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CriminalidadeIrã

Irã nega envolvimento, mas justifica ataque a Salman Rushdie

15 de agosto de 2022

Regime fundamentalista de Teerã negou vínculo com homem que esfaqueou o autor de "Os Versos Satânicos", mas justificou ataque atribuindo a culpa do crime à própria vítima.

Autor Salman Rushdie e porta-voz do Ministério iraniano do Exterior, Nasser Kanaani
Porta-voz do Ministério iraniano do Exterior, Nasser Kanaani (dir.), eximiu seu país de qualquer culpa sobre tentativa de matar Salman Rushdie nos EUA

O governo do Irã negou "categoricamente" nesta segunda-feira (15/08) estar envolvido diretamente na recente tentativa de assassinato contra o escritor Salman Rushdie em Nova York. Em seu primeiro comentário público sobre o atentado, por outro lado, o país justificou o ataque, atribuindo a culpa do crime à própria vítima.

"Em relação ao atentado contra Salman Rushdie nos Estados Unidos, não consideramos que ninguém mereça reprovação, culpa ou mesmo condenação, exceto ele próprio e seus apoiadores", declarou o porta-voz do Ministério do Exterior em Teerã, Nasser Kanaani.

"Nesse aspecto, ninguém pode culpar a República Islâmica do Irã. Acreditamos que as ofensas feitas e o apoio recebido por ele foram um insulto aos adeptos de todas as religiões." Segundo Kanaani, o autor "se expôs à ira popular ao insultar a sacralidade do islã, e cruzar as linhas vermelhas de mais de 1,5 bilhão de muçulmanos e também dos seguidires de todas as religiões divinas".

Antes de o governo iraniano divulgar comentários sobre o ataque, vários jornais do país - que vive há décadas sob o regime totalitário - celebraram abertamente o atentado contra Rushdie. Algumas publicações compararam Rushdie a "Satã" e apontaram que "a mão do agressor merecia ser beijada". 

Rushdie, de 75 anos, foi esfaqueado na sexta-feira enquanto participava de um evento em Nova York, sofrendo danos no fígado e nos nervos de um braço e um olho, o qual possivelmente perderá. Seu agressor, Hadi Matar, de 24 anos, foi preso. Rushdie permanece internado, mas apresentou melhora do quadro clínico no fim de semana,

Fatwa se mantém, 33 anos depois

Desde 17 de fevereiro de 1989 pesa sobre o autor britânico-americano nascido na Índia uma fatwa (édito islâmico), proferida pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, líder supremo do Irã de 1979 a 1989, ordenando sua execução devido ao livro Os Versos Satânicos, tachado como sacrílego.

A instigação ao homicídio se estendia a todos os muçulmanos. Uma fundação iraniana semioficial que colocou um prêmio de 3 milhões de dólares sobre a cabeça de Rushdie.

Fatwas podem ser revisadas ou revogadas, porém o atual líder supremo iraniano, Ali Khamenei, nunca tomou essa iniciativa. Em fevereiro de 2017, ele chegou a confirmar: "O decreto é como o imã Khomeini o promulgou."

Embora a polícia nova-iorquina ainda não tenha citado nenhum motivo para o atentado numa audiência, no sábado, o procurador distrital Jason Schmidt aludiu a essa recompensa ao argumentar contra o estabelecimento de uma fiança para Hadi Matar: "Mesmo que o tribunal exigisse 1 milhão de dólares, corremos o risco de que essa fiança fosse coberta."

O autor do atentado nasceu em Nova Jersey, EUA, depois que seus pais emigraram de Yaroun, no sul do Líbano, na fronteira israelense. Segundo os cadastros municipais do lugarejo, ele tem nacionalidade libanesa e é identificado como xiita. Pelas ruas de Yaroun, veem-se bandeiras do Hisbolá, apoiado pelo Irã, assim como retratos de líderes iranianos e do grupo militante xiita.

Embora não tenha responsabilizado Teerã diretamente pelo ataque, o secretário americano de Estado, Antony Blinken, fez questão de mencionar o país nesta segunda-feira, numa declaração em louvor dos esforços de Rushdie pela liberdade de expressão.

"As instituições estatais iranianas incitaram violência contra Rushdie por gerações, e a mídia filiada ao Estado recentemente se rejubilou com o atentado à vida dele. Isso é desprezível."

av (AFP,AP)

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