Como Israel tenta destruir a rede financeira do Hezbollah
Arthur Sullivan
24 de outubro de 2024
Bombardeios recentes têm visado locais associados ao sistema financeiro da milícia libanesa. Principal alvo até agora foi um banco, mas especialistas dizem que o grupo tem outras fontes de renda.
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A campanha militar de Israel contra o Hezbollah, grupo libanês apoiado pelo Irã, voltou-se para um novo alvo esta semana: a infraestrutura financeira da milícia.
No domingo (20/10), Israel bombardeou Beirute e outras partes do Líbano que, segundo Tel Aviv, seriam filiais da Associação Al-Qard Al-Hasan (AQAH), banco ligado ao Hezbollah.
No dia seguinte, em uma mensagem em vídeo divulgada na internet, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Daniel Hagari, fez uma série de alegações sobre o financiamento do Hezbollah e o motivo dos ataques.
Ele acusou o Hezbollah de ter explorado a "profunda crise financeira" do Líbano nos últimos anos em benefício próprio e disse que a rede financeira do grupo é alimentada por duas fontes principais: o Irã e o próprio povo libanês.
Sem apresentar provas, Hagari também alegou que o Hezbollah armazena "centenas de milhões de dólares" em um bunker debaixo de um hospital no centro de Beirute.
O que é o Al-Qard Al-Hasan?
Ex-conselheiro sênior da Casa Branca quando o assunto é lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, David Asher participou de campanhas anteriores do governo americano contra o financiamento do Hezbollah. Em conversa com a DW, ele descreve a AQAH como "não um banco no sentido convencional", mas "uma associação de poupança e empréstimo".
A entidade tem um papel fundamental no Líbano para o Hezbollah, segundo Jonathan Lord, diretor do Programa de Segurança do Oriente Médio no think tank Center for a New American Security.
"Eles fornecem serviços financeiros", explica Lord à DW. "Tem sido uma vantagem competitiva estratégica para o Hezbollah no Líbano, porque o setor bancário tradicional, particularmente nos últimos anos, tornou-se muito complicado e desafiador devido à corrupção do Líbano e aos amplos problemas bancários e econômicos."
O AQAH foi criado em 1983 e estima-se que tenha cerca de 30 ramificações. O banco é popular em áreas onde o apoio ao Hezbollah é tradicionalmente mais forte, mas cresceu desde o colapso parcial do sistema bancário libanês tradicional, na esteira da crise financeira que arrasou o país em 2019.
A instituição não é regulada pelo Banco Central libanês, nem é parte do sistema bancário internacional. Maior organização de microcrédito do país, atua com um registro de associação de caridade, fazendo empréstimos sem cobrança de juros, conforme preconiza o islã. Por ser considerado um braço econômico do Hezbollah, está sob sanções americanas desde 2007.
Como o Hezbollah se financia?
Segundo Hagari, do Exército israelense, as duas principais fontes de renda do grupo são o regime do Irãe, no caso do povo libanês, os serviços financeiros e sociais providos pelo banco Al-Qard Al-Hasan.
Mas o ex-conselheiro da Casa Branca David Asher afirma que o banco "é apenas uma parte da equação".
Ele explica que uma parte importante da função do AQAH para o Hezbollah é pagar os "membros da base" da milícia e oferecer vários tipos de serviços sociais e financeiros ao público. Mas destaca que o Hezbollah também usa o sistema bancário libanês convencional e que a riqueza do grupo está distribuída de várias formas.
Asher calcula que o orçamento do grupo gire em torno de 12 bilhões e 15 bilhões de dólares anuais (R$ 68 bilhões e R$ 85 bilhões).
Quanto à alegação de Israel de que grande parte da riqueza do Hezbollah vem do Irã, Jonathan Lord diz que isso é inegável, e que o Hezbollah existe literalmente como uma parte da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã.
"Se você observar a ordem de batalha do Irã, eles contam o Hezbollah como um componente de sua infraestrutura de defesa nacional", sublinha Lord, acrescentando que isso torna altamente crível a alegação de Israel de que o Irã financia diretamente o Líbano com dinheiro que envia à sua embaixada no país.
