Israelenses condenam fala de Bolsonaro sobre Holocausto
14 de abril de 2019
Memorial Yad Vashem e presidente de Israel dizem que ninguém tem o direito de determinar se os crimes do regime nazista contra os judeus podem ser perdoados, como sugeriu o líder brasileiro em evento com evangélicos.
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O museu Yad Vashem divulgou um comunicado neste sábado (13/04) no qual diz que ninguém tem o direito de determinar se os crimes hediondos do Holocausto podem ser perdoados.
O comunicado é uma resposta a uma declaração de quinta-feira de Jair Bolsonaro. Durante um evento com evangélicos no Rio de Janeiro, o presidente brasileiro sugeriu que se pode "perdoar, mas não esquecer" o Holocausto.
"Fui, mais uma vez, ao Museu do Holocausto. Nós podemos perdoar, mas não podemos esquecer. E é minha essa frase: Quem esquece seu passado está condenado a não ter futuro. Se não queremos repetir a história que não foi boa, vamos evitar com ações e atos para que ela não se repita daquela forma”, afirmou Bolsonaro.
O Yad Vashem, em Jerusalém, é um centro de memória do Holocausto. Ele se dedica a homenagear as vítimas e os que combateram o genocídio de seis milhões de judeus pelo regime nazista.
"Desde a sua criação, o Yad Vashem tem trabalhado para manter a lembrança do Holocausto viva e relevante para o povo judeu e a toda humanidade", completa a nota. "Não concordamos com a fala do presidente brasileiro de que o Holocausto pode ser perdoado. Não é direito de nenhuma pessoa determinar se crimes hediondos do Holocausto podem ser perdoados".
O presidente de Israel, Reuven Rivlin, divulgou, também neste sábado, duas mensagens no mesmo tom do comunicado do Yad Vashem, mas sem citar Bolsonaro.
"Sempre vamos nos opor àqueles que negam a verdade ou aos que desejam expurgar nossa memória — indivíduos ou grupos, líderes de partidos ou premiês. Nós nunca vamos perdoar nem esquecer", escreveu Rivlin no Twitter.
"O povo judeu sempre vai lutar contra o antissemitismo e a xenofobia. Líderes políticos são responsáveis por moldar o futuro. Historiadores descrevem o passado e investigam o que aconteceu. Nenhuma das partes deveria entrar em território da outra."
No início do mês, Bolsonaro fez uma visita de quatro dias a Israel, a convite do premiê Benjamin Netanyahu, um aliado político. Durante a viagem, ele visitou o museu Yad Vashem e causou indignação ao repetir a tese, tida como absurda e desonestapor historiadores, de que o nazismo teria sido um movimento de esquerda. A própria instituição define o nazismo como um movimento de direita.
Duramente condenado pelos maiores partidos políticos alemães, o posicionamento do presidente ecoou declarações recentes de seu chanceler, Ernesto Araújo, de que o nazismo teria sido um "fenômeno" de esquerda. O ministro repetiu um discurso que esteve em alta nas mídias sociais brasileiras durante as eleições, mas que jamais foi levado a sério por acadêmicos na Alemanha.
Na Alemanha, há um amplo consenso, nos âmbitos acadêmico, social e político, sobre a natureza de extrema direita do nazismo. A disputa sobre a classificação da ideologia nazista é inexistente entre historiadores renomados.
Os atuais defensores do "nazismo de esquerda" costumam se basear no nome oficial da agremiação nazista, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou NSDAP. A presença da palavra "socialista" revelaria a linha ideológica do regime. Historiadores internacionais sérios, porém, destacam que isso não passou de uma estratégia eleitoral para atrair a classe trabalhadora.
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Grandes e pequenos memoriais em toda a capital alemã relembram seu passado judaico e os crimes do regime nazista.
