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Irã ainda tem suas milícias aliadas sob controle?

17 de janeiro de 2020

Durante décadas, Teerã montou milícias em vários países árabes. Elas podem ser usadas em caso de conflito com os Estados Unidos. A questão agora é se esses grupos ainda se mantêm fiéis à República Islâmica.

Carreata de protesto no Líbano
Hisbolá é a principal milícia aliada do Irã no exteriorFoto: Reuters/A. Taher

Qassim Soleimani, chefe das brigadas Quds, força de elite da Guarda Revolucionária Iraniana, esteve em ação até o último momento de sua vida. Do aeroporto de Bagdá, onde foi morto por um ataque de drones dos EUA, ele aparentemente estava a caminho de uma reunião com o primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdul Mahdi, segundo informações da mídia. Consta que os dois queriam discutir formas de limitar as tensões saudi-iranianas.

Mas Soleimani raramente viajava com intenções pacíficas. Desde que assumiu o comando das unidades Quds em 1998, preocupava-se principalmente em expandir as relações do regime de Teerã com atores não governamentais no mundo árabe relevantes, mas irregulares. Um pilar essencial dessa relação era a vertente religiosa: o islã xiita era o elo através de que Soleimani iniciava novos relacionamentos ou ampliava os existentes.

Há muito tempo o governo em Teerã mantém contatos com atores não estatais. O principal parceiro é o Hisbolá, criado em 1982, no Líbano, Ao longo de muitos anos, estabeleceram-se relações também com uma série de milícias iraquianas, como as Unidades de Mobilização Popular (Hashd al-Shaabi), que compreendem vários grupos diferentes.

No Iêmen, os iranianos mantêm contatos estreitos com os rebeldes houthis, que se unem aos mulás de Teerã sobretudo na oposição à Arábia Saudita. Nos últimos anos o Irã também construiu uma rede de grupos na Síria. Eles são próximos ao presidente Bashar al-Assad e também representam uma ameaça direta a Israel.

Com esses grupos, o governo em Teerã dispõe de uma extensa rede de aliados com os quais pode contar em caso de conflito.

Milícias iradas

Mas até onde vai a fidelidade desses grupos? Eles já demonstraram, durante anos, sua disposição de combate nas principais zonas de conflito árabes. Mas também vão cumprir a política decretada em Teerã, mesmo quando esta dispensa, a princípio, grandes contra-ataques, como após a morte de Soleimani?

Em 3 de janeiro, o chefe do Hisbolá, Hassan Nasrallah, convocou as milícias xiitas a atacar os militares dos EUA em todo o Oriente Médio, inclusive através de atentados suicidas. Os americanos deixariam a região em "caixões", disse Nasrallah. Ao mesmo tempo, também ameaçou Israel, Estado que, segundo ele, a princípio queria matar Soleimani, mas fracassou ou não se atreveu. Nasrallah nunca deixou dúvidas quanto à disposição de combate de suas milícias. Até agora, contudo, assim como os outros líderes de milícias associadas ao Irã, ele conteve suas tropas.

Aparentemente, ele está fazendo isso de comum acordo com a liderança em Teerã, explicou à DW o estudioso de assuntos islâmicos Udo Steinbach: "As milícias são política e, em parte, também economicamente dependentes do Irã", disse o pesquisador, explicando que o Hisbolá sempre seguiu as diretrizes de Teerã, e os houthis iemenitas também estão intimamente ligados ao Irã.

Segundo Steinbach, as milícias no Iraque, que também estão envolvidas no Exército iraquiano, têm um relacionamento um pouco mais relaxado com a liderança iraniana. No geral, no entanto, todos os grupos se comportam de forma leal a Teerã. "É difícil imaginar que as milícias decidam levar uma vida própria, política ou militarmente, depois da morte de Soleimani."

Houthis do Iêmen também são ligados à República IslâmicaFoto: picture alliance/dpa/H. Al-Ansi

Preocupações de Israel, urgência no Iraque

No entanto a morte de Soleimani, colocou sobretudo Israel em alerta. No caso de um conflito armado, o Hisbolá dispõe de enorme influência, comentou o ex-vice-presidente do Conselho de Segurança Nacional israelense, Chuck Freilich, em entrevista ao jornal Times of Israel.

Com o Hisbolá, pela primeira vez um ator árabe é capaz, por meio de ataques a centros de mobilização e depósitos, de atrapalhar não apenas o processo de mobilização, mas também as capacidades ofensivas do país, explicou Freilich: "Portanto estamos diante de um ano crítico, num momento em que nossos líderes políticos estão envolvidos em inúmeros problemas externos."

Até agora, Teerã relutou em reagir ao assassinato de Soleimani. O bombardeio de bases iraquianas no Iraque, usadas pelos militares dos EUA, não resultou em mortes. Se as milícias ligadas à República Islâmica não se contentarem com isso, elas também poderão agir independentemente do Irã, avaliou a cientista política Dina Esfandiary, da Fundação New York Century, à revista Foreign Policy.

Segundo ela, em caso de dúvida as milícias não se submeteriam à vontade de Teerã, e "não importa se ele para por aí": "O Irã vingou o assassinato de Soleimani. As Unidades de Mobilização do Popular iraquianas ainda precisam vingar a morte de Al-Muhandis", disse Esfandiary. O comandante iraquiano das unidades Hashd al-Shaabi, Abu Mahdi al-Muhandis, foi morto junto com Soleimani no aeroporto de Bagdá.

Udo Steinbach faz uma avaliação diferente. Para ele, a forma como o relacionamento iraniano-americano se desenvolverá no futuro será decidida apenas nas capitais dos dois países: "Se os iranianos em Teerã acreditarem que é hora de dar um passo em direção aos Estados Unidos, então eles vão implementar essa decisão de forma pragmática. Somente o aiatolá Khamenei decidirá isso. E as milícias aliadas não vão se opor seriamente a essa decisão."

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Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.
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