpos têm sinais de tortura. Há corpos com cordas nos pescoços, mãos amarradas, membros quebrados e ferimentos à bala", disse o governador da região de Kharkiv, Oleg Synegubov.
Ao ser questionado se também foram cometidos crimes contra a humanidade, Mose disse que a comissão ainda não chegou a uma conclusão.
Como se deram as investigações?
Os investigadores da ONU conversaram com mais de 150 vítimas e testemunhas e visitaram 27 cidades e vilarejos, onde examinaram covas e centros de detenção e tortura, supostamente utilizados pelas forças invasoras.
A equipe também investigou dois casos de maus tratos de cidadãos russos por soldados ucranianos.
"Amanhã [24/09] fará sete meses desde o início das hostilidades na Ucrânia. Estamos preocupados com o sofrimento que o conflito armado internacional na Ucrânia causou à população civil", afirma a comissão em comunicado.
"Isso é ilustrado por dados atualizados regularmente pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), referentes às mortes e ferimentos, e pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), no que diz respeito aos refugiados e pessoas forçadas a se deslocarem internamente", diz a nota. "A descoberta recente de novas valas demostra a gravidade da situação."
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O que foi descoberto?
O relatório da comissão destaca diversas áreas onde atividades russas foram particularmente nocivas, incluindo ataques indiscriminados em áreas civis, execuções, tortura e violência sexual e de gênero.
Os investigadores relatam que o "uso de armas explosivas de amplo alcance em áreas povoadas é fonte de danos e sofrimentos enormes para os civis".
Além disso, uma variedade de ataques ocorreram "sem distinguir entre civis e combatentes", incluindo o uso de "munições de fragmentação ou sistemas de lançadores múltiplos de foguetes, assim como ataques aéreos em áreas povoadas".
O texto menciona 16 cidades e vilarejos onde estão em andamento investigações sobre execuções com "alegações verossímeis" em muitos mais casos.
Houve "testemunhos consistentes de maus tratos e tortura" colhidos de vítimas ucranianas, algumas das quais disseram ter sido levadas para centros de detenção na Rússia, onde permaneceram durante semanas. Outras vítimas foram dadas como desaparecidas.
Crimes contra crianças
A comissão também apresentou relatos de espancamentos, choques elétricos e nudez forçada de prisioneiros nos centros de detenção russos.
Mose disse que também foram encontradas provas de um número não divulgado de soldados russos que cometeram crimes sexuais ou violência de gênero. As vítimas tinham entre 4 e 82 anos de idade.
A Comissão de Inquérito do Conselho de Direitos Humanos da ONU documentou casos nos quais crianças foram estupradas, torturadas ou confinadas ilegalmente.
rc/lf (AP, AFP, Reuters)
Instantâneos de uma Ucrânia em guerra
Mostra "O novo anormal", no Museu Deichtorhallen de Hamburgo, registra horrores da guerra, mas também a resistência dos ucranianos, em trabalhos de 12 fotógrafos do país sob invasão russa.
Foto: Oksana Parafeniuk
Civis treinam com armas de madeira
Nesta imagem feita perto de Kiev em 6 de fevereiro de 2022, menos de duas semanas antes da invasão russa, a fotógrafa Oksana Parafeniuk capturou a determinação de seus compatriotas de resistir. Embora os países ocidentais não esperassem que a Rússia atacasse a capital a Ucrânia, os civis de lá já estavam treinando com armas de madeira, para caso de emergência.
Foto: Oksana Parafeniuk
Resistindo com o país
Em 24 de fevereiro, o fotógrafo Mykhaylo Palinchak acordou em Kiev com o som de sirenes, pouco depois ouviu uma explosão. "Desde então, estamos vivendo num novo mundo", afirma. Suas fotografias mostram granadas, casas destruídas e como seus compatriotas defendem a nação, mais do que nunca. A mulher da foto exibe o pulso esquerdo tatuado com o mapa da Ucrânia.
