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Irmãs criam organização de combate ao terrorismo no Líbano

12 de maio de 2015

Jovens arriscam a própria vida na luta contra o aliciamento de crianças e adolescentes por grupos como o "Estado Islâmico". Elas afirmam que amigos seguiram esse caminho e que já viram "lágrimas suficientes".

Irmãs Maya e NancyFoto: Maya/Nancy Yamout

"Mataremos você, sua irmã e sua família inteira", ameaçou um prisioneiro. Intimidações do tipo não impediram Maya Yamout de continuar seu trabalho no notório bloco B da prisão de segurança máxima de Roumieh, nos arredores de Beirute. O local abriga 160 suspeitos de terrorismo.

Maya e a irmã Nancy queriam descobrir por que os homens tinham se unido ao "Estado Islâmico" (EI) e a outras organizações terroristas. Durante dois anos, as jovens visitaram quase diariamente a cadeia para entrevistar presidiários. A tarefa mais difícil foi ganhar a confiança deles.

No Líbano, grupos radicais islâmicos não recrutam tantos combatentes como no Iraque ou na Síria. No entanto, libaneses também são mortos na guerra santa do autoproclamado califa do EI, Abu Bakr al-Baghdadi. Um deles é o ex-estudante de direito Alaa al-Hosni, cuja morte em Kobane foi um grande choque, mas não a única notícia preocupante para o Líbano.

Na cidade portuária de Trípoli, ocorreram no ano passado violentos confrontos entre radicais islâmicos e o Exército libanês. Células terroristas são formadas especialmente no distrito conservador de Bab al-Tabbaneh, onde sheiks sunitas radicais pregam uma visão distorcida e cruel do islã. O número de seguidores ainda é baixo, mas, para Maya e Nancy, já é alarmante.

Recrutamento na prisão

O fato de haver recrutamento também dentro da prisão fez com que as irmãs decidissem entrevistar os prisioneiros. "Em Roumieh, os terroristas fazem lavagem cerebral", afirma Maya. Ela conta sobre o encontro com um prisioneiro originário de uma família pobre em Trípoli. Aos 16 anos, ele fez entrega de explosivos a mando de sheiks radicais, em troca de uma refeição quente.

Após ser capturado, o jovem foi levado para Roumieh, onde ficou detido por oito anos sem ser julgado. "Quando foi finalmente libertado, me ligou e disse que iria se juntar ao EI na Síria", diz Maya. Ela culpa principalmente o sistema judiciário libanês pela radicalização dos presidiários. Os processos contra suspeitos de terrorismo se arrastam por períodos longos demais, dando muito tempo para os radicais islâmicos presos instrumentalizarem os outros detentos para seus próprios propósitos, afirma.

A penitenciária de Roumieh, no Líbano, abriga 160 suspeitos de terrorismoFoto: Reuters/M. Azakir

Foi árduo o caminho percorrido pelas duas jovens para ganhar a confiança de um total de 20 suspeitos de terrorismo. Primeiro, Maya e Nancy tiveram que convencer o chamado emir da importância de sua pesquisa. Há sempre um emir. Ele é o líder dos prisioneiros do bloco B, eleito por seus colegas de cela como uma espécie de representante. O atual é conhecido pelo pseudônimo Abu Walid, vem do sul do Líbano e pertence à Al Qaeda. Depois de uma longa conversa, ele finalmente deu luz verde às irmãs para falar com os prisioneiros em seu bloco.

Falta da figura paterna

O objetivo de Maya e Nancy era descobrir o que leva os jovens a cair nos braços de radicais islâmicos. "A maior parte dos 20 entrevistados não teve uma figura paterna a quem admirar, porque ou o pai havia morrido ou maltratado as crianças", conta Nancy. Especialmente os adolescentes são fáceis de manipular, segundo ela. "Exatamente num momento em que estão à procura de identidade e reconhecimento, eles acabam encontrando isso num líder islâmico radical", afirma.

Maya e Nancy fazem terapia com jovens entre 11 e 16 anos em escolas libanesas. A maioria deles vem da Síria, onde viram ou sentiram na própria pele a violência. "Os terroristas que entrevistamos em Roumieh também foram constantemente confrontados com a violência quando crianças. Comparamos suas experiências às dos jovens sírios. Assim, podemos ver quem apresenta risco de radicalização", diz Nancy.

Com as famílias dos pacientes, as irmãs, então, desenvolvem uma espécie de roteiro para o futuro, em que principalmente as aspirações de carreira dos jovens são levadas em conta e incentivadas. A organização delas se chama Rescue me! (Salve-me), e, aparentemente, elas estão tendo sucesso em sua luta pessoal contra o terrorismo.

Combatentes do "Estado Islâmico": radicais recrutam presidiários e até criançasFoto: picture-alliance/abaca

Impedir mortes de inocentes

Numa de suas oficinas nas escolas, elas atenderam um menino que aparentemente estava prestes a ir para um campo de treinamento do EI para crianças. Através dele, Maya soube como o grupo extremista transforma crianças em combatentes. "Um militante do EI deu-lhe uma arma e ordenou: 'Atire numa pedra!' O menino puxou o gatilho. Depois, teve que matar um gato. O próximo passo era atirar num corpo sem vida e, ao final do treinamento, matar alguém."

Em conversas com o garoto, as irmãs descobriram que ele gostaria de se tornar jornalista. Por isso, elas lhe deram a oportunidade de participar de um seminário de jornalismo e, logo, ele não falou mais no "Estado Islâmico". "Nós o impedimos de matar pessoas inocentes. Isso vale mais que todo o dinheiro do mundo", diz Maya, com um largo sorriso no rosto.

Com a Rescue me!, as irmãs pretendem ajudar muito mais pessoas, mas esbarram no problema do financiamento. "Precisamos de apoio. Estamos prontas para participar da luta mundial contra o terror", diz Nancy.

Para mostrar como está determinada, Maya mostra uma foto em seu smartphone, de um jovem com barba e portando uma kalashnikov – um mártir do EI. Enquanto olha o retrato, suas mãos tremem. "Minha irmã e eu fazemos esse trabalho, porque amigos nossos se juntaram a esses grupos. Queremos continuar, porque já vimos lágrimas suficientes."

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