Israel cancela plano para deportar refugiados africanos
2 de abril de 2018
Após críticas a medida controversa, Netanyahu anuncia acordo com a ONU para transferir mais de 16 mil migrantes para nações do Ocidente, incluindo Alemanha e Itália. Autoridades desses países dizem desconhecer pacto.
Anúncio
O governo israelense anunciou nesta segunda-feira (02/04) que decidiu cancelar seu controverso plano para a deportação de milhares de migrantes africanos a seus países de origem. A decisão veio após um acordo com a ONU que prevê a transferência dessas pessoas a países do Ocidente.
"Israel e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) chegaram a um entendimento sem precedentes para o envio de ao menos 16.250 migrantes para nações ocidentais", afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em comunicado.
Sobre os outros milhares de migrantes africanos que vivem em Israel, Netanyahu se comprometeu a solucionar sua situação. Segundo o líder, aqueles que aguardam o pedido de refúgio poderão permanecer por pelo menos mais cinco anos no país.
Mais tarde, o premiê afirmou que alguns dos países que receberão os refugiados são Alemanha, Canadá e Itália – autoridades nesses Estados, porém, negaram ter conhecimento do acordo. A ONU também ainda não confirmou a decisão.
O Ministério do Exterior italiano informou que "não há um pacto com a Itália no âmbito do acordo bilateral entre Israel e o Acnur". Já um porta-voz do Ministério do Interior da Alemanha disse desconhecer qualquer plano para acolher migrantes vindos do país no Oriente Médio.
O gabiente de Netanyahu mencionou problemas legais e logísticos para justificar seu acordo com a ONU, embora pareça que os protestos e críticas internacionais também tenham desempenhado um papel na decisão.
O polêmico plano de deportação de africanos, anunciado em janeiro pelo governo israelense, previa que mais de 30 mil migrantes, em sua maioria do Sudão e da Eritreia, deveriam regressar ao país de origem ou ser enviados para um terceiro país. Caso contrário, poderiam ser presos.
O plano gerou uma discussão acirrada entre nacionalistas de direita – que argumentam que a presença de migrantes cristãos e muçulmanos representa uma ameaça à identidade do país como um Estado judeu – e progressistas e sobreviventes do Holocausto – que afirmam que Israel, dada sua história, tem o dever de receber refugiados que fogem do conflito e da fome.
O governo israelense, por sua vez, chegou a se referir aos requerentes de refúgio africanos como "infiltrados ilegais". No mês passado, o ministro da Educação, Naftali Bennett, chefe do partido populista de direita Lar Judaico, disse que permitir que eles fiquem transformará Israel em uma "agência de empregos para o mundo todo".
O plano de deportação de africanos provocou protestos há pouco mais de uma semana em Tel Aviv. Sob o lema "somos todos humanos", mais de 20 mil pessoas foram às ruas da cidade contra a expulsão dos milhares de refugiados.
Em fevereiro, cerca de 20 mil migrantes do sexo masculino receberam cartas avisando que eles tinham dois meses para deixar o país, ou correriam o risco de ir à prisão.
Em uma medida duramente criticada pelas Nações Unidas, alguns deles receberam um incentivo de 3.500 dólares e uma passagem de avião para um "país seguro" não revelado, que, segundo a imprensa israelense, seria Ruanda.
Estima-se que cerca de 37 mil eritreus e sudaneses residam atualmente em Israel. A maioria dos migrantes africanos entrou clandestinamente no país pela fronteira egípcia do Sinai. O governo israelense, porém, construiu um muro que agora separa ambos os territórios.
Segundo a ONG Hotline para Refugiados e Migrantes, cerca de 12 mil pessoas solicitaram refúgio ao chegar ao país desde 2013, mas 7 mil solicitações foram negadas. Até fevereiro deste ano, apenas 11 haviam sido aprovadas e as demais ainda estavam sendo processadas.
EK/afp/ap/efe/rtr
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac