Condenados por terrorismo são acusados de participar do massacre de 1.700 militares numa antiga base aérea americana em Tikrit, em 2014. Anistia Internacional critica julgamento. Ainda cabe recurso.
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Um tribunal do Iraque sentenciou à morte nesta quinta-feira (18/02) 40 integrantes do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), acusados de matar 1.700 soldados iraquianos, a maioria xiitas, após a sua captura pelo EI em 2014.
O massacre ocorreu quando os militares tentavam deixar uma antiga base aérea americana na cidade de Tikrit, no norte do país, e tornou-se um símbolo da brutalidade dos jihadistas.
Na época, as imagens do massacre foram divulgadas na internet por integrantes do grupo terrorista. A corte em Bagdá emitiu as sentenças de morte com base em condenações por terrorismo. Sete acusados foram absolvidos por falta de provas.
O tribunal ressaltou que os condenados ainda têm direito à apelação. Pelas leis iraquianas, esse recurso em penas de morte ou prisão perpétua é automático, mesmo se não for dada entrada no processo. A execução de condenados à morte no Iraque depende também da ratificação do presidente.
Forças de segurança iraquianas prenderam dezenas de suspeitos de envolvimento no massacre dos soldados no ano passado, após recuperarem a cidade que estava em poder dos jihadistas desde abril. Funcionários da Justiça afirmaram que há mais de 600 suspeitos de terem participado do assassinato dos militares.
Em julho de 2015, 24 integrantes do EI acusados de participar do massacre já haviam sido condenados à morte e aguardam o julgamento de sua apelação. Todos negam envolvimento nos assassinatos. Alguns disseram que não estavam em Tikrit na época. Outros afirmaram que as confissões foram obtidas sob tortura.
A Anistia Internacional criticou o atual julgamento, afirmando que ele foi falho e revelou um "desrespeito imprudente pela justiça e pela vida humana". De acordo com a organização, quase cem pessoas foram condenadas à morte no Iraque em apenas seis semanas.
"As 92 sentenças de morte em apenas seis semanas são um indicador cruel do atual estado da Justiça no país. A grande maioria dos julgamentos foram grosseiramente injustos, com muitos dos acusados afirmando que foram torturados para confessar os crimes", disse o ativista James Lynch, da Anistia Internacional.
CN/rtr/afp
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.