Agência BEA divulga relatório detalhado sobre queda do Airbus da Germanwings nos Alpes franceses. Autoridades pedem suspensão do sigilo médico para pilotos que sofrem de transtornos mentais.
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Investigadores franceses pediram neste domingo (13/03) medidas regulatórias mais claras com vista à confidencialidade médica do histórico de saúde mental de pilotos, depois de terem revelado que um médico encaminhou o copiloto da Germanwings Andreas Lubitz para um hospital psiquiátrico duas semanas antes da queda da aeronave da companhia aérea alemã Germanwings há quase um ano.
A análise da caixa-preta indicou que o piloto do voo 4U-9525 foi deliberadamente trancado do lado de fora da cabine, e o copiloto pressionou o botão que lançou o avião contra as montanhas alpinas.
De acordo com o relatório divulgado pela agência francesa de investigação da aviação civil BEA, diversos médicos que trataram o copiloto da Germanwings não informaram as autoridades sobre o ressurgimento de problemas de saúde mental, devido aos graves regulamentos de sigilo médico.
Como Lubitz não informou ninguém sobre as recomendações dos médicos, "nenhuma ação poderia ter sido tomado pelas autoridades ou seus empregados para impedi-lo de voar", afirmou a BEA.
Relatórios anteriores mostram que Lubitz sofria de uma grave depressão e pensamentos suicidas. Numa reportagem publicada pelo jornal alemão Bild, o copiloto da Germanwings reclamava de solidão e problemas de sono após se mudar em 2008 para Bremen, onde ele iniciou seu treinamento de piloto junto à Lufthansa.
"Comprometer-me com um tratamento psiquiátrico, depressão grave, sonho de finalizar a formação de piloto", escreveu Lubitz supostamente em seu diário.
"Ato ilegal e voluntário"
Reiterando resultados semelhantes a que chegou a BEA em maio de 2015, os investigadores disseram que Lubitz cometeu um "ato ilegal e voluntário" ao ter "ajustado intencionalmente" o nível de altitude do Airbus 320, aproximando-o de zero para possibilitar uma colisão com o solo.
"A informação inicial da investigação mostra que, durante a fase de cruzeiro, o copiloto estava sozinho no cockpit. Ele então modificou intencionalmente a instrução do piloto automático para fazer o avião descer até colidir com o terreno", afirmou o relatório.
"Ele não abriu a porta do cockpit durante a descida, apesar dos pedidos de acesso feitos através do teclado, do interfone da cabine e de batidas na porta", acrescentou o relatório.
As ações deliberadas de Lubitz no dia 24 de março de 2015 levaram a aeronave a cair perto do vilarejo francês de Le Vernet, matando todas as 150 pessoas a bordo.
Cronologia do desastre do voo 4U-9525
Airbus A320 da Germanwings caiu nos Alpes franceses 40 minutos após decolar de Barcelona, numa tragédia que investigadores tratam como um ato deliberado do copiloto. Uma cronologia com base nas primeiras investigações.
Foto: D. Bois/AFP/Getty Images
Decolagem com atraso
O voo 4U-9525, da companhia aérea alemã Germanwings, decola do aeroporto de Barcelona por volta das 10h00 (horário local), de 24 de março de 2015, com cerca de 20 minutos de atraso. O Airbus A320-211, com 24 anos de uso, deveria chegar às 11h55 em Düsseldorf. Havia 150 pessoas a bordo, a maioria delas alemães e espanhóis.
Foto: picture-alliance/dpa/Ole Spata
Vinte minutos sem problemas
Durante os 20 primeiros minutos, o voo é normal. O ambiente entre piloto, copiloto e tripulação foi descrito pelos investigadores franceses, com base no áudio de uma das caixas-pretas, como descontraído e relaxado.
Foto: picture-alliance/dpa/Ole Spata
Voo de cruzeiro
Às 10h20, o avião da Germanwings alcança a altitude de cruzeiro, de 38 mil pés (11,5 quilômetros). É a fase na qual a aeronave viaja de forma reta e nivelada, na velocidade máxima que pode atingir de modo a consumir o mínimo de combustível possível.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Vennenbernd
Último contato
Às 10h30, o avião faz o último contato com o controle aéreo. Um dos pilotos diz: "Direção IRMAR. Obrigado, 18G." A sigla é uma indicação de que a cabine recebeu dos controladores a autorização para prosseguir a rota direta até "IRMAR", próximo ponto em que o A320 deveria fazer contato. Já 18G é a abreviatura do indicador de rádio do voo.
Foto: picture-alliance/dpa/Airbus_Industrie
Piloto trancado fora da cabine
Às 10h31 o avião começa a perder altitude, quando deveria manter-se em fase de cruzeiro. Na cabine fechada, estava apenas o copiloto Andreas Lubitz, de 28 anos. A caixa-preta registra chamadas de interfone, em que o piloto se identifica tentando entrar, mas sem receber qualquer resposta. Captada pelos microfones, a respiração de Lubitz é normal.
Foto: Reuters/L. Foeger
Copiloto em silêncio
Às 10h35, a agência de aviação civil francesa lança um sinal de alerta, ao perceber a perda de altitude contínua da aeronave. Um caça Mirage 2000 decola da base militar de Orange para alcançar o voo da Germanwings. Durante cerca de cinco minutos, o piloto golpeia a porta da cabine, de forma cada vez mais violenta, na tentativa de entrar. O copiloto (foto) se mantém em silêncio.
Foto: picture alliance/AP Photo
Desespero de passageiros
O transponder do A320, que envia automaticamente informações sobre sua localização, para de emitir sinais às 10h40. A caixa-preta registra a ativação do sistema de alerta sonoro do avião, que indica impacto imediato. Nos instantes finais, passageiros começam a gritar.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Christiansen
Queda nas montanhas
Cerca de 40 minutos após decolar, o A320 se choca contra o maciço de Trois Evêchés, numa zona não habitada dos Alpes franceses. Todos os 144 passageiros e seis tripulantes morrem, num dos maiores desastres aéreos da história na Europa. Entre os mortos, estão pessoas de 15 nacionalidades, incluindo 16 adolescentes da mesma escola de uma pequena cidade no oeste da Alemanha.