Investir em cultura dá prestígio
15 de maio de 2003Quem afirma preferir investir num evento cultural a dar dinheiro para o pessoal encher a cara com cerveja na comemoração do final de uma obra é Hugo Gensler, da diretoria da HVB Immobilien, uma subsidiária do HypoVereinsbank, o segundo maior banco da Alemanha. "Claro que precisamos economizar, mas arte recompensa. Penso que são investimentos duradouros", argumenta.
Como exemplos do engajamento de sua empresa, Gensler cita uma garagem subterrânea em Potsdam que, antes de ser liberada para sua finalidade, foi palco de uma instalação de som e luz, tendo atraído muitos visitantes; bem como um prédio de escritórios ainda não concluído, em Stuttgart, que serviu temporariamente para apresentações de balé.
Cultura e política empresarial
São múltiplos os exemplos desse tipo. Um dos mais atuais é o financiamento da reconstrução da chamada "oitava maravilha do mundo", a lendária sala de âmbar, que vai ser inaugurada no final deste mês em São Petersburgo pelo chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. A Ruhrgas patrocinou o projeto com 3,5 milhões de dólares.
Poucos países dispõem de uma oferta cultural tão ampla e diferenciada como a Alemanha. Teatros, óperas, museus, casas de concerto, festivais — a vida cultural não se concentra em determinados centros metropolitanos, mas floresce tradicionalmente por todo o território graças, sobretudo, às subvenções dos cofres públicos. Estas, porém, estão se tornando mais escassas nestes tempos de vacas magras.
Mas a grande maioria das empresas também investe em arte e cultura, e os recursos destinados a essa finalidade, em geral, têm se mantido estáveis, a despeito da crise que afeta a economia do país. Claro que se tornou mais difícil conseguir novos fundos, admite Susanne Litzel, diretora da equipe que se ocupa com patrocínio empresarial na Confederação da Indústria Alemã (BDI), em entrevista à agência de notícias ddp. Mas existem também empresas que aumentaram seus investimentos nesse setor. De qualquer forma, "a situação não é dramática", afirma Litzel.
Fator de prestígio
Das multinacionais às firmas de pequeno e médio porte, o argumento utilizado para justificar a utilização de fundos para o financiamento da cultura é quase sempre o mesmo, constatam as câmaras de indústria e comércio em enquetes que realizam: o patrocínio cultural tem um efeito positivo sobre a imagem da empresa, aumentando seu prestígio. Contribui, além disso, para tornar maior a identificação dos funcionários com sua empresa.
As empresas não gostam, porém, de divulgar quanto gastam para promover a arte, o cinema, a música ou o teatro. Os investimentos em patrocínio — sem contar as doações e as atividades de mecenato — são calculados, segundo Litzel, em 350 milhões de euros por ano.