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História

Fundação de Israel

Peter Philipp (rr)1 de maio de 2008

Israel comemora os 60 anos de sua fundação, que os árabes chamam simplesmente de 'catástrofe'. Mesmo críticos internos abafam o tom das comemorações. Uma retrospectiva de seis décadas entre sonho e desilusão.

Ben Gurion ao proclamar o novo Estado judeu em 1948Foto: picture-alliance / KPA/TopFoto

No dia 14 de maio de 1948, os líderes dos habitantes judeus da Palestina se reuniram no museu da ainda jovem cidade de Tel Aviv, a fim de tornar realidade o sonho que os imigrantes judeus tinham alimentado nas décadas anteriores: criar um Estado judeu nos moldes propagados pelo pai do sionismo político, Theodor Herzl.

O momento havia chegado: poucas horas antes de terminar o mandato britânico na Palestina e do alto-comissário deixar a região, David Ben-Gurion anunciou a criação do Estado de Israel.

Mas os israelenses logo perceberam que o sonho de Israel de fato nada mais foi que a passagem de um pesadelo para outro: da perseguição e destruição na Europa ao conflito latente e à ameaça declarada à sua existência. Durante décadas, o Oriente Médio negou-se a aceitar a existência e o direito de existência de Israel, cujo dia de independência é visto até hoje como nakba, termo árabe que denomina catástrofe.

Granadas pós-júbilo

Em poucas horas, a felicidade com o Estado próprio foi silenciada pela explosão de bombas e granadas, e Israel se viu diante de sua primeira guerra. Os membros da recém-fundada Liga dos Países Árabes esperavam poder exterminar o que, a seu ver, havia sido causado pelo Ocidente: pelos britânicos através da Declaração de Balfour de 1917, que assegurava apoio à criação de uma pátria judaica; pelas Nações Unidas, através da resolução de 1947 sobre a divisão da Palestina; e principalmente pelos Estados Unidos, que apoiavam ativamente a fundação do país.

Tropas israelenses na Guerra dos Seis DiasFoto: AP

Contra todas as expectativas, o plano árabe falhou e Israel pôde até expandir suas fronteiras para além das linhas definidas pela ONU. Mais de 750 mil palestinos foram forçados a deixar sua pátria – por temerem por suas vidas ou por terem sido expulsos. Sessenta anos depois, eles somam 4 milhões de pessoas e continuam sendo o problema central do conflito.

A derrota de 1948 ainda é um tema sensível no mundo árabe, talvez em todo o mundo islâmico, onde o resultado é contestado com promessa de vingança. Incapazes de aceitar a derrota diante do pequeno adversário, transferem a culpa para o Ocidente. Daí surgiu a lenda na qual se apóiam até hoje grupos radicais e demagogos: Israel nada mais seria que um posto avançado do Ocidente antiárabe e antiislâmico na região – tal qual o foram os cruzados.

Interesse comum

Adversários de Israel freqüentemente encontram confirmações para tal tese. Por exemplo em 1956, quando o país tratou de assuntos de interesse comum com franceses e britânicos: os europeus, interessados no Canal de Suez; os israelenses, em garantir a segurança de suas fronteiras com o Egito. Com o conflito entre Ocidente e Oriente de pano de fundo, Egito, Síria e Iraque se aliaram a Moscou, contribuindo para estreitar ainda mais os laços entre os EUA, Israel e países árabes conservadores.

1973: o general Moshe Dayan (e) com Ariel Sharon na Guerra do Yom KipputFoto: dpa

A principal mudança se deu durante a Guerra dos Seis Dias de junho de 1967, quando o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, ignorando as ameaças de Israel, ordenou o fechamento do Estreito de Tiran, justificando assim um ataque preventivo por parte de Israel. Nem a intervenção da Síria e da Jordânia pôde evitar que Israel conquistasse, em apenas seis dias, toda a península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as Colinas de Golã, na Síria.