Segundo Asher, outra grande fonte de riqueza para o Hezbollah vem dos lucros de crimes, como tráfico de drogas e comércio ilegal de diamantes extraídos de áreas de conflito. Ele diz haver ampla evidência de que o Hezbollah arrecada dinheiro através de redes criminosas em todo o mundo e depois lava grande parte dele com negócios supostamente legítimos, muitas vezes na Europa.
Ele estima que o Irã forneça até metade das reservas do Hezbollah, com uma grande parte dos 50% restantes vindo dos lucros de atividades criminosas ao redor do mundo.
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Qual é a situação da economia libanesa?
A situação econômica do Líbano tem sido rotineiramente descrita por especialistas como catastrófica desde 2019. As sanções contra o Irã levaram a uma grave crise de liquidez no Líbano naquele ano, agravada pela pandemia de covid-19 e pela explosão no porto de Beirute em 2020.
A moeda e o sistema bancário do país entraram em colapso, assim como grande parte dos seus serviços públicos. O PIB foi quase reduzido pela metade. Cerca de 1 milhão de pessoas foram deslocadas nas últimas semanas devido aos bombardeios, o que representa cerca de 20% da população total do país.
Beirute dois anos após a explosão
04:11
Plano israelense dará certo?
Lord afirma que o objetivo declarado de Israel de atacar a infraestrutura financeira do Hezbollah sugere uma mudança em relação às campanhas anteriores.
No entanto, alerta ele, embora as forças de Tel Aviv estejam causando prejuízo evidente ao grupo, há um risco real de que o conflito se arraste e vire uma espécie de "Vietnã" para Israel.
Asher diz crer que os ataques israelenses desta semana visando o AQAH e a estrutura financeira do Hezbollah tenham eliminado "cerca de 30% a 40% da liquidez disponível" do grupo.
Por outro lado, ele pondera que o Hezbollah ainda tem muita riqueza investida no sistema financeiro libanês convencional e diz que a abordagem atual de Israel provavelmente não afetará as fontes de receita que continuam a chegar do Irã "e de suas várias atividades criminosas ao redor do mundo".
O mês de outubro em imagens
O mês de outubro em imagens
Foto: Tomer Neuberg/Xinhua/dpa/picture alliance
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Sentença contra ex-PMs veio mais de seis anos após o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes. A pena de Ronnie Lessa, autor dos disparos, é de mais de 78 anos de prisão; a de Élcio Queiroz, que dirigiu o carro usado no no atentado, é de mais de 59 anos. Os dois, porém, firmaram um acordo de delação premiada e devem passar bem menos tempo na cadeia. (31/10)
Foto: Pablo Porciuncula/AFP/Getty Images
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Foto: David W Cerny/REUTERS
Atentado na Turquia
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Foto: AP/picture alliance
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A 16ª cúpula do Brics começou na cidade russa de Kazan. O primeiro grande evento do gênero sediado pela Rússia desde o início da guerra na Ucrânia tem sido visto como um palco usado pelo líder e anfitrião Putin para mostrar que o país não está completamente isolado. O evento não tem a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cancelou a viagem por recomendação médica. (22/10)
Foto: Alexander Zemlianichenko/AP/picture alliance
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A Alemanha abriu operações de um quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte na cidade costeira de Rostock, no norte do país. Segundo o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, o controle do Mar Báltico é importante devido ao avanço da Rússia sobre a Ucrânia ."A segurança na região do Báltico está intrinsecamente ligada à segurança da Europa como um todo", disse. (21/10)
Foto: Bernd Wüstneck/dpa/picture alliance
Bombardeios de Israel matam mais de 80 no norte de Gaza
Ataques israelenses contra um complexo residencial no norte da Faixa de Gaza deixaram pelo menos 87 pessoas mortas e 40 feridas, informou o Ministério da Saúde do território. Este é um dos ataques mais letais desde o início do conflito em 7 de outubro de 2023, quando o grupo extremista Hamas matou 1,2 mil pessoas em Israel. (20/10)
