Islamofobia está em ascensão na Alemanha, diz estudo
15 de junho de 2016
Pesquisa mostra que 40% dos alemães acham que muçulmanos deveriam ser proibidos de entrar no país. Metade dos entrevistados diz se sentir como estrangeira em sua própria terra.
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Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (15/06) pela Universidade de Leipzig mostra que a islamofobia está em ascensão na Alemanha depois que um milhão de refugiados, a maioria muçulmanos, terem chegado ao país.
Metade dos entrevistados disse que às vezes se sente como um estrangeiro no próprio país devido à presença de muçulmanos – em 2014, a parcela da população que dizia o mesmo era de 43%; em 2009, de 30%.
O número de alemães que dizem que os muçulmanos deveriam ser proibidos de entrar na Alemanha também aumentou, passando para 40%, em relação aos 20% de 2009. Outro dado que chama a atenção dos pesquisadores é que 80% das pessoas ouvidas acham que a Alemanha não deve ser "tão generosa" ao examinar os pedidos de asilo.
"Grande parte da sociedade alemã ainda está disposta a desvalorizar e perseguir aqueles identificados como 'o outro' ou estrangeiro", dizem Oliver Decker e Elmar Braehler, autores do estudo.
O estudo feito a cada dois anos pela Universidade de Leipzig em cooperação com as fundações Heinrich Boell, Rosa Luxemburgo e Otto-Brenner ouviu 2.420 pessoas.
O resultado se reflete no aumento de ataques contra abrigos para refugiados no país – foram cerca de mil em 2015 – e no aumento do apoio ao partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD). A legenda defende a proibição de minaretes islâmicos, é contra o uso de burcas e classificou o Islã como incompatível com a Constituição alemã.
Divisão
A pesquisa mostra que a maioria dos apoiadores do AfD quer impedir que muçulmanos entrem na Alemanha. Já a maior parte dos que votam no Partido Verde discorda que a presença de seguidores do islã no país os fazem sentir como estrangeiros.
Na segunda-feira, durante um jantar do Ramadã em Berlim, o presidente alemão, Joachim Gauck, alertou para o perigo de "demonizar os muçulmanos" e da polarização religiosa e étnica.
Os muçulmanos representam 5% da população alemã. A maior parte é de turcos que chegaram ao país entre as décadas de 1960 e 1970 para trabalhar em fábricas e construções, ajudando a reerguer a economia destruída pela Segunda Guerra Mundial.
Dos refugiados que chegaram à Alemanha em 2015, a maioria fugiu de conflitos na Síria, Iraque e Afeganistão.
Além de refugiados de origem muçulmana, outros grupos também são afetados por opiniões de extrema direita.
"Enquanto o preconceito contra imigrantes em geral diminuiu um pouco, o foco do ressentimento contra requerentes de asilo, muçulmanos, bem como as populações sinti e roma, aumentou", diz o estudo.
O número de entrevistados que acredita que grupos de origem roma tendem a se envolver com a criminalidade aumentou para 60%. Cerca de 10% dos entrevistados também dizem que os judeus têm mais influência do que deveriam na sociedade alemã.
No leste alemão, é maior em relação ao oeste o número de entrevistados que acredita que estrangeiros vão à Alemanha para tirar vantagem dos benefícios sociais oferecidos pelo governo.
KG/rtr/dpa
Viagem à Europa da perspectiva de refugiados
Exposição em Hamburgo mostra longa jornada do ponto de vista dos migrantes, resultado do projeto #RefugeeCameras. Risco, desamparo e raros momentos de alegria permeiam as imagens.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Partida sem volta?
Em dezembro de 2015, o alemão Kevin McElvaney entregou 15 câmeras descartáveis e envelopes pré-selados a migrantes em Izmir, Lesbos, Atenas e Idomeni. Sete retornaram ao jovem fotógrafo e fazem parte do projeto #RefugeeCameras. Zakaria recebeu sua câmera em Izmir. O sírio fugiu do "Estado Islâmico" e do regime Assad. Em seu diário de fuga, ele escreve que só Deus sabe se ele voltará à Síria.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Travessia de bote
Zakaria documentou sua viagem marítima da Turquia até a ilha grega de Chios. Ele ficou sentado na parte de trás do bote. Na exposição em Hamburgo, as imagens feitas por refugiados são complementadas por uma seleção de fotos tiradas por profissionais, que ajudaram a montar a representação das rotas de fuga. Todos eles doaram suas obras para apoiar o projeto.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Chegada perigosa
Hamza e Abdulmonem, ambos da Síria, fotografaram a perigosa chegada de seu barco a uma ilha grega. Não havia voluntários para recebê-los. Foi justamente isso que McElvaney tinha em mente quando lançou a #RefugeeCameras. Segundo o jovem fotógrafo, até agora a mídia proporcionou somente um "vazio visual" a esse respeito.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sobrevivendo ao mar
Após o desembarque, vê-se um menino com roupas molhadas e colete salva-vidas numa praia. A imagem faz recordar Aylan Kurdi, o pequeno garoto sírio cujo corpo sem vida foi encontrado no litoral turco em setembro de 2015. A criança nesta foto conseguiu chegar viva à Europa. O seu destino é desconhecido.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sete câmeras
Hamza e Abdulmonem também tiraram esta foto instantânea levemente desfocada de um grupo de refugiados fazendo uma pausa. Das 15 câmeras que McElvaney entregou, sete retornaram, uma foi perdida, duas foram confiscadas, e duas permaneceram em Izmir, onde seus donos ainda estão retidos. As três câmeras restantes estão desaparecidas – assim como seus proprietários.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Família em foco
Dyab, um professor de Matemática sírio, tentou registrar alguns dos melhores momentos de sua viagem até a Alemanha. Na foto, veem-se sua esposa e seu filho pequeno, Kerim, que nos mostra um pacote de biscoito que recebeu num campo de refugiados macedônio. A imagem revela a profunda afeição de Dyab por seu filho, diz McElvaney: "Ele quer cuidar dele, mesmo na árdua viagem que foi forçado a seguir."
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Do Irã à Alemanha
A história de Said, do Irã, é diferente. O jovem teve de deixar seu país, depois de ter se convertido ao cristianismo. Ele poderia ter sido preso ou morto. Para ser aceito como refugiado, ele fingiu ser afegão. Após a sua chegada à Alemanha, ele explicou sua situação, para a satisfação das autoridades. Ele vive agora – como iraniano – em Hanau, no estado de Hessen.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Não apenas selfies
Said tirou esta foto de um pai sírio e seu filho num ônibus de Atenas a Idomeni.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Momento de alegria
Em outro registro feito por Said, um voluntário que trabalha num campo de refugiados em algum lugar entre a Croácia e a Eslovênia brinca com um grupo de crianças, que tentam imitar seus truques.