Foto: Renate Pelzl
Memorial aos Judeus Mortos da Europa
Esse enorme campo de monólitos no centro da capital alemã foi inaugurado em 2005. O projeto é do arquiteto nova-iorquino Peter Eisenmann. Os quase três mil blocos de pedra evocam a lembrança dos seis milhões de judeus de toda a Europa que foram assassinados pelos nazistas.
Foto: picture-alliance/Schoening
Stolpersteine ("pedras de tropeço")
Estes pequenos blocos podem ser encontrados em centenas de calçadas de Berlim, em frente a imóveis que eram ocupados por famílias judias. Nelas, constam os nomes dos antigos moradores judeus e informações sobre seu destino final, como o campo de concentração para onde foram enviados. No total, existem mais de 7 mil desses pequenos memoriais só em Berlim.
Foto: DW/T.Walker
A casa da Conferência de Wannsee
Quinze autoridades nazistas de alto escalão se reuniram nesta mansão às margens do lago Wannsee, no subúrbio berlinense de mesmo nome, em 20 de janeiro de 1942. O tema da conferência: discutir o assassinato sistemático de judeus europeus, que foi batizado de "solução final para a questão judaica". Hoje o local é um memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial Plataforma 17
Rosas brancas na plataforma 17 da estação Grunewald, no oeste da capital, lembram os mais de 50 mil judeus de Berlim que foram enviados para a morte a partir desse local. Em exibição estão 186 placas que mostram a data, o destino e o número de deportados.
Foto: imago/IPON
Museu Otto Weidt
O complexo de prédios Hackesche Höfe no centro de Berlim é mencionado em vários guias de viagem. Em um dos edifícios, ficava a fábrica de escovas e vassouras do empresário alemão Otto Weidt (1883-1947). Durante a era nazista, ele empregou muitos judeus cegos e surdos, salvando-os da deportação e da morte. Hoje o local é um museu.
Foto: picture-alliance/Arco Images
Centro de moda na Hausvogteiplatz
O coração da moda de Berlim uma vez bateu aqui. Uma placa comemorativa feita de espelhos lembra os estilistas e fashionistas judeus que fizeram roupas para toda a Europa na praça Hausvogtei. Os nazistas expropriaram os donos judeus e entregaram os ateliês para funcionários e empresários arianos. Esse centro de moda acabou sendo irremediavelmente destruído durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene
Memorial na Koppenplatz
Antes do Holocausto, 173 mil judeus viviam em Berlim. Em 1945 havia apenas 9 mil. O monumento "Der verlassene Raum" (a sala abandonada) está localizado no meio da área residencial da praça Koppen. É uma forma de relembrar os cidadãos judeus que foram tirados de suas casas e nunca retornaram.
Foto: DW
O Museu Judaico
O arquiteto Daniel Libeskind escolheu um design dramático: visto de cima, o edifício parece uma estrela de David quebrada. O Museu Judaico é um dos prédios mais visitados em Berlim, oferecendo uma visão geral da turbulenta história teuto-judaica.
Foto: AP
Cemitério Judaico Weissensee
Ainda há oito cemitérios judaicos em Berlim. O maior deles fica no distrito de Weissensee. Com cerca de 115 mil túmulos, é o maior cemitério judaico da Europa. Muitos judeus perseguidos se esconderam no emaranhado de construções dos cemitérios durante o regime nazista. Em 11 de maio de 1945, três dias após o fim da Segunda Guerra, o primeiro funeral judaico público foi realizado aqui.
Foto: Renate Pelzl
A Nova Sinagoga
Quando a sinagoga da rua Oranienburger foi consagrada em 1866, o prédio foi considerado o mais magnifico templo judaico da Alemanha. O edifício foi danificado na Noite dos Cristais em 1938 e depois foi duramente bombardeado na Segunda Guerra. No início dos anos 1990, foi parcialmente reconstruído. Desde então, sua cúpula dourada voltou a ser facilmente inidentificável no horizonte de Berlim.