Morte de líder da Jihad Islâmica em ataque aéreo gera forte reação e agrava onda de violência na região. Hamas evita se envolver no conflito, enquanto ainda lida com os danos e a pobreza deixados pela última guerra.
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Caças israelenses bombardearam alvos em Gaza na manhã deste sábado (06/08), um dia depois de ataques aéreos na região terem matado ao menos 15 pessoas, incluindo o líder da milícia Jihad Islâmica.
Militantes palestinos reagiram na sexta-feira com o lançamento de vários projéteis contra o sul do território de Israel. Os combates continuaram durante a noite, o que gerou temores sobre o início de uma nova guerra entre os dois lados.
A mais recente onda de violência em Gaza teve início com a morte de Taisir al-Jabari, líder da Jihad Islâmica na Cisjordânia. No início da semana, Israel já havia bloquado estradas em Gaza e enviado reforços às fronteiras com o território.
Jabari liderava a Jihad Islâmica desde a morte de seu antecessor em 2019, em outro ataque aéreo de Israel, que também resultou em uma onda de conflito.
Centenas de pessoas tomaram parte na procissão do funeral do líder islamista e das demais vítimas dos bombardeios, entre as quais também estava uma menina de cinco anos de idade.
Um porta-voz do Exército israelense disse que os ataques que mataram Jabari ocorreram em resposta a "ameaças iminentes" de dois esquadrões de militantes armados com mísseis antitanque. Segundo afirmou, ele foi designado como alvo por ter sido responsável por "múltiplos ataques" a Israel.
Autoridades israelenses relataram que em torno de 190 projéteis foram lançados contra Israel nas últimas horas, e em sua grande maioria foram interceptados pelo sistema de defesa Domo de Ferro ou atingiram locais inóspitos. Sirenes de alerta soaram em vários subúrbios de Tel Aviv na sexta-feira.
A Defesa de Israel disse estar preparada para uma semana de novas operações contra militantes palestinos.
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Desafio para premiê interino
Em pronunciamento nesta sexta-feira, o primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, disse que seu país lançou o ataque em reação ao que chamou de "ameaças concretas".
"Este governo adota uma política de tolerância zero contra qualquer tentativa de ataque – de qualquer tipo – a partir de Gaza contra o território israelense", disse Lapid. "Israel não ficará inerte enquanto houver aqueles que tentam ferir seus cidadãos."
"Israel não tem interesse em um conflito mais amplo em Gaza, mas não se omitirá se isso vier a ocorrer", completou.
O episódio de violência acaba sendo também um teste para Lapid, que assumiu como primeiro-ministro interino antes das eleições em novembro, quando espera se manter no cargo.
O político de centro – um ex-apresentador de televisão e escritor – possui alguma experiência diplomática depois de atuar como ministro do Exterior do governo em fim de mandato, mas tem poucas credenciais no que diz respeito à segurança.
Um conflito em Gaza poderia servir para lhe dar um novo impulso em questões de segurança, antes de enfrentar nas urnas o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, bastante experiente em termos de defesa, que governou o país durante três das quatro guerras com o Hamas.
O dilema do Hamas
O Hamas parece hesitar sobre seu envolvimento em um novo conflito, enquanto ainda lida com a devastação causada pela última guerra com Israel, há cerca de um ano.
O grupo islamista, que governa o enclave palestino desde 2007, já travou quatro guerras contra os israelenses, além de inúmeras batalhas de menor proporção nos últimos 15 anos, que geraram enormes prejuízos para o território que abriga dois milhões de palestinos.
Os esforços de reconstrução dos danos causados pelos bombardeios durante a última guerra foram quase nulos, enquanto a população sofre com o aumento da pobreza e do desemprego que atinge quase 50% da população.
rc (AP, DPA)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.