Israel forma governo de emergência e "gabinete de guerra"
11 de outubro de 2023
Partidos de situação e de oposição concordaram com composição. Acordo facilita aprovação de medidas de emergência. Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, suspende polêmica reforma do Judiciário.
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A coalizão governamental de Israel liderada pelo primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, e pelo partido Likud anunciou nesta quarta-feira (11/10) a formação de um governo de emergência em conjunto com o ex-ministro da Defesa e ex-chefe do Estado-Maior do Exército, Benny Gantz, do Partido da Unidade Nacional, um dos líderes da oposição.
A coalizão foi anunciada em meio à escalada do conflito com o Hamas na Faixa de Gaza. Segundo um comunicado, as partes concordaram em formar um "gabinete de guerra" composto por Netanyahu, Gantz e o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Esse órgão deverá existir enquanto durarem os combates com o Hamas na Faixa de Gaza.
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O comunicado diz que "ambos [os lados da política israelense] concordaram com o estabelecimento de um governo de emergência e de um gabinete de gestão de guerra".
Na prática, o acordo facilita que o primeiro-ministro aprove medidas de emergência sem o bloqueio de oposicionistas, já que os partidos governistas não têm maioria no Parlamento israelense, fazendo com que a oposição possa vetar propostas.
Também foi anunciado que o ex-chefe do Exército, Gadi Eizenkot, que é oposicionista, e o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, devem integrar o governo de emergência como observadores, sem direito a voto. Aliados ultraortodoxos e de extrema direita de Netanyahu permanecerão no governo.
Já no sábado, dia do ataque de radicais do Hamas em território israelense, Netanyahu ofereceu a dois políticos da oposição, Jair Lapid, do partido liberal Yesh Atid, e Benny Gantz, a composição em um governo de emergência.
As negociações para a inclusão de Lapid, no entanto, ainda não teriam sido concluídas, e os meios de comunicação locais alertam que isso se deve a desentendimentos com os parceiros de extrema direita da coligação governamental.
Reaproximação de ex-parceiros
Gantz já foi parceiro de governo de Netanyahu no passado, mas disputas internas e a recusa do atual primeiro-ministro em cumprir o acordo de rotação entre os dois – entre 2020 e 2021 – derrubaram a coligação.
Desde então, Gantz manteve-se do lado oposto de Netanyahu e recusou-se a juntar-se ao seu governo em diversas ocasiões.
Em meio à polêmica causada pela reforma no Judiciário promovida pela coalizão governamental chefiada por Netanyahu, Gantz se consolidou como a figura política que reúne o maior apoio popular em quase todas as pesquisas.
De acordo com o comunicado divulgado nesta quarta, Netanyahu concordou em suspender a polêmica reforma – defendida por ele –, que provocou meses de protestos em massa desde janeiro: "Nenhum projeto de lei ou moção patrocinada pelo governo que não esteja relacionado ao conflito será apresentado durante a guerra", afirmou.
Em um pronunciamento televisivo noite desta quarta-feira, o primeiro-ministro israelense disse que militantes do Hamas decapitaram soldados e estupraram mulheres durante o ataque do último sábado. Netanyahu afirmou que, em resposta aos atentados, Israel vai "esmagar e destruir" o Hamas.
Ele disse ainda que cada membro do grupo terrorista é um "homem morto". As afirmações feitas pelo premiê israelense, no entanto, não puderam ser confirmadas de forma independente, embora testemunhas e equipes de resgate tenham descrito cenas de terror.
gb (EFE, AFP, AP, Reuters)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
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1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
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1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
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1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
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1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
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2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
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2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
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2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
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2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
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2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
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Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.