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Islã na Alemanha: deportar ou integrar?

(av)18 de abril de 2006

Uma condenação e duas absoluções por "assassinato em nome da honra" reacendem debate sobre integração de muçulmanos e acordam o medo latente de um grande grupo que se afasta cada vez mais da sociedade dominante.

Estrangeiros num departamento de imigração da AlemanhaFoto: dpa

Hatan Sürücü foi assassinada em 7 de fevereiro de 2005 com vários tiros à queima-roupa na cabeça. A jovem turca de 23 anos retornara à Alemanha grávida, fugindo de um casamento a que fora forçada em sua terra natal. Um "crime contra a honra", que seu irmão mais novo, Ayhan, puniu com a morte: ao adotar o modo de vida ocidental, Hatan teria trazido a vergonha para a família.

Hatan SürücüFoto: dpa - Report

Na última quinta-feira (13/04), Ayhan foi condenado por um tribunal de Berlim a nove anos e três meses de prisão. Segundo a legislação alemã, a pena máxima para um crime dessa ordem seria de dez anos.

Entretanto os dois irmãos mais velhos de Ayhan e Hatan foram absolvidos: embora seu envolvimento no ato seja tido como certo, faltavam provas. Feministas turcas consideraram a sentença um "convite ao homicídio".

Bomba-relógio

O caso causou indignação e revolta na Alemanha, sobretudo à luz do continuado debate sobre a integração dos muçulmanos conservadores, em choque perpétuo com os valores da sociedade dominante.

Paira o temor de que essa importante comunidade de imigrantes – muitos dos quais desempregados, sem instrução, nem cidadania alemã – esteja se isolando cada vez mais do restante do país.

Representantes de todo o espectro político da Alemanha apresentaram sugestões para solucionar o problema. Estas incluem aulas compulsórias do idioma alemão e testes para assegurar que os imigrantes compartilham dos valores sociais e culturais básicos do país.

Reações draconianas

Uma tendência determinante tem sido reagir com rigores draconianos a incidentes sensacionalistas como a morte de Hatan Sürücü. A bancada parlamentar da União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, exigiu uma política de "tolerância zero" para com tais assassinatos, que classificou como "uma forma vergonhosa de justiça com as próprias mãos".

Outros argumentam que uma política "multicultural" excessivamente liberal tem encorajado as autoridades a fazer vista grossa para os abusos. Tais conservadores propõem que estrangeiros culpados de um certo número de delitos sérios contra a lei nacional sejam sumariamente deportados.

Alpaslan Sürücü (d), um dos irmãos absolvidos, acompanhado de um parente ao deixar a prisão preventivaFoto: Picture-alliance/ dpa/dpaweb

Segundo Wolfgang Bosbach, líder de bancada da CDU/CSU, este seria o caso da família Sürücü, que deveria ser forçada a deixar a Alemanha por este "crime planejado a sangue frio".

Pouco após o anúncio da sentença contra Ayhan, tanto o secretário do Interior de Berlim, o social-democrata Erhart Körting, quanto o deputado democrata-cristão Friedbert Pflüger, sugeriram que os Sürücü se retirassem voluntariamente do país.

Contra as sociedades paralelas

Entretanto, o cardeal Karl Lehmann, presidente da Conferência dos Bispos Alemães, rejeita esse clamor pela deportação de estrangeiros não adaptados à sociedade alemã.

Segundo ele, tais exigências "só podem ser um ato de desespero político". Embora não excluindo a medida, em casos isolados, a extradição "não pode jamais ser o meio político universal para dominar o problema".

Curso de integração para estrangeirosFoto: dpa - Bildfunk

Por outro lado, o líder da Igreja Católica alemã acrescentou que as autoridades nacionais não devem jamais aceitar que se estabeleçam na Alemanha "sociedades paralelas", regidas por regras próprias. Os casamentos forçados e os assim chamados "assassinatos em nome da honra" se encontrariam entre essas regras inaceitáveis, declarou Lehmann.

Erro de quatro décadas

Embora reconhecendo como um problema grave a falta de disposição de certos imigrantes em se integrar ou em respeitar as leis do país de adoção, diversos especialistas e críticos acusam os diferentes governos da Alemanha de exacerbar a situação, partindo do princípio de que um dia os estrangeiros retornariam a seu país natal.

Desde que milhões de gastarbeiter ("trabalhadores convidados") vieram para a Alemanha nas décadas de 1960 e 1970, políticos de todos os partidos ascenderam ou deixaram o poder. Sua falha comum foi a ausência de um programa, para a eventualidade de que esses imigrantes não quisessem retornar a seus países de origem.

Numa tentativa de desviar as tensões crescentes, a chefe de governo Merkel convocou uma cúpula de integração, a que estarão presentes alguns dos principais líderes islâmicos da Alemanha.

Especialistas em integração fizeram outras sugestões à chanceler federal: dirigir-se diretamente à população de imigrantes num discurso televisionado, legendado em turco. Ou cooperar com o importante jornal Hurriyet, lido diariamente por grande parte da população de origem turca.

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