Com isso, Israel passou a controlar toda a Palestina histórica. Muitos em Israel esperavam um "telefonema de Amã ou do Cairo", oferecendo a paz em troca da devolução de territórios ocupados. Mas os telefones não tocaram. Em vez disso, a Liga dos Países Árabes declarou em Cartum suas três negativas: não haveria reconhecimento de Israel, nem negociações e muito menos paz com os israelenses.

Paz com o arquiinimigo

Em 1973, durante a Guerra do Yom Kippur, tropas egípcias e sírias causaram grandes estragos em Israel e os árabes conseguiram reinflar sua autoconfiança ferida. Porém, esta guerra não teve um vencedor. A constelação permitiu então ao presidente egípcio Anuar Sadat, que havia se voltado ao Ocidente, lançar uma iniciativa de aproximação que em 1979 levaria à paz de Camp David.

1993: Rabin (e) e Arafat acertam em Washington detalhes do Acordo de OsloFoto: AP

Os palestinos poderiam ter usufruído de tal acordo de paz. No entanto, encorajados pelo mundo árabe, a recusaram. Outros 14 anos se passariam até que Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), sob o comando de Iasser Arafat, assinassem o Acordo de Oslo em 1993, que determinava a retirada das tropas israelenses dos territórios ocupados e a fundação de um Estado palestino. Agora, os principais grupos palestinos estavam dispostos a aceitar a solução de dois Estados recomendada pela ONU em sua partilha 46 anos antes.

O assassinato de Rabin

Mas houve resistência por parte de Israel. Os nacionalistas do partido Likud, liderado por Benjamin Netanyahu, falavam em traição à pátria histórica, pois viam toda a Palestina como "Eretz Israel", a nação bíblica que lhes pertencia. Eles alertavam contra os perigos que significaria a desistência dos territórios ocupados por Israel.

O premiê Itzak Rabin, que assinara o Acordo de Oslo, foi assassinado e, pouco tempo depois, Netanyahu foi eleito. Israel passou a sabotar cada vez mais a implementação dos termos previstos em Oslo.

1995: sepultamento de Itzak RabinFoto: AP

À crise política em Israel, somou-se a crescente insatisfação entre os palestinos. No outono de 2000, irrompeu um segundo levante. Durante a Intifada de Al Aqsa, como a revolta ficou conhecida, destruiu-se praticamente tudo o que de positivo havia sido obtido nas regiões palestinas desde o Acordo de Oslo.

A Palestina passou novamente de administração autônoma a território ocupado, e Israel, sob o comando de Ariel Sharon, começou a se encapsular através da construção de um controverso muro.

Fim das concessões

Com muito esforço, as negociações foram retomadas após a morte de Arafat – no entanto, sem trazer nenhum resultado. Na Palestina, os adversários da reconciliação voltaram a ganhar influência e, no começo de 2006, os islamistas do Hamas – vencedores das eleições – se recusaram a aceitar a existência de Israel e a reconhecer o Acordo de Oslo.

Especialmente no oeste, os palestinos ficam cada vez mais isolados e Israel encontra um pretexto para não fazer mais concessões. Principalmente na Faixa de Gaza, a situação se assemelha a uma guerra declarada.

Intifada: revolta em vez de pazFoto: dpa

Nem a intenção do presidente dos EUA, George W. Bush, de coroar seu último ano de mandato com um acordo de paz no Oriente Médio parece alterar o contexto. Nada indica que isso possa acontecer. Pelo contrário, a situação de palestinos e israelenses é cada vez mais desolada.

Palestinos se combatem entre si e, por mais que Israel tenha liberado uma quantia milionária para as comemorações dos 60 anos de sua fundação, a medida é tida internamente como controversa: críticos alertam que, apesar de o ano histórico ter sido declarado pelo governo como Ano da Juventude, mais de um terço dos jovens israelenses vivem abaixo da linha de pobreza – o que certamente não é motivo de comemoração.

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