Irã retalia ONU e amplia centros de enriquecimento de urânio
12 de junho de 2025
Agência Internacional de Energia Atômica censura o país por não cumprimento de acordo nuclear, o que pode abrir caminho para sanções. Governo iraniano anuncia nova instalação de refino de urânio.
País já possui duas plantas de enriquecimento de urânio e centros de tecnologia nuclearFoto: Planet Labs PBC/AP/picture alliance
"A República Islâmica do Irã não tem outra escolha senão responder a essa resolução política", disseram o Ministério das Relações Exteriores e a Organização de Energia Atômica do Irã em um comunicado conjunto.
A medida da AIEA pode dar início a esforços para restaurar sanções contra o país ainda este ano via Conselho de Segurança da ONU. Esta é a primeira censura em 20 anos emitida pela ONU contra o Irã sobre o não cumprimento do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) – um acordo amplo referendado por 191 países.
Resolução de censura
Dezenove países do conselho de governadores da agência votaram a favor da resolução de censura, segundo diplomatas que falaram sob condição de anonimato, já que a votação foi realizada a portas fechadas.
A resolução foi apresentada por França, Reino Unido, Alemanha e EUA. Rússia, China e Burkina Faso votaram contra, enquanto 11 países se abstiveram e dois não votaram.
O texto exige que o Irã forneça respostas "sem demora" sobre traços de urânio encontrados em diversos locais que Teerã não declarou como instalações nucleares, segundo um rascunho visto pela agência de notícias AP.
Um dos locais foi revelado publicamente em 2018 pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu na ONU, que o descreveu como um armazém nuclear clandestino escondido em uma lavanderia de tapetes. O Irã negou, mas em 2019 os inspetores da AIEA detectaram traços de urânio ali e em outros dois locais.
Oficiais ocidentais suspeitam que é mais uma evidência de que o Irã mantém um programa nuclear secreto.
O rascunho da resolução da agência afirma que "as diversas falhas do Irã, desde 2019, em cumprir suas obrigações de fornecer plena e pontual cooperação em relação a material nuclear não declarado [...] constituem descumprimento de suas obrigações."
Irã escala produção de urânio pré-negociações de acordo nuclearFoto: IRIB/AP Photo/picture alliance
De acordo com essas obrigações, que fazem parte do TNP, o Irã é legalmente obrigado a declarar todo material e atividade nuclear que possui e permitir que inspetores da ONU verifiquem se as atividades têm fins pacíficos.
Falando à televisão estatal iraniana após a votação da ONU, o porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã disse que a entidade imediatamente informou a AIEA sobre as ações que Teerã pretende tomar.
"Uma delas é a ativação de um terceiro local seguro" para enriquecimento, disse o porta-voz Behrouz Kamalvandi. Ele não especificou qual é este ponto, mas o chefe da organização, Mohammad Eslami, mais tarde o descreveu como "já construído, preparado e localizado em um lugar seguro e invulnerável".
Outra medida seria a substituição de centrífugas antigas por modelos avançados em outra instalação de enriquecimento de urânio. "Nossa produção de material enriquecido aumentará significativamente", afirmou Kamalvandi.
O Irã possui duas instalações nuclleares subterrâneas, em Fordo e Natanz, e tem construído túneis nas montanhas próximas a Natanz desde que ataques de sabotagem atribuídos a Israel atingiram a instalação.
País prometeu renovar centrífugas antigas em centros de enriquecimento de urânio que já estão em funcionamentoFoto: SalamPix/abaca/picture alliance
Nesta quinta-feira (12/06) Donald Trump alertou que Israel ou os Estados Unidos poderiam lançar ataques aéreos contra instalações nucleares iranianas se as negociações não resultarem no desarmamento nuclear do Irã. A sexta rodada de conversas está marcada para começar no domingo, em Omã. Com o aumento de tensões, funcionários do governo americano considerados não essenciais foram orientados a deixar a região do Golfo.
Trump disse nesta quinta-feira que ainda espera que o Irã aceite as negociações, mas se disse preocupado com a possibilidade de um "conflito massivo" no Oriente Médio caso isso não ocorra.
"Não quero dizer que é iminente, mas parece algo que muito provavelmente pode acontecer", disse Trump ao ser questionado por um repórter sobre um possível ataque israelense contra o Irã. "É muito simples, não é complicado. O Irã não pode ter uma arma nuclear."
