Faixa de Gaza
4 de janeiro de 2009Após oito dias de bombardeios aéreos, Israel deu início no sábado (03/01) a uma ofensiva terrestre na Faixa de Gaza. De acordo com testemunhas, tanques de guerra do Exército israelense já se encontram muito além da fronteira, em território palestino, enquanto a Marinha evita quaisquer movimentações ao longo da costa. Segundo a agência de notícias Maan News, a Cidade de Gaza foi isolada do resto do território.
"Dissemos desde o começo que a operação teria que ser ampliada e aprofundada, se necessário. Agora chegou o momento. Nosso objetivo é pôr fim às agressões contra cidadãos de Israel e alterar consistentemente a situação no sul do país", disse o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak.
O primeiro sinal da ofensiva terrestre foi o lançamento de mensagens em papel, distribuídas por aviões israelenses sobre zonas residenciais no norte de Gaza, nas quais a população era aconselhada a deixar suas casas. No entanto, as possibilidades de fuga eram poucas em um território invadido por terra, água e ar.
A decisão de invadir por terra foi tomada já na sexta-feira, informou um porta-voz do Exército israelense: "Nos encontramos na segunda fase da operação 'Chumbo Fundido'. O objetivo agora é afetar ainda mais a estrutura militar do Hamas e outras estruturas, e conquistar os territórios de onde mísseis são lançados. Queremos conter o fogo".
É provável que Israel – assim como em operações anteriores – dividirá a Faixa de Gaza em três zonas. Além disso, áreas situadas nas fronteiras externas devem, ao que parece, ser ocupadas. Até o momento, permanece improvável que Israel invada a Cidade de Gaza para um arriscado combate em meio a habitações.
Hamas não desiste
Israel almeja enfraquecer ou até destruir o Hamas. No entanto, a organização radical islâmica anunciou que não sucumbirá à invasão, nem suspenderá o lançamento de mísseis contra cidades israelenses. Ainda no sábado, diversos mísseis atingiram territórios israelenses. Além disso, a organização ameaçou sequestrar soldados e atacar a cidade de Dimona, está instalado um reator nuclear israelense.
O Hamas alerta que, ao enviar tropas, Israel estaria caindo nas "armadilhas que nossos combatentes prepararam para os soldados e tanques" inimigos. Estima-se que o Hamas conte com 25 mil combatentes e que tenha instalado minas em seu território em preparação contra a invasão.
Conselho de Segurança não chega a acordo
Enquanto o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon exige o fim imediato da ofensiva terrestre israelense, o Conselho de Segurança da ONU encerrou sua reunião de emergência no sábado, sem resultados. Após quase quatro horas de discussão, os participantes não puderam chegar a um acordo e a proposta de resolução apresentada pela Líbia, único país árabe no grêmio, foi vetada pelos Estados Unidos.
A reunião foi solicitada pelos países árabes. "É tarefa do Conselho de Segurança fazer com que Israel aquiesça. O país precisa obedecer o direito e a lei, e não a lei da selva", critica Ryan Mansour, observador das Nações Unidas na Palestina. "Israel tem o direito de se defender. Mas 1,5 milhão de palestinos na Faixa de Gaza vivem há uma semana em absoluto terror, 3 mil foram feridos ou mortos."
Para o presidente da Assembléia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel D'Escoto, isso prejudica a imagem das Nações Unidas. Segundo ele, em vez de tomar uma atitude, os membros do Conselho de Segurança discutem apenas quem começou. "Mais uma vez, o mundo observa perplexo como o Conselho não funciona."
Crise humanitária se intensifica
Funcionários de organizações de ajuda humanitária em Gaza temem que os novos ataques piorarão ainda mais a situação da população civil palestina. As Nações Unidas já alertaram para a escassez de trigo e a maioria das padarias teve de fechar as portas. Inúmeras casas não possuem mais água ou luz desde os ataques aéreos dos últimos dias.
Pouco antes da invasão, o Exército israelense cortou completamente o fornecimento de energia em Gaza e cerca de 1,5 milhão de pessoas se escondem em suas casas, na esperança de não serem atingidas.