Foto: IMAGO/CTK Photo
Casa de Benjamin Netanyahu é alvo de ataque de drone
Israel confirmou que um drone que atingiu a cidade costeria de Cesareia tinha como alvo a residência de férias do premiê Benjamin Netanyahu, mas ninguém se feriu. O primeiro-ministro acusou o Irã e o grupo xiita libanês Hezbolah de tentar assassiná-lo, e disse que o país e seus aliados pagarão "um preço alto" pelo ataque. (19/10)
Foto: Ariel Schalit/picture alliance/AP
Biden faz última visita à Alemanha em seu governo
O presidente dos EUA, Joe Biden, se encontrou com o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, no que deve ser a última visita do americano à Alemanha em seu governo. Em um comunicado, os líderes reiteraram o apoio à Ucrânia e discutiram nova rodada de assistência econômica e humanitária ao país. (18/10)
Yahya Sinwar foi mentor dos ataques de 7 de outubro. Ele assumiu a liderança do grupo extremista em julho, ao suceder Ismail Haniyeh, morto no Irã em ataque atribuído a Israel. Netanyahu diz que "guerra não acabou", mas líderes mundiais veem marco no conflito e pedem liberação de reféns. (17/10)
Foto: Yousef Masoud/SOPA Images via ZUMA Press/alliance
Quando um desenho resulta em dois anos de prisão
Em abril de 2022, a russa Masha Moskaleva, de 12 anos, fez na escola um desenho em oposição à guerra na Ucrânia. Isso alertou as autoridades contra seu pai solo. Nas redes sociais, ele teria "desacreditado" o Exército, sendo levado a julgamento. Agora Alexei Moskalyov finalmente saiu da cruel colônia penal onde passou 22 meses. Ativistas acusam repressão como na época soviética. (16/10)
Foto: Maria Moskaleva
Coreia do Norte explode estradas que conectam a Seul
Segundo informações divulgadas pelo Exército sul-coreano, Pyongyang "detonou partes das estradas de Gyeongui e Donghae ao norte da Linha de Demarcação Militar". Seul reagiu com o disparo de tiros de advertência. Essas estradas são consideradas simbólicas na ligação de dois países separados desde a Guerra da Coreia, no início dos anos 50. (15/10)
Foto: Lee Sang-hoon/Matrix Images/picture alliance
Nobel de Economia premia estudo sobre prosperidade de nações
A Real Academia Sueca de Ciências em Estocolmo concedeu o Prêmio Nobel de Economia de 2024 a um trio de pesquisadores baseados nos Estados Unidos. O turco-americano Daron Acemoglu e os britânico-americanos Simon Johnson e James A. Robinson foram escolhidos por suas pesquisas sobre as diferenças de prosperidade entre as nações. (14/10)
Foto: Christine Olsson/TT/picture alliance
Tanques israelenses invadem base da Unifil no Líbano
Missão de paz da ONU no Líbano relatou que dois tanques israelenses destruíram o portão principal e forçaram a entrada em uma base no sul do país. Secretário-geral da ONU diz que tais instalações "jamais devem ser alvos". "Ataques contra forças de paz são uma violação das leis internacionais e podem constituir crimes de guerra", criticou António Guterres. (13/10)
Foto: Thaier Al-Sudani/REUTERS
China anuncia novo pacote de estímulo à economia
China anuncia novo pacote de estímulo à economia com base em um aumento considerável em sua emissão de dívida pública, no intuito de apoiar governos regionais, cidadãos de baixa renda, mercado imobiliário e bancos estatais.A segunda maior economia do mundo enfrenta grandes pressões deflacionárias devido a uma forte desaceleração no mercado imobiliário e à queda na confiança do consumidor. (12/10)
Foto: Alex Plavevski/EPA
Organização antinuclear japonesa ganha Prêmio Nobel da Paz
A organização japonesa Nihon Hidankyo, fundada nos anos 1950 por sobreviventes de bombas atômicas, recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2024 por sua atuação contra as armas nucleares. Segundo o comitê do Nobel, a entidade foi escolhida "por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar, por meio de testemunhas, que essas armas nunca mais devem ser usadas". (11/10)
