Irã adotará "medidas drásticas" se EUA abandonarem acordo
22 de abril de 2018
Ministro do Exterior iraniano afirma que país voltará a enriquecer urânio se os Estados Unidos se retirarem de pacto nuclear internacional, classificado por Trump de "o pior acordo de todos os tempos".
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O Irã está disposto a retomar o enriquecimento de urânio e adotar outras "medidas drásticas" se os Estados Unidos abandonarem o acordo nuclear fechado entre Teerã e potências internacionais em 2015, afirmou o ministro do Exterior iraniano, Javad Zarif, neste sábado (21/04).
Zarif disse a repórteres em Nova York que o Irã não pretende adquirir uma bomba nuclear, mas que a "provável" resposta de Teerã a uma retirada americana do acordo seria retomar a produção de urânio enriquecido, crucial para a produção de uma bomba.
O acordo nuclear iraniano, fechado em 2015 entre Teerã o os países do grupo P5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China, mais Alemanha), estabelece um controle sobre o programa nuclear do país em troca do alívio das sanções econômicas internacionais.
O presidente americano, Donald Trump, classificou o documento firmado por seu antecessor, Barack Obama, de "o pior acordo de todos os tempos". O republicano estabeleceu 12 de maio como prazo final para os europeus "consertarem" o pacto. Caso contrário, além de abandonar o acordo, os EUA imporiam sanções a Teerã novamente.
Zarif, que viajou aos Estados unidos para uma reunião da ONU sobre o tema paz, afirmou que a exigência de mudanças no acordo nuclear mostra que não se deve negociar com o governo em Washington. De acordo com o ministro iraniano, os EUA negociam sob o lema: "O que é meu é meu, o que é seu é negociável."
É inútil que o presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, tentem acalmar Trump, disse Zarif. O destino do acordo nuclear iraniano será um dos principais temas discutidos durante uma visita de Macron a Washington a partir desta segunda-feira. Merkel estará na capital americana na sexta-feira.
Alertando contra concessões a Trump, Zarif afirmou que os líderes europeus precisam pressionar o presidente americano a permanecer no acordo, se os EUA "pretendem manter qualquer credibilidade na comunidade internacional".
Líderes europeus esperam convencer Trump a salvar o acordo se eles, em troca, concordarem em pressionar o Irã a entrar num pacto sobre testes de mísseis e moderarem a influência regional de Teerã sobre o Iêmen, a Síria e o Líbano.
Se os EUA abandonarem o acordo nuclear, é improvável que o Irã se mantenha nele com os demais signatários, disse Zarif. Os comentários do ministro iraniano marcam uma escalada na retórica de Teerã após o presidente do país, Hassan Rohani, alertar no início do mês que Washington iria "se arrepender" de sair do acordo nuclear.
LPF/afp/rtr
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Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.