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Irã proíbe ensino de inglês em escolas primárias

7 de janeiro de 2018

Medida é anunciada após líderes islâmicos alertarem para "invasão cultural" do Ocidente e acusarem "inimigos do Irã" de estarem por trás de recente onda de protestos. Pronunciamento sobre proibição viraliza na internet.

Ali Khamenei
Em 2016, líder supremo Ali Khamenei se disse contra a promoção de uma cultura estrangeira através do ensino de inglêsFoto: Reuters/Leader.ir

O Irã proibiu o ensino de inglês em escolas primárias, após líderes islâmicos alertarem que aprender o idioma na infância abre caminho para uma "invasão cultural" do Ocidente, noticiou a agência de notícias Reuters neste domingo (07/01).

"Ensinar inglês em escolas primárias públicas ou não, como parte do currículo obrigatório, é contra as leis e regulamentos", disse Mehdi Navid-Adham, chefe do Conselho Superior de Educação, à televisão estatal na noite deste sábado.

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"Isso é porque se acredita que, na educação primária, são estabelecidas nos alunos as bases da cultura iraniana", disse Navid-Adham, acrescentando que aulas de inglês extracurriculares também poderão ser bloqueadas.

No Irã, o ensino de inglês geralmente começa entre os 12 e 14 anos de idade, mas algumas escolas primárias oferecem aulas da língua a alunos mais jovens. Algumas crianças também frequentam institutos de idiomas privados após a escola.

Os líderes islâmicos iranianos alertaram repetidas vezes para os perigos de uma "invasão cultural". Em 2016, o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, manifestou indignação diante do fato de "o ensino da língua inglesa estar se espalhando para jardins de infância".

Khamenei, que tem a palavra final em todos assuntos estatais, disse naquele discurso a professores: "Isso não significa uma oposição ao aprendizado de uma língua estrangeira, mas isso promove uma cultura estrangeira no país e entre nossas crianças e jovens."

"Pensadores ocidentais disseram diversas vezes que em vez do expansionismo colonialista, o melhor e menos custoso caminho teria sido inculcar o pensamento e a cultura às gerações jovens de outros países", disse Khamenei na ocasião.

"Inimigos do Irã"

A decisão deste fim de semana em relação ao ensino de inglês não foi oficialmente vinculada aos protestos dos últimos dias, contra o establishment religioso e o governo do país.

Na semana passada, no entanto, Khamenei acusou "inimigos do Irã" de estarem por trás da onda de manifestações no país, iniciada no fim de dezembro.

O líder supremo não mencionou quem seriam esses inimigos. Porém, o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional Ali Shamkhani acusou os Estados Unidos, o Reino Unido e a Arábia Saudita de estarem por trás dos protestos nos país. A Guarda Revolucionária do Irã também disse que os distúrbios foram promovidos por inimigos estrangeiros.

A recente onda de protestos no Irã, que deixou 22 mortos e mais de mil detidos, começou na cidade de Mashhad e foi considerada a maior desde a revolta de 2009, quando uma série de manifestações tomou as ruas do país contra supostas fraudes eleitorais a favor do linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, logo se tornando um movimento de maior escala de contestação ao regime dos aiatolás.

Desta vez, os protestos tiveram inicialmente a inflação e o desemprego como alvo, mas logo ganharam tom político, com críticas ao presidente Hassan Rohani e a Khamenei. Protestos pró-governo se seguiram.

Um vídeo do anúncio do banimento do inglês nas escolas primárias circulou por redes sociais neste domingo, com usuários iranianos classificando a medida de "filtragem do inglês" e comparando-a ao bloqueio do aplicativo Telegram pelo governo durante os recentes protestos.

LPF/rtr

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