Ministro do Exterior iraniano critica proposta de Obama de que Teerã congele programa nuclear por dez anos. Alemanha indica avanço nas conversações com o Irã, e EUA afirmam que "não existe alternativa" às negociações.
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O Irã classificou nesta terça-feira (03/03) de "inaceitável" a exigência do presidente americano, Barack Obama, de que Teerã congele suas atividades nucleares por ao menos dez anos.
"A postura de Obama [...] está expressa em palavras inaceitáveis e ameaçadoras [...] O Irã não aceitará exigências excessivas e ilógicas [...] Teerã irá continuar as negociações com as seis potências mundiais", disse o ministro do Exterior iraniano, Mohammad Javad Zarif, segundo a agência semi-oficial de notícias Fars.
Em entrevista concedida à agência de notícias Reuters nesta segunda-feira, Obama havia dito que o Irã deveria se comprometer a uma paralisação verificável de seu programa nuclear para que as negociações com as seis potências mundiais levem a um acordo.
Enquanto isso, na cidade suíça de Montreux, o secretário de Estado americano, John Kerry, e o colega de pasta iraniano Javad Zarif dão prosseguimento às conversações sobre o programa nuclear iraniano.
Também nesta terça-feira, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, declarou durante a Conferência da ONU sobre Desarmamento, em Genebra, que as negociações sobre o controverso programa nuclear iraniano avançaram mais neste ano do que na última década inteira.
Referindo-se às negociações entre o Irã e as seis potências mundiais, Steinmeier disse ao fórum: "As conversações entre o grupo dos países E3+3 [Alemanha, França e Reino Unido + Rússia, China e EUA] e o Irã também estão avançando bem. Eu me atreveria a dizer que, em dez anos de negociações, nunca fizemos tantos progressos como neste ano."
Pouco antes do discurso do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, perante o Congresso americano nesta terça-feira, o governo americano também rebateu as críticas de Netanyahu às negociações nucleares com Teerã.
Susan Rice, assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, afirmou à organização lobista pró-Israel Aipac, que "não existe alternativa" às negociações com o objetivo de impedir permanentemente o Irã de desenvolver armas nucleares.
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.