Irã executa mais dois presos por envolvimento em protestos
7 de janeiro de 2023
UE e EUA condenaram veementemente o enforcamento dos dois homens, acusados de matar um agente de segurança. ONGs de direitos humanos alegam que julgamentos são a portas fechadas e baseados em confissões sob tortura.
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A União Europeia (UE) e os Estados Unidos condenaram neste sábado (07/01) a execução de dois homens no Irã devido à participação nos protestos que tomaram conta do país do Oriente Médio após a morte da jovem Jina Mahsa Amini, de 22 anos.
Mohammad Mehdi Karami e Seyyed Mohammad Hosseini, presos e condenados à morte, foram enforcados na manhã deste sábado. Eles foram considerados culpados pela morte de um agente de segurança, em novembro, durante os protestos que começaram em meados de setembro. Com as duas execuções, sobe para quatro o número de manifestantes enforcados no Irã envolvidos nos protestos.
ONGs de direitos humanos afirmam que os julgamentos são conduzidos de forma rápida e a portas fechadas, com advogados designados pelo governo representando os réus. Além disso, segundo os ativistas de direitos humanos, geralmente as evidências apresentadas são obscuras e as confissões são obtidas sob tortura.
"[A UE] denuncia um novo sinal de repressão violenta das manifestações e apela uma vez mais às autoridades iranianas para que ponham imediatamente fim à prática altamente condenável de pronunciar e executar sentenças de morte contra os manifestantes", disse Nabila Massrali, porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
A UE também exigiu o "cancelamento imediato" das restantes sentenças de morte já proferidas no âmbito das manifestações, acrescentou a porta-voz.
Os EUA condenaram "veementemente" o julgamento e os enforcamentos. "Estas execuções são um elemento fundamental da estratégia do regime para suprimir os protestos" que estão em curso no país há meses, destacou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, no Twitter.
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Advogado disse que não teve acesso ao caso
Karami e Hosseini foram executados pelo homicídio de um membro da força paramilitar Basij, ligada ao poderoso Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica.
Segundo um porto-voz do Judiciário iraniano, o agente morreu em Karaj, a oeste de Teerã, em 3 de novembro, depois de ser atacado com "facas, pedras, punhos, chutes" e arrastado por uma rua. Karami e Hosseini foram condenados à morte no início de dezembro, e a Suprema Corte iraniana confirmou a decisão na terça-feira.
De acordo com grupos de direitos humanos, Karami tinha 22 anos e Hossein, 39. Os pais de Karami publicaram um vídeo, em dezembro, pedindo às autoridades que poupassem a vida do jovem.
Mashallah Karami descreveu o filho como um ex-membro da equipe nacional de caratê e disse à mídia iraniana que um advogado da família não conseguiu acessar o arquivo do caso. Além disso, o jovem não foi autorizado a ter um encontro final com a família, disse seu representante, Mohamad Aghasi, no Twitter.
ONU condena enforcamentos
O escritório de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) condenou as execuções, alegando que elas ocorreram após "julgamentos injustos baseados em confissões forçadas".
Desde o início dos protestos, 14 pessoas foram condenadas à morte. Destas, quatro foram executados, dois tiveram as suas sentenças confirmadas pela Corte iraniana, seis aguardam novo julgamento e outros dois podem recorrer.
Além disso, dezenas de outros manifestantes enfrentam acusações puníveis com a morte, disse o IHR no final de dezembro. Os ativistas pediram uma ação internacional mais forte após as últimas execuções.
O Centro de Direitos Humanos no Irã, com sede em Nova York, pediu aos países que retirem seus embaixadores de Teerã.
Em dezembro, ocorreram as duas primeiras execuções, provocando indignação global e novas sanções ocidentais contra o Irã. Mohsen Shekari e Majidreza Rahnavard, ambos de 23 anos, foram considerados culpados de ataques às forças de segurança.
Novo chefe de polícia
Quase quatro meses após a agitação desencadeada pela morte de Amini, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei ,nomeou neste sábado um novo chefe de polícia. O general Ahmad-Reza Radan substituirá Hossein Ashtari, informa um comunicado publicado no site oficial do líder. Khamenei ordenou que o departamento de polícia "melhorasse suas capacidades".
