Ironia marca declarações no futebol alemão
9 de janeiro de 2002Não é só no futebol brasileiro que declarações de jogadores, técnicos e dirigentes contribuem para enriquecer a conversa de torcedores, alimentam o bom humor nacional e entram até para os anais do besteirol. Na Alemanha, os profissionais do futebol igualmente repetem clichês e lançam frases de efeito nas entrevistas à imprensa.
A ironia é uma das marcas mais comuns nas declarações dos jogadores alemães. Em 2001, não foi diferente. Ao participar da 17ª conquista do Bayern de Munique no Campeonato Alemão, o armador Stefan Effenberg definiu a competição: "A Bundesliga é mesmo uma competição emocionante. Dezoito times querem ser campeão e, no fim, é sempre o Bayern que comemora."
Antes do último jogo do campeonato passado, o goleiro Oliver Kahn previu, mordazmente, o que esperava sua equipe, quando o Bayern precisava vencer para concretizar a definição de Effenberg. "Estamos motivados para a partida em Hamburgo. Todo o estádio estará contra nós. Toda a Alemanha estará contra nós. Não existe nada mais bonito."
"Na minha época, teria sido preciso uma amputação"
Mesmo desfalcado (só 14 jogadores tinham condições de jogo), o Bayern conquistou em 2001 também o título mundial em Tóquio. Orgulhoso e provocativo, o diretor Uli Hoeness disparou: "E olha que só ficaremos de fato perigosos quando todos os jogadores estiverem recuperados."
Bom de mídia, o presidente do Bayern é um dos especialistas em frases irônicas. Ao comentar vexames seguidos de grandes times, Franz Beckenbauer sugeriu uma nova fórmula para o Campeonato Alemão: "Talvez se devesse fixar em 60 pontos o limite mínimo a ser atingido. Se ninguém o alcançar, não há campeão." O Bayern sagrou-se tricampeão em 2001 com 63 pontos, um à frente do Schalke.
Beckenbauer também mostrou sua língua afiada ao comentar a rapidez na recuperação de lesões dos jogadores, como Élber e Jeremies. "Temos de dar graças à arte dos médicos. Na minha época, ainda teria sido preciso fazer uma amputação."
"Prefiro comer comida em lata"
O zagueiro Jens Novotny é freqüentador assíduo do departamento médico do Bayer Leverkusen e não vê problemas nisto. "Quando eu estiver 100% em forma e não sentir mais dores, deixo o futebol. Sempre há algum problema. É um bom sinal de que estou vivo."
Zebras no futebol não chegam a ser raridade e, quando elas acontecem, são sempre momentos férteis para a criatividade. "Eu prefiro baixar as persianas de minha casa, comer comida em lata e correr pelo campo com um saco na cabeça", disse o diretor Reiner Calmund, do Leverkusen, ao comparar as alternativas à vergonhosa derrota de 3 a 1, em casa, para o Energie Cottbus, na temporada passada.
O presidente Gerd Niebaum reagiu mais modestamente à atuação do Borussia Dortmund na derrota de 1 a 0 para o 1860 Munique. "Foi futebol relax total, sem técnica nem garra."
"Têm-se de arriar as calças"
Do lado dos inesperados vitoriosos, pode-se esperar explicações inusitadas. "Exatamente numa partida tranqüila para os nervos, têm-se de mostrar a verdadeira cara e arriar as calças", disse o zagueiro Strehmel após a surpreendente vitória de 1 a 0 do Unterhaching sobre o Bayern de Munique.
Na temporada passada, o Stuttgart perigou cair para a segunda divisão. Trocou de técnico a tempo para evitar o fiasco. Feliz Magath impôs linha dura e muito exercício aos jogadores. "Vale a pena lavar de novo as roupas de treino. Estão suadas novamente", admitiu o meio-campista Seitz.
E, como de hábito, não é só quem é do ramo que dá palpite. Ao visitar o time juvenil do Kaiserslautern, o chanceler federal Gerhard Schröder deu um conselho à garotada: "Tratem de serem jogadores profissionais e não chefe de governo. Vocês vão ganhar muito mais."