Informação foi divulgada pelo porta-voz do exército israelense. Braço armado do Hamas afirmou que Gaza será "maldição" para Israel. Lideranças árabes e americanas buscam cessar-fogo por ajuda humanitária.
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As Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram na noite desta quinta-feira (02/11) que cercaram completamente a Cidade de Gaza, enclave de onde partiram os ataques terroristas perpetrados pelo grupo terrorista islâmico Hamas no dia 7 de outubro e que deixaram mais de 1,4 mil mortos em território israelense.
"Os soldados concluíram o cerco à Cidade de Gaza, o centro da organização terrorista Hamas", declarou o porta-voz do exército israelense, Daniel Hagari.
Em resposta à declaração, o braço armado do Hamas, formado pelas Brigadas Ezzedine al-Qassam, disse que Gaza seria uma "maldição" para Israel e que seus soldados voltariam para casa "em sacos pretos".
Depois de quase quatro semanas de conflito, o número de mortos na Faixa de Gaza ultrapassou os 9 mil, sendo 3.760 crianças, de acordo com informações divulgadas por autoridades locais, ligadas ao Hamas.
Líderes americanos e árabes, a exemplo de aliados americanos, como a Jordânia, aumentaram a pressão para que Israel alivie o cerco ao enclave.
Também nesta quinta, a Câmara dos Deputados dos EUA, controlada por parlamentares do Partido Republicano, aprovou um projeto de lei que concede 14,3 bilhões de dólares em ajuda a Israel. Mas parlamentares democratas, que controlam o Senado, já avisaram que o projeto não deve seguir adiante.
Blinken viaja ao Oriente Médio
Nesta sexta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, deve viajar a Israel e à Jordânia, após proposta do presidente Joe Biden para negociar uma "pausa" devido à crise humanitária na região.
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O objetivo seria permitir a entrada de ajuda para palestinos e a retirada de mais estrangeiros e feridos – nos últimos dois dias, cerca de 800 pessoas deixaram o território da Faixa de Gaza.
Israel não respondeu imediatamente à sugestão de Biden. Mais cedo, porém, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, já havia indicado que não deve acatar pedidos de cessar-fogo no momento: "Estamos avançando. Nada vai nos deter", disse.
No último final de semana, Netanyahu afirmou que o conflito na Faixa de Gaza entrou em sua segunda fase com a expansão das operações militares por terra.
O objetivo, segundo o primeiro-ministro israelense, é destruir as capacidades militares e o controle que o Hamas exerce no território palestino, bem como resgatar os mais de 200 reféns sequestrados no início do mês.
Brasileiros tentam deixar Gaza
A Embaixada do Brasil na Palestina articula com autoridades egípcias e israelenses a repatriação de 34 pessoas que pediram ajuda para deixar Gaza, sendo 24 brasileiros e dez palestinos que querem migrar para o país. Desse total, 18 já estão na cidade de Rafah, na fronteira com o Egito, e 16 estão em Khan Yunis, distante dez quilômetros.
Mas, até o momento, os brasileiros seguem fora da lista de cidadãos estrangeiros ou com dupla nacionalidade autorizados a deixar a Faixa de Gaza pela passagem de fronteira com o Egito.
A passagem de Rafah, a única saída de Gaza não controlada por Tel Aviv, foi aberta pela primeira vez nesta quarta-feira, após um acordo firmado entre os governos de Egito e Israel, sob mediação do Catar e em coordenação com os EUA.
Com o Brasil ainda de fora, a segunda lista de países que podem retirar seus cidadãos inclui Azerbaijão, Bahrein, Bélgica, Coreia do Sul, Croácia, Estados Unidos, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Macedônia, México, Suíça, Sri Lanka e Chade.
Desde o início da guerra, aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), em operação coordenada com os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, já retiraram 1.445 pessoas e 53 animais. Nesta quinta, mais um voo chegou ao país com 32 passageiros vindos da Cisjordânia.
A maioria das pessoas autorizadas a deixar o enclave palestino – um total de 400 nomes – é de americanos, após pressão pessoal de Biden. Na quarta, o democrata havia declarado que a passagem segura para a saída de feridos e estrangeiros foi garantida "graças à liderança americana".
Alemanha proíbe atividades ligadas ao Hamas
Também nesta quinta-feira, a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, anunciou a proibição de qualquer atividade vinculada ao Hamas, e baniu também uma rede palestina atuante no país chamada Samidoun que promoveu atos de comemoração do ataque do Hamas contra Israel no dia 7 de outubro.
A proibição de atividades relacionadas ao Hamas na Alemanha já havia sido anunciada pelo chanceler federal, Olaf Scholz, em 12 de outubro, e torna-se efetiva após a ordem desta quinta do Ministério do Interior. O Hamas é considerado uma organização terrorista pela União Europeia e por Alemanha, Estados Unidos e outros países.
A Samidoun é uma rede palestina que opera na Alemanha sob os nomes Hirak – Palestinian Youth Mobilization Jugendbewegung (Germany) e Hirak e.V. Segundo o Departamento Federal de Proteção da Constituição da Alemanha (BfV), ela é vinculada à organização radical palestina PFLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina), que defende a luta armada contra Israel.
gb (AP, AFP, Reuters, ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.