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Mídia no Irã

16 de junho de 2009

Acusações de fraude na eleição presidencial levaram Irã à crise política interna. Entre as primeiras vítimas estão a imprensa internacional e as novas mídias. Jornalistas estrangeiros não podem mais deixar suas redações.

Protestos a favor do candidato derrotado Mussavi em TeerãFoto: Hadi Fatemi

Em reação aos protestos oposicionistas em várias cidades do país, o governo do Irã impôs nesta terça-feira (16/06) fortes restrições ao trabalho da imprensa internacional. Em comunicado enviado às redações, o Ministério iraniano da Cultura proibiu a presença de jornalistas estrangeiros em "manifestações ilegais", uma referência aos protestos oposicionistas.

Um representante do Ministério iraniano da Cultura declarou à agência de notícias Reuters que jornalistas estrangeiros não podem mais deixar os escritórios de suas respectivas redações. "Nenhum jornalista tem permissão de fazer reportagens, filmes e fotos na cidade", afirmou. Só é permitido trabalhar dentro das redações, disse o representante.

As novas dificuldades impostas pelo governo iraniano ao trabalho da imprensa internacional foram condenadas pelo governo da Alemanha, pelo Sindicato dos Jornalistas Alemães (DJV) e pela ONG Repórteres Sem Fronteiras.

O encarregado do governo alemão para direitos humanos, Günter Nooke, disse que a decisão iraniana é uma afronta às convenções internacionais. "Espero que o Irã respeite os acordos que assinou", disse. O presidente do sindicato DJV, Michael Konken, exigiu que o governo iraniano garanta a plena liberdade para o trabalho dos jornalistas.

Os protestos da oposição continuaram nesta terça-feira no norte de Teerã. Na segunda-feira, ao menos sete pessoas morreram em manifestações no país. Os oposicionistas afirmam que houve fraude nas eleições que asseguraram mais quatro anos de poder ao presidente Mahmud Ahmadinejad.

Censura à mídia local

Ainda na segunda-feira, o governo alemão conclamara Teerã a respeitar a liberdade de imprensa. Segundo estimativa da ONG Repórteres sem Fronteiras, a situação da liberdade de imprensa no Irã é catastrófica. No ranking que engloba 173 países, o país ocupa o 166° lugar, uma posição antes da China.

A televisão estatal iraniana mantém um monopólio de sete canais de televisão, que antes da eleição foram usados, sobretudo, para divulgar a imagem de Ahmadinejad: em viagens pelo interior, diante de multidões jubilosas, em visitas a desprivilegiados.

Com a censura à mídia local, a internet e a telefonia celular tornaram-se, mais do que em qualquer outra eleição anterior no Irã, instrumentos de campanha eleitoral e de propagação de notícias, utilizados principalmente pela oposição.

Todavia, no contexto das eleições e da atual crise, nem mesmo a internet e os serviços de mensagens via celular escaparam da censura local, que passou a afetar também transmissões provenientes de emissoras estrangeiras.

Mídia de financiamento estatal

De fato, um terço dos iranianos tem acesso à TV estrangeira via satélite. Mais de 3 mil canais – ao menos 30 dos quais em persa – estão à sua disposição através de antenas parabólicas. Após a controversa eleição presidencial, todavia, o governo iraniano tenta fechar, ao menos parcialmente, também esse canal de informação critica. Segundo a emissora britânica BBC, seus serviços de rádio e televisão sofreram interferência proveniente de fontes situadas claramente no Irã.

Assim como em rádio e televisão, o cenário da mídia impressa iraniana também é marcado pelo financiamento estatal, que permanece ao lado do governo. Assim como, no contexto das eleições presidenciais, foi forte representante das posições de Ahmadinejad, pouco relatou sobre os protestos e passeatas após o pleito.

Existe também um pequeno número de jornais independentes que sofrem constantemente com a censura e o fechamento por parte do governo. Há cerca de um mês, por exemplo, o candidato presidencial Mir Hussein Mussavi fundou seu jornal Kalameh Sabs (palavra verde, em persa). Como outros jornais independentes, o jornal de Mussavi foi proibido após as eleições.

Controle da imprensa

O interesse na informação livre de censura é grande. O acesso ao serviço em língua persa da Deutsche Welle na internet duplicou nos últimos dias. No entanto, uma redatora do jornal independente Etemad Melli (confiança nacional, em persa), comentou sobre obstruções técnicas. "Temos internet de acesso rápido na redação, mas no momento não podemos abrir nem mesmo o site do e-mail do Google", explicou.

Rádio, TV e jornais estão nas mãos do governo iranianoFoto: picture-alliance/ dpa

A interrupção da internet não afeta somente as redações de jornais. No geral, as autoridades iranianas restringiram bastante as formas de comunicação, também para evitar a organização de protestos por parte da oposição.

As autoridades iranianas bloquearam não somente o serviço de envio de mensagens de texto pelo celular, mas também o acesso às redes sociais na internet, como Facebook ou Twitter, bastante populares entre os iranianos.

Novas mídias

Todos os candidatos utilizaram os serviços de mensagem de texto na campanha eleitoral, mas os correligionários de Mussavi o fizeram de forma mais intensiva, explicou Wahid Aghili, cientista da comunicação de Teerã. "É popular entre os jovens, a quem ele [Mussavi] se dirige. O mesmo vale para páginas de internet e blogs", afirmou.

O sucesso da campanha de Mussavi reflete o boom de nascimentos no Irã após a revolução de 1979. Cerca de um terço dos 46,2 milhões de eleitores tem menos de 30 anos. O governo dos mulás podem facilmente censurar os jornais reformistas, mas no caso da internet, no entanto, a situação é mais difícil.

Além das redes sociais, existem no país cerca de 60 mil weblogs ativos. Na blogosfera, o persa é a quarta língua mais representada em todo o mundo. Blogs e redes sociais na internet ganharam tanta influência, que o governo iraniano agora viu-se obrigado a reagir. Hackers, todavia, encontram sempre um caminho de furar o bloqueio.

CA/AS/dw/dpa/ap

Revisão: Rodrigo Abdelmalack

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