O analista iraniano Mehrzad Boroujerdi disse à agência de notícias AFP antes do anúncio que havia "rumores de que Khamenei criticou severamente" o desempenho de Ashtari. Ele disse esperar que pessoas como Ashtari sejam substituídas por "ainda mais radicais para manter um controle rígido" sobre as forças de segurança.
A atual onda de protestos no Irã teve início após a morte da jovem de origem curda Jina Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia, depois que foi presa pela chamada polícia da moralidade do país. Embora os protestos tenham sido provocados inicialmente pelas regras estritas sobre como as mulheres se vestem, as queixas da população predominantemente jovem contra a classe dominante são muitas.
Confrontos foram registrados na maioria das cidades, bem como nas regiões mais carentes e etnicamente marginalizadas do país, como o Curdistão e o Baluquistão.
le (Lusa, AFP, ots)
Os fatos que marcaram 2022
Ano foi marcado por acontecimentos como a guerra na Ucrânia, extremos climáticos, desdobramentos da pandemia de covid-19 e protestos de mulheres no Irã.
Foto: YASIN AKGUL/AFP/Getty Images
Uma nova guerra na Europa
A guerra de agressão russa contra a Ucrânia foi o tema dominante do ano: em 24 de fevereiro, as tropas de Vladimir Putin invadiram o país vizinho. E a Europa voltou a ter uma guerra. Segundo a ONU, até dezembro, ela custou ao menos 6.755 vidas entre a população civil ucraniana. Cerca de 8 milhões de ucranianos fugiram do país.
Foto: AFP
Vidas destruídas
Uma gestante ferida é retirada dos escombros da maternidade de Mariupol, na Ucrânia. A mulher e seu bebê morreram. O ataque russo à clínica é considerado um crime de guerra. O subúrbio de Bucha, em Kiev, também ganhou notoriedade: segundo fontes ucranianas, mais de 400 corpos foram encontrados lá depois que os russos se retiraram, quase todos civis. A Rússia nega o massacre.
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Levante contra os aiatolás
"Mulher, vida, liberdade" é o lema da luta do povo iraniano contra o regime repressivo dos mulás. Os protestos foram desencadeados pela morte de Jina Mahsa Amini, que morreu sob custódia da polícia em setembro. No funeral dela, muitas mulheres tiraram os lenços da cabeça, o que marcou o início da revolta nacional. No 40º dia após sua morte, milhares visitaram o túmulo de Amini, como se vê na foto.
Foto: UGC/AFP
Golpe contra os direitos da mulher
No final de junho, a Suprema Corte americana revogou os direitos de aborto nos Estados Unidos, tornando-o proibido em muitos estados. O resultado foram protestos maciços contra o veredicto. Na foto, mulheres com "chapéus" cor-de-rosa protestam diante da Suprema Corte. "Hoje, as mulheres têm menos direitos do que suas mães", criticou a democrata Nancy Pelosi.
Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP/Getty Images
Tapa do ano
Escândalo durante a entrega do Oscar: no palco, o ator Will Smith deu um tapa no comediante Chris Rock depois que ele fez uma piada sobre a cabeça raspada da esposa de Smith, Jada Pinkett. A atriz sofre de uma doença rara que causa queda de cabelo. Smith mais tarde se desculpou.
Foto: BRIAN SNYDER/REUTERS
Calor extremo seguido de inundações
Primeiro veio o calor, depois a água: a Índia e o Paquistão sofreram com uma onda de calor sem precedentes de quase 50 graus Celsius. Em agosto, a região foi atingida por inundações devastadoras, especialmente o Paquistão: um terço do país chegou a ficar submerso. As responsáveis são as mudanças climáticas provocadas pelo homem, que intensifica os eventos climáticos extremos.
