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Em busca de parceiros

8 de janeiro de 2012

Presidente Ahmadinejad começa um giro por quatro países com governos de esquerda, numa postura declaradamente anti-norte-americana. Agenda começa pela Venezuela, seu principal aliado no continente. Brasil ficará de fora.

Visita começará pela Venezuela, principal aliado no continente
Visita começará pela Venezuela, principal aliado no continenteFoto: AP

O presidente iraniano Mahmud Ahmadijad começa neste domingo (08/01) uma visita de cinco dias a quatro países da América Latina – Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador. Ele buscará reforçar a cooperação política e econômica em nações com poucos laços com os norte-americanos, exatamente num momento em que se vê ameaçado pelo endurecimento de sanções por parte dos Estados Unidos e da União Europeia (UE).

Chamou a atenção o fato de o Brasil, maior economia da América Latina, ficar de fora da agenda oficial do presidente iraniano. Segundo avaliação de Lytton Guimarães, especialista em América Latina da Universidade de Brasília, isso é reflexo da política da atual presidente Dilma Rousseff, muito mais "fria" com relação ao Irã, em comparação à adotada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula havia ensaiado uma aproximação com AhmadinejadFoto: AP

"O Brasil não vai atacar, mas também não vai defender o Irã. Vai ter uma posição mais neutra", afirmou o especialista à agência de notícias AFP.

A viagem vai começar por Caracas, onde Ahmadinejad encontra-se com seu principal aliado na região, o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Por meio de um comunicado, Chávez destacou a visita do colega iraniano no momento atual, de crescente tensão no Golfo Pérsico, devido à "pressão norte-americana".

Os recentes testes de mísseis de longo alcance no Irã e suas ameaças de bloquear o Estreito de Ormuz, por onde passa 35% do fornecimento mundial de petróleo, são vistas por especialistas como uma resposta de Teerã às recentes ameaças de sanção por parte dos EUA e da UE.

Bomba nuclear

O Irã insiste em continuar com seu programa nuclear, o qual, afirma, não tem finalidade militar. Observadores, porém, não acreditam na declaração oficial.

O especialista alemão em segurança Oliver Thraenert, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), sediado em Berlim, acompanha o caso iraniano há anos e ressalta antigas advertências da Agência Internacional de Energia Atômica sobre o interesse do Irã na bomba atômica. "Não sei de nenhum conhecedor da situação que não compartilhe da convicção de que o programa nuclear iraniano tem como objetivo o uso militar. Embora Teerã ainda não tenha se decidido a realizar um teste atômico, como já o fez a Coreia do Norte", afirmou Thraenert em entrevista à Deutsche Welle.

Ele adverte que as ameaças de novas sanções são um grande desafio para a cúpula. Ainda que o Irã conte com outros parceiros comerciais muito importantes como China, Índia e Coréia do Sul, a completa suspensão da importação europeia de petróleo iraniano afetaria gravemente a economia iraniana. Por isso é compreensível que ele busque outros aliados. "O mais importante é garantir que o país não fique completamente isolado", opinou o alemão.

Estratégia de xadrez

Para o cientista político colombiano Roman David Ortiz Marina, da Universidade dos Andes de Bogotá, a viagem de Ahmadinejad à América Latina se encaixa numa estratégia típica do país, há anos. "O objetivo de longo prazo é construir uma estratégia simétrica à que os iranianos percebem que os EUA têm adotado no Oriente Médio. É uma resposta a sua crescente presença militar", afirmou.

Ortiz sustenta ainda que, com presença marcada na América Latina, o Irã busca apenas aliados que o permitam romper com o regime de sanções impostos pela ONU, pelos EUA e pela UE. "O Irã está buscando a capacidade de desenvolver redes de inteligência e terrorismo num espaço onde, se for o caso, possam ser realizados ataques contra os interesses dos Estados Unidos e dos israelenses."

Chávez, um grande aliado

Protesto contra a política atômica do presidente iranianoFoto: AP

Neste sentido, Chávez é o grande aliado, que tem ajudado o país do Oriente Médio a expandir sua presença na América Latina. "A diplomacia venezuelana tem desempenhado um papel-chave", afirma Ortiz. O especialista destaca ainda que, apesar de o Irã ser um grande exportador de petróleo, sua capacidade de refinação é muito limitada, por isso um embargo de produtos refinados e uma intervenção militar nas poucas refinarias do país o afetariam gravemente.

Ortiz acredita que um dos objetivos da viagem de Ahmadinejad é forçar alianças. "O Irã busca parceiros que estejam dispostos a firmar acordos de produção de equipamentos militares e pelos quais o país possa exportar produtos iranianos como se fossem deles", ou seja: uma triangulação. Prova disso seria o seu interesse em fechar acordos para estabelecer fábricas de petroquímicos e de munições na Venezuela.

O especialista ressalta ainda que a investida iraniana na América Latina se aproveita de um momento em que os Estados Unidos perdem influência no continente. "A única razão pela qual a Venezuela apoia o Irã é a questão ideológica. Não há nada que venha do Irã que seja realmente importante para a Venezuela", analisa. Segundo o especialista, a aproximação com Teerã gera à Venezuela problemas diplomáticos e traz poucos benefícios. Diferentemente da China, que proporciona créditos milionários aos venezuelanos, ou da Rússia, que lhes vende uma grande quantidade de armamentos.

Autora: Eva Usi / Mariana Santos
Revisão: Augusto Valente

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