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"Isso não tem nada a ver com o Marrocos"

Stefanie Müller md
21 de agosto de 2017

Bem integrados na Espanha, imigrantes marroquinos repudiam radicalismo islâmico e temem que os ataques executados por compatriotas na Catalunha afetem a boa convivência com os espanhóis.

Muçulmanas seguram cartazes de repúdio ao terrorismo em Barcelona
Muçulmanas manifestam publicamente repúdio ao terrorismo em BarcelonaFoto: picture-alliance/Kyodo/MAXPPP

É verão na Europa e, no período de férias, não só os marroquinos que imigraram para a Espanha, mas também os nascidos ali estão quase todos visitando seus parentes no Marrocos. Muitas empresas fecharam, devido ao calor e à onda de turismo de férias. Com carros repletos de coias que não existem no Marrocos, viajam rumo a Algeciras ou Cádiz. De lá, pegam a barca para o Marrocos. Eles levam um pouco do que ganharam na Espanha de volta a seu país.

Essas relações bilaterais têm funcionado há décadas. Politicamente, é uma relação de amor e ódio, porque a Espanha ainda mantém dois enclaves em solo marroquino, Ceuta e Melilla. Apesar da situação política, os marroquinos costumam encontrar com facilidade trabalho nos ramos de construção e gastronomia na Espanha.

Os pais de Hajiba Habban, de 20 anos, chegaram a Madri há 17 anos, na esperança de melhorar seu padrão de vida. Mas eles nunca esqueceram sua terra natal e sempre retornam no verão. Hajiba ficou na Espanha neste ano. A moça trabalha no Almounia, o melhor restaurante marroquino da cidade, visitado por muitos turistas.

"Estes ataques terroristas em Barcelona, ​nos quais nossos irmãos de fé estão envolvidos, me deixam triste. Mas, por outro lado, também acredito que eles são casos isolados, que não têm nada a ver com o Marrocos", diz a jovem.

A marroquina adora a Espanha, apesar de ter experimentado várias vezes racismo – "especialmente na escola". Ela não frequenta mesquitas porque não tem tempo, mas vai às vezes à Casa Árabe – um centro cultural. É uma jovem inteligente, realista e crítica.

Testemunhas contam o que viram durante ataque em Barcelona

01:17

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"Eu sei que Marrocos não é uma democracia de verdade, e que ninguém realmente quer voltar para lá. Mas acho que alguns marroquinos na Espanha também estão frustrados, por causa dos empregos mal remunerados e do racismo disfarçado”, acredita. "Mas nada justifica a violência – esses ataques em Barcelona não têm nada a ver com o islamismo."

Essa também é a opinião dos representantes das várias instituições religiosas de Madri, que se reuniram na tarde de domingo na praça central Puerta del Sol, em um ato público contra o terrorismo.

"Condenamos profundamente esses atos", diz Mimoun Amrioui, presidente do Centro Cultural Islâmico de Fuenlabrada, nos arredores da capital.

Em Barcelona, muitos muçulmanos se expressaram diante das câmeras a favor da Espanha e agradeceram a hospitalidade do país, muitas vezes, sob lágrimas. Mimoun Amrioui anunciou que a comunidade islâmica na Espanha fará todo o possível para colaborar com as investigações sobre o atentado.

"Mas as pessoas devem evitar a islamofobia”, diz a jornalista muçulmana Amanda Figueras. "Nós, fiéis, também somos vítimas desse terrorismo, porque o ódio contra nossa religião é aumentado por tais ações. Não devemos esquecer isso."

Antes da crise econômica na Espanha, as pessoas vindas da região do Magrebe constituíam o principal grupo de imigrantes no país. Entre 2003 e 2013, seu número dobrou de 400 mil para quase 800 mil. Nos últimos anos, entretanto, os marroquinos foram ultrapassados ​​pelos romenos como o grupo estrangeiro mais numeroso na Espanha.

A maioria dos marroquinos também vive muito bem integrado na sociedade espanhola, devido aos poucos problemas com a linguagem, e estão distribuídos por todo o país. Não há na Espanha guetos de estrangeiros como em outros países.

O Centro Cultural Islâmico de Madri esteve no foco das investigações sobre os atentados de 2004Foto: picture-alliance/AA/E. Aydin

Dos imigrantes marroquinos na Espanha, 64% são homens, a maioria deles chegou ao país com desejo de obter uma melhoria econômica em suas vidas. Os chefs de cozinha Abdul e Rashid também vivem na Espanha há muitos anos. Eles trabalham em um restaurante italiano em Las Rozas, a 20 minutos de Madri. Todo verão, visitam suas famílias no norte do Marrocos e convidam os amigos espanhóis a visitá-los em seu país.

"Claro que sentimos vergonha quando vemos algo como aconteceu em Barcelona, ​​porque o nome Marrocos e também o islamismo são mencionados repetidas vezes", afirma Rashid. Ambos são muçulmanos praticantes, e por isso eles se irritam ainda mais com o terrorismo. "Ele joga na lama nossa cultura e tudo aquilo em que acreditamos."

Em Madri, na autoestrada M30, fica uma das maiores mesquitas da Europa, no Centro Cultural Islâmico de Madri. Os ataques aos trens em Madri em março de 2004 colocaram o lugar no foco da investigação na época. Mas desde então, muita coisa mudou. O islamismo na Espanha se abriu, o interesse dos espanhóis nos muçulmanos cresceu. Além disso, graças a uma campanha de esclarecimento da mídia, houve muito poucos incidentes violentos contra marroquinos.

Em uma antiga estação de correios de Madri é possível ver a faixa "Refugiados são bem-vindos", pendurada ali desde 2015. A intenção é mostrar o grau de simpatia da cidade em relação aos imigrantes, embora ela, de fato só tenha acolhido cerca de 1.400 refugiados. Hajiba Habban sempre sorri quando passa pela Plaza Colón e lê a frase. lhe dá um bom sentimento. Ela se considera espanhola e marroquina.

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