A escritora sul-coreana Han Kang foi laureada com o Prêmio Nobel de Literatura, anunciou a Academia Sueca, em Estocolmo. Segundo a instituição, Han foi escolhida "por sua prosa poética intensa que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana." (10/10)
Foto: Alastair Grant/AP/dpa/picture alliance
Preparativos para chegada da supertempestade
A Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês) advertiu que o furacão Milton será "catastrófico e mortal" e pediu que os moradores usem as últimas horas antes da chegada da tempestade para deixar a área e, para aqueles que não conseguirem, que "busquem refúgios seguros imediatamente". A expectativa é que o furacão se torne o "mais devastador em 100 anos". (09/10)
Foto: JOE RAEDLE/Getty Images/AFP
Moraes determina desbloqueio do X após rede social cumprir exigências
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou o desbloqueio da rede social X no Brasil, após o cumprimento de várias exigências relacionadas a um processo no qual a empresa era acusada de disseminação de desinformação e discurso de ódio. O X pagou multas de R$ 28 milhões determinadas pelo STF pelo descumprimento de ordens judiciais. (08/10)
Foto: Jorge Silva/REUTERS
Um ano dos ataques do Hamas em Israel
Data marca primeiro aniversário dos ataques terroristas do grupo radical Hamas em solo israelense, que resultaram em cerca de 1.200 mortes, além de mais de 250 reféns levados pelo grupo islâmico para a Faixa de Gaza. Reação de Israel gerou ampla destruição e grave crise humanitária no enclave palestino. (07/10)
Foto: Jim Urquhart/AP Photo/picture alliance
Brasil vai às urnas para eleições municipais
Eleitores de 5.569 municípios do Brasil foram às urnas para escolher os prefeitos e vereadores que os representarão pelos próximos quatro anos. Em todo o país, com exceção do Distrito Federal, 155.912.680 de eleitores estavam aptos a votar. (06/10)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Trump faz novo comício em local onde sofreu atentado
Com segurança reforçada, o ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca Donald Trump voltou a Butler, no estado da Pensilvânia, para liderar novo comício no local onde sofreu uma tentativa de assassinato em julho. Trump discursou ao lado do emresário Elon Musk no mesmo palco onde, em 13 de julho foi atingido de raspão na orelha direita por um tiro de fuzil. (05/10)
Foto: Jasper Colt/USA TODAY Network/IMAGO
Elefantes ficam presos após enchente na Tailândia
As enchentes no norte da Tailândia inundaram a cidade de Chiang Mai e o Elephant Nature Park, que abriga cerca de 3 mil animais resgatados. Conservacionistas fizeram uma força-tarefa para resgatar os animais, mas um elefante morreu afogado e outros 30 ainda estão desaparecidos. Segundo as autoridades,o rio Ping Rive atingiu seu maior nível da história. (04/10)
Foto: Thapanee Eadsrichai/REUTERS
Morre Cid Moreira, ícone do telejornalismo brasileiro
O apresentador Cid Moreira morreu aos 97 anos. Ele se tornou o rosto mais marcante do Jornal Nacional, da Rede Globo, e da televisão brasileira. Cid apresentou o JN por mais de 25 anos, liderando aproximadamente 8 mil edições do telejornal. Dono de uma voz grave, a partir do início dos anos 1990 dedicou-se também a gravar salmos bíblicos (03/10)
Foto: Leandro Chemalle/TheNews2/IMAGO
Israel proíbe entrada de secretário-geral da ONU no país
Ministro israelense do Exterior declara António Guterres "persona non grata" por não ter condenado ataque iraniano "de forma inequívoca". Guterres emitiu declaração com alerta sobre escalada do conflito no Oriente Médio. (02/10)
Foto: Richard Drew/AP Photo/picture alliance
Irã ataca Israel com mísseis balísticos
O Irã disparou cerca de 180 mísseis contra Israel, em retaliação ao acirramento da campanha do Estado judeu contra alvos apoiados pelo regime iraniano, como o grupo radical palestino Hamas e o libanês Hezbollah. Israel e EUA afirmaram ter abatido a maior parte dos disparos. Os estilhaços deixaram duas pessoas feridas, mas as promessas de represália sinalizam agravamento do conflito. (01/10)