gq (afp, ap, dpa)
O mês de junho em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Israel e Irã trocam agressões em escalada militar
Israel lançou um ataque contra instalações nucleares do Irã, matando 78 pessoas, incluindo três dos chefes militares do país e dezenas de civis. A ofensiva desencadeou uma troca de agressões sem precendentes entre os países. Em retaliação, a República Islâmica disparou dezenas de mísseis contra Tel Aviv e Jerusalém, furando o Domo de Ferro israelense e ferindo 34 pessoas. (13/06)
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Queda de avião na Índia deixa mais de 200 mortos
Um avião da Air India com 242 pessoas a bordo caiu em uma área residencial logo após decolar perto do aeroporto de Ahmedabad, no oeste da Índia. Apenas um dos passageiros a bordo sobreviveu. A polícia indiana contabiliza ainda outras 24 vítimas que estavam no solo e morreram no momento do acidente. A causa do acidente está sendo investigada (12/06)
Foto: Ajit Solanki/AP Photo/picture alliance
Ajuda humanitária em Gaza na mira de militares israelenses
Pelo menos 21 palestinos morreram enquanto se dirigiam a locais de distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Entidades denunciam, além da violência, quantidade insuficiente de alimentos, após meses de bloqueio à entrada de itens básicos por Israel. O exército israelense alegou que disparou "tiros de advertência". O número de palestinos mortos em 20 meses de guerra já supera 55 mil. (11/06)
Foto: Saeed Jaras/Middle East Images/AFP/Getty Images
Réu no STF, Bolsonaro é interrogado em processo da trama golpista
Ao longo de dois dias, ex-presidente e outros sete ex-auxiliares acusados de integrar "núcleo crucial" da trama golpista depuseram na Primeira Turma. Político negou ter discutido planos de golpe após perder a eleição e disse que só debateu medidas constitucionais com militares, mas que não editou "minuta do golpe". (10/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Israel detém barco que levava Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila
A Marinha de Israel interceptou um barco que tentava levar ajuda humanitária a Gaza. O veleiro Madleen, da iniciativa internacional Flotilha da Liberdade, levava 12 ativistas a bordo. Eles foram escoltados até um porto e, segundo o governo israelense, serão deportados. (09/06)
Trump chama militares para reprimir protestos na Califórnia contra prisão de imigrantes
O presidente americano Donald Trump enviou militares da Guarda Nacional a Los Angeles para conter protestos que eclodiram na esteira de uma série de operações de detenção de supostos migrantes irregulares. A medida não tem apoio do governo do estado da Califórnia, que acusou Trump de tentar provocar uma crise. (08/06)
Foto: Frederic J. Brown/AFP
Rússia amplia ataques contra 2ª maior cidade da Ucrânia
A Rússia executou diversos ataques no centro de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, deixando cinco civis mortos e mais de 61 feridos, incluindo um bebê e uma adolescente de 14 anos. Bombas planadoras, um míssil e 53 drones atingiram prédios residenciais. O prefeito do município classificou a ação como o ataque mais severo desde o início da guerra. (07/06)
Foto: Sofiia Gatilova/REUTERS
Marcelo livre
Um juiz americano determinou a libertação do estudante brasileiro Marcelo Gomes da Silva, de 18 anos, que chegou aos Estados Unidos com cinco anos de idade e foi detido pelo Serviço de Imigração (ICE) a caminho de um treino de vôlei. Ele ficou preso por cinco dias, durante os quais dormiu em chão de concreto, sem acesso a chuveiro, acompanhado de homens com o dobro da sua idade. (06/06)
Foto: Rodrique Ngowi/AP
Musk e Trump trocam insultos e rompem relações
Bilionário que atuou como conselheiro da Casa Branca criticou projeto de lei de Orçamento de Trump que prevê cortes de impostos e aumento de gastos batizado pelo presidente como "Big Beautiful Bill". Musk chegou a endossar impeachment de Trump e associou presidente ao pedófilo Jeffrey Epstein. Trump reagiu dizendo que Musk "enlouqueceu" e ameaçou cortar contratos da SpaceX com governo. (05/06)
Foto: Nathan Howard/REUTERS
Moraes ordena prisão de Carla Zambelli após deputada deixar o país
O ministro do STF acatou pedido da PGR de prisão preventiva contra a deputada federal e determinou a inclusão dela na lista de procurados da Interpol. Moraes determinou bloqueio de salários, bens, contas bancárias e perfis em redes sociais. Parlamentar deixou o país após ser condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por envolvimento na invasão do CNJ. (04/06)
Foto: Adriano Machado/REUTERS
Governo da Holanda desmorona após saída de ultradireitista
Alegando insatisfação com a política migratória, Gert Wilders – também conhecido como "Trump holandês" – e seu partido deixaram coalizão de governo, levando primeiro-ministro Dick Schoof (foto) à renúncia após menos de um ano de mandato. Sem maioria no parlamento, Schoof permanecerá interinamente no cargo até a realização de novas eleições e formação de um novo gabinete. (03/06)
Foto: Peter Dejong/AP/picture alliance
Conservador Karol Nawrocki vence eleição presidencial na Polônia
Resultado é derrota para o governo do primeiro-ministro Donald Tusk e deve dificultar andamento de políticas pró-União Europeia. Apoiado pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), Nawrocki poderá vetar leis e desgastar o governo com bloqueios no Parlamento. Aliança frágil de Tusk pode não resistir até 2027. (02/06)
Foto: Czarek Sokolowski/AP/dpa/picture alliance
Ucrânia destrói aviões de guerra da Rússia em ataque massivo de drones
Na véspera de uma nova rodada de negociações de paz, Ucrânia e Rússia intensificaram sua ofensiva militar e protagonizaram ataques sem precedentes. Enquanto, Kiev destruiu 41 aviões militares na Sibéria, ofensiva de maior alcance no território russo em três anos de guerra, Moscou lançou número recorde de drones contra território ucraniano. (1º/06)