Foto: Mykhaylo Palinchak
Começou às 5 da manhã
"A guerra é a pior das opções da humanidade. Nenhum filme, nenhum livro, nenhuma foto pode transmitir este horror", diz a fotógrafa Lisa Bukreieva. "Com a invasão dos russos, meu sentido de tempo mudou. É apenas um horror de longa
duração." Esta fotografia capta o momento em que a guerra começou para ela.
Foto: Lisa Bukreieva
Cidadãos de Kiev - parte 1
Depois da invasão da Ucrânia pelo exército russo, Kiev se transformou em outra cidade, relata Alexander Chekmenev, de 52 anos. Muitos fugiram, ele próprio enviou a família para a segurança no exterior, mas ficou no país para documentar com sua Pentax a vida dos cidadãos de Kiev em tempos de guerra. Como esta ucraniana em uniforme de combate.
Foto: Alexander Chekmenev
Cidadãos de Kiev - parte 2
Abrigos antiaéreos e centros de primeiros-socorros espalharam-se pela capital ucraniana. Lá, Chekmenev fotografou gente comum, que nunca esteve sob os holofotes: "Eu queria mostrar a dignidade deles. Este país pertence ao seu povo, e eu quero mostrar o meu respeito por cada um deles", diz o fotógrafo de renome internacional.
Foto: Alexander Chekmenev
Traços do presente
Em sua série de fotografias, Pavlo Dorohoi capturou a vida em tempos de guerra em sua cidade natal, Kharkiv. Muitos cidadãos se esconderam em estações do metrô para escapar das bombas, transformando os locais em lares temporários, com "tapetes, cobertores e outros objetos pessoais", relata Dorohoi.
Foto: Pavlo Dorohoi
Bucha: o local do horror
O arquiteto e fotógrafo de Kiev Nazar Furyk fotografou lugares devastados pelas tropas russas, entres os quais a cidade de Bucha, que se tornou símbolo de muitas atrocidades. O fotógrafo se pergunta: como é possível continuar vivendo num lugar assim? Como se lida com essa experiência, gravada profundamente na memória coletiva da população ucraniana?
Foto: Nazar Furyk
Diário de Kiev - parte 1
A fotógrafa e videoartista Mila Teshaieva mantém um diário online desde o início da guerra, onde registrou tudo: desde os primeiros dias, antes dos mísseis, até os crimes contra a humanidade revelados desde então. Seus registros também incluem fotos, como esta.
Foto: Mila Teshaieva
Diário de Kiev - parte 2
Mila Teshaieva relata o desespero que a guerra provoca, mas também registra a união dos ucranianos e sua enorme vontade de resistir. Em sua cidade natal, Kiev, os moradores estão tentando proteger não só a si, mas também seus monumentos, símbolos da identidade nacional.
Foto: Mila Teshaieva
Documentação da guerra
Vladyslav Krasnoshchok é dentista, mas há anos se dedica à arte. Agora viaja por sua pátria devastada e fotografa carros queimados, pontes e tanques destruídos. "Eu tiro fotos, ouço tiros e corro de volta para o carro. Adrenalina pura!", escreve. Ele sempre revela os filmes imediatamente. Afinal, não se sabe se haverá oportunidade de tirar mais fotos.
Foto: Vladyslav Krasnoshchok
Mutilado
"Vivendo com o medo de ser ferido" é o nome da série de fotos do designer Sasha Kurmaz. A violência tem feito parte da história humana desde o início, afirma, e não está otimista se isso vá mudar em breve. Ainda assim, não desiste de sua luta pessoal por um mundo melhor.
Foto: Sasha Kurmaz
Porto seguro?
Uma cadeira, copos com bebidas: para Elena Subach esta foto tirada na cidade de Uzhgorod, no oeste da Ucrânia, simboliza a segurança de quem foge rumo a outros países. "Quase todo homem tirou uma foto da esposa e dos filhos antes de lhes dizer adeus. Eu nunca vi tanto amor e tanta dor ao mesmo tempo."