Israel repreenderá embaixador por declarações de Lula
Publicado 18 de fevereiro de 2024Última atualização 19 de fevereiro de 2024
Presidente brasileiro comparou ações israelenses contra palestinos em Gaza ao genocídio dos judeus por Hitler. Antes, petista já falara de "atos de terrorismo". Netanyahu afirma que petista "cruzou linha vermelha".
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O ministro israelense do Exterior, Israel Katz, anunciou que convocará na segunda-feira (19/02) o embaixador do Brasil em Tel Aviv para uma reprimenda por comentários do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a conduta militar do país na Faixa de Gaza. "Ninguém vai comprometer o direito de Israel de se defender", postou o chefe da pasta neste domingo na plataforma X (ex-Twitter).
Durante uma entrevista no encerramento da 37ª Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, Etiópia, Lula traçou paralelos entre as mortes causadas por Israel na Faixa de Gaza e o Holocausto, ao ser questionado sobre a decisão de alguns países de suspenderem repasses financeiros à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
Argumentando que, se houve um "erro" na UNRWA, que os responsáveis sejam investigados, mas a ajuda humanitária não pode ser suspensa, acrescentou estar "imaginando qual é o tamanho da consciência política" e "do coração solidário dessa gente", uma vez que "na Faixa de Gaza, não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio; não é uma guerra entre soldados e soldados".
"É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças", disse o petista, e reforçou: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o [Adolf] Hitler resolveu matar os judeus."
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"Cruzou uma linha vermelha"
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o presidente brasileiro "cruzou uma linha vermelha". “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender", escreveu em sua conta na X.
Ele confirmou ter determinado a convocação do embaixador do Brasil em Israel para uma dura conversa de reprimenda.
Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou o que classificou como declarações "infundadas" de Lula, explicitando: "Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu."
Para a entidade, a comparação feita por Lula seria uma "distorção perversa da realidade", e o governo "vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira".
Lula não faz segredo sobre posicionamento no Oriente Médio
A atual guerra entre Tel Aviv e o grupo extremista islâmico, considerado terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia (UE) e vários países do Ocidente e que controla parte de Gaza, foi desencadeada por um ataque do Hamas, em 7 de outubro, contra o sul de Israel, que causou mais de 1.160 mortes, a maioria civis, segundo dados oficiais israelenses, além de levar cerca de 250 reféns.
Em represália, o governo de Benjamin Netanyahu lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que já resultou em 28.775 mortos, também na grande maioria civis, consta do balanço divulgado pelo Ministério da Saúde do Hamas na sexta-feira.
Desde o início, Lula não tem feito segredo de que, neste conflito, seu posicionamento é crítico aos israelenses. Em 25 de outubro, em evento em Brasília, já comparara a um "genocídio" a ação dos militares no território israelense. Em 13 de novembro, referiu-se a "vários atos de terrorismo". Em janeiro, o Brasil apoiou a petição da África do Sul junto à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, declarando o procedimento de Israel contra os palestinos como genocídio.
av/le/rk (Lusa, EBC, Reuters, ots)
Morte e desespero em Gaza
Uma catástrofe humanitária atinge a Faixa de Gaza. Após os ataques do Exército israelense em retaliação aos atentados terroristas do grupo radical islâmico Hamas, o número de mortos e feridos só aumenta.
Foto: Fatima Shbair/AP/picture alliance
Fumaça preta sobre escombros
Uma imagem de destruição máxima: três dias após os ataques do grupo fundamentalista islâmico Hamas, classificado como organização terrorista pela UE, EUA e outros países, Israel intensificou os bombardeios na Faixa de Gaza. A retaliação foi anunciada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu: "O que faremos com nossos inimigos nos próximos dias repercutirá por gerações."
Foto: Belal Al SabbaghAFP/Getty Images
Centenas de prédios destruídos
Segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), cerca de 800 edifícios na Faixa de Gaza foram completamente destruídos, e mais de 5 mil foram severamente danificados. Além disso, o abastecimento de água foi interrompido para cerca de 400 mil pessoas.
Foto: Mohammed Talatene/dpa/picture alliance
Mais de mil mortos de ambos os lados
Equipes de resgate buscam sobreviventes após ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza. Em apenas seis dias, o conflito entre o Hamas e Israel já deixou mais de 2,5 mil mortos de ambos os lados.
Foto: Mahmud Hams/AFP/Getty Images
Luto pelas vítimas
Um homem carrega o corpo de uma criança morta no ataque israelense ao campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, antes de ela ser enterrada ao lado de outras vítimas. Segundo autoridades de saúde palestinas nesta quinta-feira (12/10), mais de 440 crianças e mais de 240 mulheres estão entre os mortos em Gaza.
Foto: Mahmud Hams/AFP/Getty Images
Fugir para onde?
Palestinos na Faixa de Gaza fogem dos ataques israelenses em um micro-ônibus. Segundo informações da ONU, mais de 338 mil pessoas já foram deslocadas de suas casas. Grande parte está se abrigando em escolas, e outras, em residências particulares. A fuga de Gaza deixou de ser possível depois que Israel isolou a área.
Foto: Saleh Salem/REUTERS
Israel controla a fronteira
Tropas de Israel patrulham a fronteira com Gaza. Na noite de 7 de outubro, combatentes do Hamas romperam barreiras em alguns pontos e entraram em território israelense. A cerca, que tem 60 quilômetros de extensão, foi construída em 1994. A fronteira com o Egito também é cercada numa faixa de um quilômetro.
Foto: Oren Ziv/AP/picture alliance
Movimentação de tropas
Após a mobilização de mais de 300 mil reservistas por parte de Israel, muitas pessoas na Faixa de Gaza temem uma ofensiva terrestre das forças israelenses. Veículos e equipamentos militares foram agrupados ao longo da fronteira. Além disso, as populações das cidades israelenses que fazem fronteira com Gaza foram quase que totalmente evacuadas.
Foto: Ilia Yefimovich/dpa/picture alliance
"Desastre absoluto"
Crescem os temores de uma catástrofe humanitária na Faixa de Gaza. O secretário-geral do Conselho Norueguês de Refugiados, Jan Egeland, alertou sobre um "desastre absoluto". Uma "punição coletiva" da população violaria a lei internacional: "Se crianças feridas morrerem em hospitais porque não há eletricidade, isso pode ser um crime de guerra."
Foto: Mahmud Hams/AFP/Getty Images
Jahia Sinwar, líder do Hamas
Jahia Sinwar, chefe do Hamas na Faixa de Gaza desde 2017, é considerado um dos líderes do ataque terrorista a Israel. O extremista, que cresceu em um campo de refugiados em Gaza, é o segundo homem mais poderoso depois do líder supremo Ismail Haniya. Sinwar conceitua "seu povo" como "mártires que preferem morrer a ceder à humilhação frente ao inimigo".
Foto: Mohammed Abed/AFP
Escalada da violência
A escalada da violência continua. Um porta-voz do Hamas disse a agências de notícias que toda vez que Israel bombardear civis sem aviso, um refém israelense será morto. O ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, respondeu à ameaça, alertando sobre mais violência contra os reféns: "Esses crimes de guerra não serão perdoados."