Presidente iraniano afirma que país voltará atrás em relação ao pacto "dentro de horas", se EUA impuserem novas sanções. Teerã e Washington acusam-se mutuamente de violar espírito do acordo.
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O presidente iraniano, Hassan Rouhani, afirmou nesta terça-feira (15/08) que seu país pode abandonar o acordo nuclear com potências mundiais caso os Estados Unidos imponham mais sanções.
"Se os EUA querem retornar à experiência (de impor sanções), o Irã certamente voltaria em breve – não dentro de uma semana ou um mês, mas dentro de horas – à condições mais avançadas [do programa nuclear] do que antes do começo das negociações", disse Rouhani numa sessão do Parlamento transmitida ao vivo pela televisão estatal.
Teerã afirma que retaliações recentemente impostas pelos EUA violam o acordo, fechado em 2015 entre Teerã e o chamado Grupo P5+1 (cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – China, França, Rússia, Reino Unido e EUA – e a Alemanha). O pacto amenizou as sanções internacionais contra o Irã em troca de restrições ao programa nuclear iraniano.
Não ficou imediatamente claro a que o presidente estava se referindo nesta terça-feira e se o Irã poderia reativar centrífugas de enriquecimento de urânio.
As declarações do presidente foram dadas após o Parlamento decidir aumentar os gastos com o programa de mísseis e com as operações de sua Guarda Revolucionária no exterior, também em resposta às sanções americanas.
No início de agosto, o presidente americano, Donald Trump, sancionou novas medidas restritivas contra o Irã, a Rússia e a Coreia do Norte, que têm como alvo, entre outros, os programas de mísseis iranianos e violações de direitos humanos.
As novas sanções dos Estados Unidos incluem penalidades obrigatórias para envolvidos com o programa de mísseis balísticos do Irã.
Os EUA afirmam que testes de mísseis balísticos realizados pelo Irã nas últimas semanas violam o espírito do pacto de 2015 e uma resolução da ONU. Esta endossou o acordo nuclear e pediu que Teerã não realizasse atividades relacionadas a projéteis capazes de transportar armas nucleares, incluindo lançamentos usando tal tecnologia.
O Irã afirma que seu programa de mísseis não viola a resolução, alegando que eles não são destinados a transportar ogivas nucleares.
"O mundo já viu claramente que sob Trump, os EUA ignoraram acordos internacionais e, além de minarem o acordo nuclear, quebraram sua palavra em relação ao acordo de Paris e ao de Cuba, e que os Estados Unidos não são um bom parceiro ou um negociador confiável", afirmou Rouhani.
Ao mesmo tempo, o líder iraniano disse que Teerã pretende permanecer leal a seu compromisso com o acordo nuclear, o qual "abriu um caminho de cooperação e estabelecimento de confiança" com o mundo.
"O acordo foi um modelo para a vitória da paz e da diplomacia contra a guerra e o unilateralismo. O pacto foi a preferência do Irã, mas não era e não vai permanecer sendo a única opção do país", declarou Rouhani.
LPF/rtr/ap
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.