Irã ataca Israel com mísseis em meio a escalada de tensão
2 de outubro de 2024
Explosões causaram danos limitados, com dois feridos leves em Tel Aviv, mas elevam a temperatura do conflito na região. Israel contou com a ajuda dos Estados Unidos, que emitiram alerta horas antes.
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O regime iraniano lançou na noite de terça-feira (01/10) mais de uma centena de mísseis balísticos contra Israel, atingindo principalmente Tel Aviv. A ofensiva ocorreu em meio aos recentes bombardeios israelenses no Líbano, que causaram a morte de mais de mil pessoas, incluindo líderes do grupo radical Hezbollah, apoiado pelo Irã.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmam que a maioria desses mísseis foi interceptada pela Força Aérea de Israel, em cooperação com o Comando Central das Forças Aéreas dos Estados Unidos. Segundo os israelenses, cerca de 180 mísseis foram disparados pelos iranianos. Os EUA, que haviam alertado mais cedo para um “ataque iminente”, citaram cerca de 200 mísseis.
Sirenes foram ouvidas em todo território israelense, mas as explosões causaram danos limitados, com dois feridos leves em Tel Aviv, segundo o serviço de emergência Adom. Autoridades locais afirmaram que, até o momento, não há relatos de mortes ou ferimentos graves.
A Guarda Revolucionária do Irã afirmou que o ataque desta terça teve como alvo três bases militares israelenses nas proximidades de Tel Aviv. Embora o Irã tenha reivindicado que a ofensiva foi "bem-sucedida", fontes israelenses e americanas afirmaram que a maioria dos mísseis foi interceptada. De acordo com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, o ataque foi "derrotado e ineficaz".
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou, após o ataque, que o Irã "cometeu um grave erro esta noite e vai pagar por isso".
A população israelense foi orientada a permanecer por algumas horas em abrigos antibombas. O espaço aéreo israelense chegou a ser fechado durante a ofensiva, assim como o do Iraque e da Jordânia.
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), contra-almirante Daniel Hagari, informou que, até o momento, nenhuma outra ameaça foi detectada, mas reforçou que a situação ainda está sendo monitorada. Já o chefe do Estado-Maior do exército israelense, Herzl Halevi, disse que o país conseguiu repelir o ataque graças aos seus sistemas de defesa aérea.
Hagari também alertou ao Irã que “esse ataque terá consequências”. “Temos planos e vamos operar no local e na hora que decidirmos.”
Paralelamente ao ataque iraniano, um atentado a tiros ocorreu em Jaffa, nos arredores de Tel Aviv. Segundo a imprensa israelense, dois terroristas abriram fogo contra várias pedestres. Pelo menos oito pessoas morreram no ataque, incluindo os dois atiradores.
Escalada de violência na região
Foi o primeiro ataque direto do Irã desde abril, quando Teerã também alvejou bases israelenses em um ataque semelhante ao desta terça-feira. Mas, em contraste com o ataque de abril, que também envolveu mais de uma centena de drones, a ofensiva desta terça-feira foi feita exclusivamente com mísseis balísticos, que percorreram a distância entre o Irã e Israel em poucos minutos. O número de mísseis usados desta vez também foi maior.
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Mas, tal como na ofensiva de abril, o ataque desta terça-feira aparentemente não resultou em danos significativos em Israel, apesar da alegação do regime de Teerã de que "90%" dos mísseis teriam atingido seus alvos.
O confronto entre Israel e forças apoiadas pelo Irã vem aumentando nas últimas semanas. O ataque desta terça ocorre no momento em que uma nova ofensiva terrestre israelense avança no sul do Líbano, onde o Hezbollah tem forte presença. Em duas semanas, as forças militares israelenses já mataram mais de mil libaneses, entre eles membros da cúpula do grupo radical, mas a maioria civis, segundo autoridades do país.
Israel diz que continuará a atacar o Hezbollah até que seja seguro que os cidadãos israelenses deslocados de casas próximas à fronteira com o Líbano possam retornar. O Hezbollah prometeu continuar a disparar foguetes contra Israel até que haja um cessar-fogo em Gaza com o Hamas, que também é apoiado pelo Irã.
A expansão das operações militares de Israel começou após o ataque do Hamas em 7 de outubro do ano passado, que deixou cerca de 1.200 israelenses mortos e 250 reféns. O conflito se intensificou após a resposta israelense, com uma operação em Gaza que já resultou em mais de 40 mil mortos, além de baixas em outros territórios como Líbano e Iêmen.
Retaliação e resposta internacional
A missão diplomática do Irã nas Nações Unidas chamou o episódio desta terça de "resposta legal e legítima" aos "atos terroristas" de Israel e à morte de Hassan Nasrallah, ex-chefe do grupo extremista do Hezbollah, morto na última sexta-feira (27/09) em bombardeio israelense.
O Irã lidera o chamado "Eixo da Resistência" – aliança informal de países e milícias do Oriente Médio como o grupo libanês Hezbollah, o palestino Hamas, os rebeldes houthis no Iêmen, milícias xiitas no Iraque, Afeganistão e Paquistão, além da Síria.
O que une essas organizações é sua oposição ao Ocidente. Elas se apresentam como a "resistência" à influência dos Estados Unidos e de seu aliado Israel na região. O Irã entra com o apoio financeiro, de armas e treinamento.
O líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, autorizou o ataque, segundo a mídia estatal iraniana, e advertiu que o país está "pronto para qualquer retaliação". Em resposta, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que monitora o conflito de perto e deu ordens para ajudar na defesa israelense.
O governo dos Estados Unidos emitiu um alerta, horas antes do disparo dos mísseis, sobre possíveis preparativos do Irã para um ataque.
A Alemanha e o Reino Unido também condenaram o ataque iraniano.
sf/jps (AP, AFP, Reuters, ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.