Foto: AFP
Europa em chamas
2022 foi marcado pelas mudanças climáticas também na Europa, onde estiagens e secas persistentes causaram incêndios florestais devastadores, como no sudoeste da França. O verão na Europa foi o mais quente desde que são registrados dados meteorológicos e causou dezenas de milhares de mortes relacionadas ao calor. Grandes rios como o Reno e o Loire chegaram a secar completamente em alguns pontos.
Foto: AP Photo/picture alliance
Lutar e não resignar
Desde meados do ano, organizações de proteção do clima como "Last Generation" e "Extinction Rebellion" têm provocado manchetes com ações drásticas. Ativistas protestam derramando molho de tomate em obras de arte em museus. E bloqueiam ruas e aeroportos para paralisar as operações - como aqui no Aeroporto Schiphol, de Amsterdã, no início de novembro.
Foto: REMKO DE WAAL/ANP/AFP
O nascimento das estrelas
Ele pode ver o passado até logo após o Big Bang, 13 bilhões de anos atrás, e observar a formação de galáxias: em meados do ano, o telescópio James Webb começou a enviar imagens espetaculares como esta, de montanhas e vales repletos de estrelas, que na verdade são a borda de uma jovem região de formação de estrelas na Nebulosa Carina. A Nasa batizou a imagem "Penhascos Cósmicos".
Foto: NASA, ESA, K. Sahu (STScI)
Fim de uma era
Em 8 de setembro, a rainha Elizabeth 2ª morreu no Castelo de Balmoral, na Escócia. A monarca de 96 anos ocupou o trono britânico por sete décadas, mais tempo do que qualquer um antes dela. Ela comemorou 70 anos no trono em fevereiro de 2022. A morte foi acompanhada de mensagens de pesar e simpatia de todo o mundo - aqui, a Ópera de Sydney é iluminada com um retrato de Elizabeth 2ª.
Foto: ROBERT WALLACE/AFP/Getty Images
Aparência enganosa
O sol é refletido no estádio Lusail em Doha, enquanto pesam acusações de trabalhadores estrangeiros que perderam a vida na construção dos estádios da Copa no Catar. Nunca antes um Mundial de Futebol foi tão controverso como o deste ano no emirado: onde não há eleições livres nem mídia independente, os homossexuais são perseguidos, os direitos das mulheres são restritos.
Foto: KARIM JAAFAR/AFP/Getty Images
Agonia no Afeganistão
Desde que o Talibã tomou o poder em agosto de 2021, a situação humanitária no Afeganistão se deteriorou extremamente: mais da metade da população não consegue mais se alimentar adequadamente. Como esta mulher mendigando na neve com o filho. As mulheres e meninas sofrem particularmente: são discriminadas em todas as áreas da vida e não podem mais frequentar escolas e universidades.
Foto: ALI KHARA/REUTERS
Desinfetante contra o vírus
A covid-19 prosseguiu, embora as restrições e medidas de proteção tenham sido reduzidas em muitos países. Menos na China, onde a população continuou sofrendo sob a rigorosa estratégia de covid zero de Pequim: blocos de apartamentos foram hermeticamente fechados, e pessoas infectadas, mesmo crianças, presas em acampamentos. Após protestos maciços, o governo flexibilizou as exigências em dezembro.
Foto: Pan Yulong/dpa/XinHua/picture alliance
Somos 8 bilhões no planeta
Em meados de novembro, a humanidade ultrapassou a marca dos 8 bilhões de pessoas. A maior parte da população mundial - quase 60% - vive na Ásia. Assim como esta mulher que balança alegremente o cabelo no festival indiano de cores "Holi". O crescimento populacional está diminuindo em todo o mundo: as mulheres estão tendo menos filhos, e a expectativa de vida também caiu devido à pandemia de covid.
Foto: Amit Dave/REUTERS
Messi realiza seu sonho
A polêmica Copa do Mundo no Catar teve um desfecho que não poderia ter um roteiro mais cinematográfico. A Argentina derrotou a França nos pênaltis e conquistou o tricampeonato mundial de futebol. A estrela indiscutível da decisão foi Lionel Messia, que aos 35 anos foi também o melhor jogador da Copa e grande responsável pelo título, ao conduzir a seleção argentina até a grande final.