Israel rejeita trégua no Líbano proposta por EUA e aliados
26 de setembro de 2024
Estados Unidos e outros países pedem cessar-fogo imediato de 21 dias. Mas Israel diz que continuará ataques contra o Hezbollah "com toda a nossa força".
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Os Estados Unidos, a França, a Alemanha e outros países aliados defenderam nesta quarta-feira (25/09) um cessar-fogo imediato de 21 dias ao longo da fronteira entre Israel e Líbano, ao mesmo tempo em que reforçaram o apoio a uma trégua na Faixa de Gaza, no conflito que está prestes a completar um ano.
"Apelamos por um cessar-fogo imediato de 21 dias ao longo da fronteira Líbano-Israel para abrir espaço para a diplomacia e rumo à conclusão de uma resolução diplomática", diz a declaração conjunta assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, juntamente com líderes da França, Alemanha, União Europeia (UE), Reino Unido, Austrália, Itália, Japão, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos.
O texto descreve a situação no Líbano como "intolerável" e não sendo "do interesse do povo de Israel ou do Líbano". A declaração foi assinada uma série de discussões dos representantes dos países signatários às margens da Assembleia Geral da ONU em Nova York e busca evitar uma possível invasão israelense no sul do Líbano.
A proposta, no entanto, foi rejeitada por Israel nesta quinta-feira. "Não haverá cessar-fogo no norte. Nós vamos continuar lutando contra a organização terrorista Hezbollah com toda a nossa força até a vitória e o retorno seguro dos moradores do norte para suas casas", escreveu o ministro do Exterior israelense, Israel Katz, na rede social X.
Os bombardeios israelenses nesta semana contra alvos do Hezbollah em diferentes partes do Líbano deixaram 596 mortos, incluindo 50 crianças, 94 mulheres e um jovem brasileiro de 15 anos, segundo autoridades libanesas. O grupo xiita apoiado pelo Irã reagiu com o lançamento de mísseis. A escalada no conflito levou 90 mil libaneses a abandonarem suas casas na região.
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"O inferno está à solta"
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apoiou o pedido de cessar-fogo imediato e disse que "o inferno está à solta" na região. "Temos de nos alarmar com a escalada, o Líbano está à beira do abismo", insistiu. Guterres repetiu ainda que "o mundo não pode deixar que o Líbano se torne outra Faixa de Gaza".
Na quarta, antes de rejeitar a proposta, o governo de Israel disse ver com bons olhos os esforços diplomáticos internacionais, ao mesmo tempo em que defendeu manter seu objetivo de minar o Hezbollah. "Somos gratos a todos os que fazem esforços sinceros através da diplomacia para evitar uma escalada, para evitar uma guerra total", afirmou o enviado israelense à ONU, Danny Danon.
Ele, no entanto, advertiu que seu país usará "todos os meios ao osso alcance, em conformidade com as leis internacionais, para atingir nossos objetivos".
O primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, deve viajar nesta quinta-feira para Nova York, onde deverá discursar na Assembleia Geral da ONU.
Líbano teme incursão terrestre
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, disse ter esperança de que um cessar-fogo possa ser alcançado em breve, em meio a temores de uma invasão por terra das tropas israelenses.
Nesta quarta-feira, o chefe do Estado-Maior de Israel, o tenente-general Herzi Halevi, colocou suas tropas em alerta para uma possível incursão terrestre no Líbano. "Vocês podem ouvir os aviões lá em cima, atacamos o dia todo. Tanto para preparar o terreno para a possibilidade de uma entrada quanto para continuar prejudicando o Hezbollah", declarou o oficial durante um exercício militar na fronteira.
Halevi detalhou que a possível manobra israelense consistiria em entrar em cidades do sul do Líbano que a milícia xiita "converteu em uma grande base militar" para destruir a infraestrutura do grupo na área.
O ministro do Exterior do Irã, Abbas Araghchi, disse que o Oriente Médio está à beira de uma "catástrofe em escala total" e disse que Teerã apoiará o Líbano "de todas as formas" se Israel intensificar sua ofensiva.
Míssil contra Tel Aviv
O Hezbollah disse nesta quarta-feira ter realizado um ataque com um míssil balístico à sede do Mossad, o serviço secreto israelense, nos arredores de Tel Aviv. Se confirmada, esta será a primeira vez que o grupo xiita teria utilizado esse tipo de armamento contra Israel em quase um ano de agressões mútuas ao longo da fronteira.
Militares israelenses disseram ter abatido um míssil que de grande porte que se dirigia a áreas civis em Tel Aviv, e negou que o alvo do ataque seria a sede do Mossad.
O Exército israelense informou ter atacado mais de 2.000 alvos no Hezbollah nos últimos três dias, incluindo 60 instalações de inteligência no país. O Ministério da Saúde do Líbano relatou que os ataques desta quarta-feira mataram 72 pessoas e deixaram 400 feridos.
Os primeiros ataques israelenses em massa no Líbano na segunda-feira mataram mais de 560 pessoas e feriram mais de 1.800, de acordo com autoridades libanesas, o maior número em um dia desde o fim da guerra civil de 1975-1990 no país.
rc/cn (Reuters, AFP)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.