Preocupado com o aumento da influência do Irã na guerra da Síria, Israel se envolve cada vez mais no conflito. Militares israelenses já reconheceram ter realizado cerca de cem ataques no país vizinho.
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Incerteza e especulação por todos os lados: quem estaria por detrás dos ataques da noite deste domingo (29/04) em várias bases militares sírias, executados com foguetes cuja força explosiva fez a terra tremer? Especulações, um dia depois, citaram um número de possíveis responsáveis: poderiam ser os americanos, mas também os israelenses.
As especulações em torno dos recentes ataques, que mataram 276 combatentes, a maioria deles iranianos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, ONG com uma rede de contatos entre os opositores do presidente Bashar al-Assad, mostram sobretudo uma coisa: a guerra na Síria está tomando dimensões cada vez mais amplas. Ela se limita cada vez menos ao território da Síria e se espalha para outros países.
E Israel parece estar intervindo cada vez mais. O governo do país está preocupado com a expansão da presença iraniana na Síria. "O Irã está fazendo da Síria uma nova frente contra Israel, um trampolim para conquistar Israel a partir de lá", disse a ministra israelense da Justiça, Ayelet Shaked. "Israel não ficará de braços cruzados, observando o Irã tomar conta da Síria", disse Shaked em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung. Os militares israelenses até agora já reconheceram ter realizado cerca de cem ataques contra alvos na Síria.
Irã e suas milícias
O Irã está presente na Síria com vários grupos de milícias. Teerã vem usando cada vez mais a guerra civil síria para interferir em Israel, afirma o cientista político Pinnhas Inbari, do Jerusalem Center for Public Affairs. "O governo local escolheu uma abordagem inteligente para atingir seu objetivo, que é o confronto com Israel", opina o especialista. Esse plano é levado adiante, acima de tudo, através de suas milícias. "Por que Teerã entraria em guerra aberta com Israel se isso também é possível através de seus aliados árabes na região?"
O Irã investe pesadamente no Hisbolá – atualmente, são 800 milhões de dólares anuais, de acordo com a revista especializada em economia Forbes. Há anos que o Hisbolá vem expandindo constantemente seu arsenal. Segundo Shaked, a organização tem cerca de 120 mil mísseis apontados na direção de Israel.
Diferenças confessionais aparentemente não têm muita importância nos planos iranianos. Por exemplo, segundo a Forbes, a empobrecida Faixa de Gaza, governada pelos sunitas do Hamas, está sendo subvencionada pelo Irã com até 70 milhões de dólares por ano. Os foguetes lançados da área em direção a Israel devem, portanto, não apenas brotar do desejo de liberdade dos palestinos, como o Hamas alega, mas deve também seguir diretrizes do regime iraniano, que não aceita a existência do Estado judaico.
"Linha vermelha"
No entanto, o aliado mais importante do Irã na região continua sendo o Hisbolá. Israel bombardeou repetidamente pontos na Síria nos últimos meses, nos quais, de acordo com fontes israelenses de inteligência, deveriam ser montadas fábricas de armamentos para o Hisbolá. "Muito embora o Hisbolá não possa custear uma guerra contra Israel", diz Inbari, lembrando que a organização xiita está ocupada com brigas internas de poder do Líbano e com a guerra na Síria. Isso faz com que o Irã passe a contar ainda mais com outros aliados – além do Hamas, principalmente com o grupo Jihad Islâmica.
Para Israel, o avanço do Irã é um enorme desafio, que o país enfrenta basicamente sozinho. Embora os EUA tenham respondido ao recente uso de gás tóxico pelo regime de Assad, o ataque foi dirigido exclusivamente contra o uso de armas químicas.
Os países ocidentais querem que o Irã se retire a Síria, mas não fizeram muito para tornar isso realidade. As bombas em resposta ao uso de armas químicas, que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama chamou de "linha vermelha", são, até agora, a reação mais forte do Ocidente. Israel, por outro lado, tem outras prioridades. "O próprio Irã é uma linha vermelha para Israel", compara Inbari.
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Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.