Israel ataca aeroportos de Damasco e Aleppo, na Síria
12 de outubro de 2023
Enquanto Síria acusa Israel de "desviar a atenção" do conflito com o Hamas, embaixador israelense na Alemanha confirmou o bombardeio em pelo menos um dos aeroportos. Alvo seria carregamento de armas iranianas.
Anúncio
Israel executou ataques aéreos em dois aeroportos da Síria, de acordo com informações divulgadas nesta quinta-feira (12/10) pela mídia estatal local, citando uma fonte militar, depois parcialmente confirmadas pelo embaixador de Israel na Alemanha, Ron Prosor. Os ataques teriam ocorrido de forma simultânea e danificado as pistas dos dois principais aeroportos do país, Damasco e Aleppo.
Em declaração ao jornal alemão Die Welt, Prosor não confirmou o ataque em Aleppo, mas disse que o alvo da operação no aeroporto de Damasco foram "carregamentos de armas do Irã com mísseis e drones".
"Já fizemos isso no passado, algumas vezes por semana", afirmou, classificando como "intensivo" o fornecimento de armas por parte do Irã para a Síria e o Líbano: "É por isso que temos tantas armas e mísseis na região", complementou.
Segundo a revista alemã Der Spiegel, ao ser questionado se haveria também outros potenciais alvos em território sírio, Prosor respondeu que as ações se restringem apenas a "coisas que têm ligação direta com Israel": "Esses mísseis e esses drones são usados contra Israel. E nós atacamos diretamente esses carregamentos de armas. Mas estamos fazendo isso há muito tempo."
A mídia estatal síria tratou os ataques israelenses aos aeroportos de Damasco e Aleppo como uma "tentativa desesperada" de Israel para "desviar a atenção" do conflito com o grupo radical islâmico Hamas.
Esses foram os primeiros ataques na Síria desde o início do conflito entre Israel e Hamas, que no último sábado promoveu atentados terroristas que deixaram mais de mil mortos em território israelense.
Devido à investida do Hamas, Israel passou a bombardear Gaza, sitiando o enclave palestino que tem cerca de 2 milhões de habitantes. Em apenas seis dias, o conflito já deixou mais de 2.500 mortos de ambos os lados.
Autoridades palestinas alertam que o cerco israelense tem deixado a população civil à beira de uma "catástrofe humanitária". Os ataques retaliatórios de Israel ao Hamas têm provocado cortes no abastecimento de comida, água, combustível e energia, e o número de deslocados ultrapassa 330 mil.
"Mensagem clara"
Depois dos ataques terroristas promovidos pelo Hamas no em 7 de outubro, mísseis contra alvos israelenses foram disparados também a partir do território sírio. De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres, os ataques vieram de grupos palestinos na Síria.
Anúncio
Para Ramy Abdel Rahman, fundador do observatório, os ataques israelenses na Síria enviam uma "mensagem clara" ao Irã, ao governo sírio e ao Hisbolá: "Esse sinal israelense chegou ao regime. Não creio que veremos qualquer resposta síria a esses ataques, pelo menos por enquanto. O ataque é um alerta: os aeroportos serão completamente destruídos se o regime sírio atacar Israel nas Colinas de Golã."
Há décadas existe um conflito entre Israel e Síria na região das Colinas de Golã, um planalto montanhoso de 1.200 quilômetros quadrados com vista para o Líbano, a Síria e o Vale do Jordão. Importante em termos estratégicos, a área foi conquistada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e anexada na década de 80.
Bombardeios desde 2011
Desde o início da guerra civil síria, em 2011, Israel realizou diversos ataques aéreos, tendo como principais alvos os combatentes da milícia Hisbolá e outros grupos pró-Irã, bem como posições do Exército sírio.
O governo israelense dificilmente confirma os ataques, mas tem repetidamente afirmado que não pretende tolerar a expansão da influência iraniana na Síria. O Irã é acusado por Israel e pelos países ocidentais de apoiar o Hamas, que governa a sFaixa de Gaza, de onde partiram os recentes ataques terroristas a Israel. O Irã nega qualquer envolvimento.
Em ataques executados nos últimos anos por Israel, os aeroportos de Damasco e Aleppo, controlados pelo governo sírio, já haviam sido atingidos. O de Aleppo ficou fora de operação pela última vez após bombardeios em 28 de agosto, e o de Damasco, em 2 de janeiro.
gb/av (AFP, ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.