Teerã alega que novas sanções impostas por Washington ferem compromisso assinado com potências internacionais em 2015. Governo iraniano promete reação cuidadosamente estudada.
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As recentes sanções impostas pelos Estados Unidos contra o Irã violam o acordo nuclear de 2015, afirmou Teerã nesta quinta-feira (03/08). O presidente dos EUA, Donald Trump, sancionou na quarta-feira medidas que têm como alvo o programa de mísseis do Irã e violações dos direitos humanos – questões que não foram cobertas no acordo nuclear acertado no governo de Barack Obama.
O acordo fechado em 2015 entre Teerã e o chamado Grupo P5+1 (cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – China, França, Rússia, Reino Unido e EUA – e a Alemanha) amenizou as sanções internacionais contra o Irã em troca de restrições ao programa nuclear iraniano.
"Acreditamos que o acordo nuclear foi violado e reagiremos adequadamente", disse o vice-ministro do Exterior do Irã, Abbas Araghchi, à emissora estatal. "Nós certamente não cairemos na armadilha política dos EUA e de Trump, e nossa reação será cuidadosamente considerada."
Araghchi disse que o Irã elaborou uma lista com 16 medidas, mas não deu maiores detalhes além de afirmar que algumas ações iriam aprimorar as Forças Armadas do país.
As novas sanções dos Estados Unidos incluem penalidades obrigatórias para pessoas envolvidas com o programa de mísseis balísticos do Irã. A lei americana também deve aplicar um embargo de armas e sanções terroristas à elite iraniana e à poderosa Guarda Revolucionária do Irã.
As novas sanções dos EUA foram anunciadas menos de 24 horas antes de o presidente iraniano, Hassan Rouhani, assumir oficialmente seu segundo mandato.
"Nunca aceitaremos o isolamento", disse Rouhani na posse, nesta quarta-feira. "O acordo nuclear é um sinal de boa vontade do Irã perante o cenário internacional." Na semana passada, Rouhani disse que o Irã "tomaria qualquer ação necessária para os interesses do país".
"Pior acordo da história"
Trump afirmou que gostaria de desmantelar o acordo nuclear com o Irã acertado pelo governo Obama. Durante a campanha presidencial, Trump descreveu o acordo entre Teerã e o Grupo P5+1 como "o pior acordo da história".
No entanto, a Casa Branca admitiu em meados de junho que Teerã estava respeitando os termos do acordo assinado em 2015, o que resultou no alívio de sanções contra Teerã em troca de o país limitar sua capacidade de produzir material para construir armas nucleares.
A perspectiva de sanções não nucleares foi levantada pouco depois. Na época, a resposta do Irã foi desafiadora, prometendo "ações recíprocas com altos custos". O chefe da Guarda Revolucionária, general Mohammad Ali Jafari, chegou a afirmar que, caso o ramo militar fosse alvo de sanções, todas as forças dos EUA dentro de mil quilômetros estariam em perigo, aparentemente se referindo ao alcance dos mísseis iranianos.
PV/ap/rtr/afp
Os 11 dias da Revolução Islâmica
No início de 1979, o xá Reza Pahlavi era derrubado no Irã. A Revolução Islâmica transformou a monarquia de até então num Estado religioso liderado por um sacerdote muçulmano. O clímax da revolução em imagens.
Foto: akairan.com
Retorno a Teerã
1º de fevereiro de 1979: O aiatolá Ruhollah Khomeini retorna do exílio em Paris para Teerã. Ele é recebido com júbilo pela população no aeroporto. Durante anos, criticara o xá e sua elite política, pela repressão dos dissidentes; pela "ocidentalização" do Irã – aos olhos de Khomeini, excessiva; e, acima de tudo, por seu estilo de vida dissoluto, de luxo decadente.
Foto: akairan.com
À espera do salvador
Cerca de 4 milhões de iranianos aguardaram para saudar a procissão de veículos que levou Khomeini nesse dia até o cemitério central Behesht-e Zahra, onde ele faria seu discurso de chegada. Há quase um ano ocorriam manifestações de massa quase diárias contra o regime do xá. Desde agosto de 1978, greves gerais organizadas pela oposição paralisavam repetidamente a economia do país.
Foto: Getty Images/Afp/Gabriel Duval
Fora com o xá
O xá Reza Pahlavi já havia deixado o Irã em 16 de janeiro de 1979. Pouco antes, na Conferência de Guadalupe, ele perdera o apoio dos mais importantes governantes ocidentais, que preferiram procurar o diálogo com Khomeini. O então presidente americano, Jimmy Carter, aproveitou a ocasião para convidar o xá aos Estados Unidos, por tempo indeterminado. Ele aceitou.
Foto: fanous.com
Premiê isolado
Antes, o xá nomeara, como primeiro-ministro interino, Shapur Bakhtiar, figura de liderança da oposicionista Frente Nacional. O governante pretendia assim abrandar seus inimigos, mas sem sucesso. Bakhtiar ficou isolado dentro de seu partido por ter sido nomeado pelo xá, enquanto seus correligionários já haviam concordado em só colaborar com Khomeini.
Foto: akairan.com
Declaração de combate no cemitério
Já ao desembarcar em Teerã, o aiatolá declarou que não reconhecia o governo de Shapur Bakhtiar. Ele partiu direto do aeroporto para o cemitério central, onde fez um discurso beligerante, negando a legitimidade da monarquia e do Parlamento: ele próprio definiria o novo governo do Irã, prometeu Khomeini.
Foto: atraknews.com
Tumultos em todo o país
Em Teerã e outras cidades iranianas, os enfrentamentos violentos entre os revolucionários e os adeptos do xá prosseguiram, mesmo depois da chegada de Khomeini a Teerã. Durante dias permaneceu indefinido quem venceria os combates. Os militares decretaram toque de recolher, que praticamente nenhum iraniano respeitou.
Foto: akairan.com
Premiê interino
Em 5 de fevereiro de 1979, Khomeini entregou a chefia de governo interina a Mehdi Bazargan, da Frente Nacional. De início, parecia que o clero iria colaborar como a oposição liberal. No entanto, logo emergiram conflitos entre os dois grupos. Em 5 de novembro, Bazargan renunciou, em reação à tomada de reféns na embaixada americana em Teerã, ato tolerado por Khomeini.
Foto: akairan.com
Festejando a queda
Após a nomeação de Bazargan, numerosos cidadãos foram às ruas com a intenção de derrubar o governo interino. As Forças Armadas declararam não querer se envolver na luta de poder, privando Shapur Bakhtiar de qualquer tipo de cobertura. Ele teve que fugir da própria casa diante dos partidários armados de Khomeini. Em abril de 1979 exilou-se na França.
Foto: akairan.com
Saudação militar
Honras militares para o líder religioso: uma tropa de elite da Força Aérea iraniana saúda o aiatolá Khomeini. Os oficiais da aeronáutica, os homafaran, tiveram participação decisiva na revolução, permitindo à população o acesso a seus arsenais de munição, para a derrubada do regime de Pahlavi. Em 9 de fevereiro, a guarda imperial ainda tentou uma última reação, ao atacar uma base dos homafaran.
Foto: Mehr
Queda de monarquia
A partir daí, alastraram-se as lutas armadas entre a guarda imperial e a população. Em 11 de fevereiro de 1979 o colapso da ordem foi total: revolucionários ocuparam o Parlamento, o senado, a TV e outros órgãos estatais. Pouco mais tarde anunciava-se a derrubada da monarquia. Até hoje, o 11 de fevereiro é dia da "Revolução Islâmica" no Irã.