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Bloqueio de Gaza

4 de junho de 2010

Enquanto crescem as críticas internacionais contra o bloqueio da Faixa de Gaza, governo israelense resiste em fazer concessões. Netanyahu considera comboios de ajuda uma "ação terrorista".

Guarda costeira isralense vigia porto de AshdodFoto: AP

O governo israelense insiste no bloqueio à Faixa de Gaza, apesar de a crítica internacional ter escalado desde o ataque ao comboio que transportava pelo Mediterrâneo um carregamento de ajuda humanitária à região, na última segunda-feira (31/05).

Após uma reunião de gabinete na quinta-feira à noite, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou que a guarda marinha intercepte um outro navio de ajuda que deverá atingir a zona de interdição a 32 quilômetros de Gaza nesta sexta-feira. O chefe de governo israelense ressalvou que ninguém deverá sair ferido da operação.

O navio irlandês Rachel Corrie, carregado de material destinado à ajuda da população da Faixa de Gaza, leva o nome de uma estudante mortalmente ferida durante um protesto contra a violência das forças israelenses em Gaza.

Entre os passageiros dos navios em questão estão onze personalidades internacionalmente conhecidas, entre as quais a irlandesa Mairead McGuire (Nobel da Paz) e Denis Halliday, ex-diretor do programa Petróleo por Comida para o Iraque, coordenado pelas Nações Unidas.

Depoimentos de ativistas

Após a libertação dos ativistas presos pela Marinha israelense, na última segunda-feira (31/05), multiplicam-se os relatos sobre desmandos e brutalidade da operação militar coordenada por Israel.

Investigadores turcos estão reunindo provas contra os responsáveis pela operação. A Promotoria Pública de Ancara convocou para depoimento os ativistas feridos durante o ataque, além de confirmar que os exames de médicos legistas alimentam as suspeitas de sequestro, homicídio e privação de liberdade.

A operação israelense contra a chamada Frota de Solidariedade a Gaza causou a morte de oito turcos e um cidadão norte-americano de origem turca.

"Assistimos a assassinatos"

A agência de notícias turca Anadolu comunicou, com base no testemunho de um médico legista, que as vítimas foram baleadas a queima-roupa pelos soldados israelenses. O diretor da organização islâmica IHH, Bülent Yildirm, organizadora do comboio de ajuda a Gaza, confirmou ter testemunhado essas cenas quando seu navio foi atacado pelas forças israelenses.

Outro ativista foi baleado, embora tivesse se rendido, afirmou ele, acrescentando que passageiros a bordo tentaram se defender agredindo os soldados com bastões de ferro. "Basicamente assistimos a assassinatos", declararam Mattias Gardell und Edda Manga, casal de professores suecos que estava a bordo do navio em questão.

Ativista turco ferido no ataque israelense chega a AncaraFoto: AP

Diante da crescente crítica internacional ao bloqueio da Faixa de Gaza, Israel parece ter cogitado a participação das Nações Unidas na vigilância das fronteiras. Observadores da ONU poderiam, a partir da cidade portuária israelense de Ashdod, revistar os carregamentos destinados à região costeira.

Isso foi o que noticiou a agência Reuters, com base em informações fornecidas por políticos próximos a Netanyahu. Nesse caso, entretanto, Israel confiscaria materiais como aço e cimento, sob alegação de que o governo do Hamas na região pudesse vir a usá-los para "construir estruturas militares". Até agora, Israel não permitiu a passagem de nenhuma quantidade de cimento para a Faixa de Gaza.

Ao se pronunciar sobre o comboio de ajuda a Gaza, Netanyahu afirmou que "esta não era nenhuma frota do amor, mas sim do ódio. Não foi uma ação pacífica, mas sim terrorista", disse o premiê israelense. Em um comboio de sete navios, ativistas de direitos humanos tentaram transportar material de ajuda à Faixa de Gaza, isolada por Israel desde a posse do Hamas, em 2007.

Ataque "insano", diz Ahmadinejad

Ancara voltou a anunciar a restrição das relações diplomáticas da Turquia com Israel. O vice-premiê turco, Bülent Arinc, declarou nesta sexta-feira (04/06) que diversos projetos bilaterais estão sendo revistos, sobretudo nas áreas de cooperação econômica e militar.

O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, definiu o ataque israelense ocorrido na última segunda-feira (31/05) como uma consequência da "fraqueza e insanidade" do governo israelense. Israel teria perdido "o último resto de juízo", declarou Ahmadinejad durante a celebração dos 21 anos da morte do aiatolá Khomeini.

O presidente norte-americano, Barack Obama, fez um apelo pela retomada do processo de paz no Oriente Médio. "Está na hora de rompermos esta estagnação e entendermos esta tragédia como chance", declarou ele em entrevista à emissora CNN, na quinta-feira.

A premiê alemã, Angela Merkel, reivindicou uma investigação abrangente e transparente da operação militar israelense contra o comboio internacional de ajuda. Merkel propôs que o inquérito conte com a participação de representantes do Quarteto para o Oriente Médio (União Europeia, Nações Unidas, Rússia e EUA).

Em telefonema ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, Merkel reiterou a reivindicação de que Israel abra as fronteiras da Faixa de Gaza para o transporte de ajuda humanitária e material necessário para a reconstrução da região.

SL/dpa/rtdt/ap/apn

Revisão: Soraia Vilela

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