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Itália está a caminho do impasse político após eleição

2 de março de 2018

Populistas lideram sondagens eleitorais, mas nem eles nem os social-democratas deverão obter maioria. E todos os três descartam alianças entre si para formar governo.

Luigi Di Maio
Luigi di Maio confia na vitória do Movimento 5 Estrelas, que deverá ser o partido mais votadoFoto: Reuters/C. de Luca

De acordo com as pesquisas de intenção de voto, a Itália está diante de uma enorme vitória de populistas tanto de esquerda quanto de direita nas eleições legislativas deste domingo (04/03).

Segundo os prognósticos, a legenda com o maior número de votos (28%) deverá ser o Movimento 5 Estrelas, um partido de protesto de tendência esquerdista fundado há nove anos pelo comediante Beppe Grillo. Atualmente ele é liderado por Luigi di Maio, de 31 anos, que não chegou a completar as duas graduações que iniciou.

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O 5 Estrelas se apresenta como um movimento contra o establishment. Ele promete benefícios sociais, é eurocético e critica o acolhimento de refugiados e migrantes na Itália. "Acredito que seremos a maior força política e conseguiremos formar um governo", afirmou Di Maio à DW. "Os demais países da Europa perceberão que a verdadeira ameaça parte de Le Pen, da AfD. Não participamos disso. Politicamente, somos de esquerda. Lutamos contra Salvini e a Liga."

O principal candidato do 5 Estrelas vê os populistas da Liga (que cortou o "Norte" do nome) e seu presidente, Matteo Salvini, como seus maiores adversários. Salvini, que é tachado de xenófobo e faz campanha com o slogan "A Itália em primeiro lugar", fechou uma aliança com a conservadora Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi, e com os neofascistas Irmãos da Itália.

Com 38% dos votos, esse bloco conservador e populista de direita deverá ser a principal força no novo Parlamento, mas não deverá obter a maioria absoluta de assentos. A terceira e menor ala política é formada pelos social-democratas, que estão no poder e cuja coligação deverá chegar a 28% dos votos, segundo sondagens. A coligação é liderada pelo ex-premiê Matteo Renzi.

Matteo Renzi lidera a coligação dos social-democratas, que deverá ser a terceira forçaFoto: Reuters/R. Casilli

Coalizões não estão planejadas

Todos os três grupos – 5 Estrelas, bloco de direita e social-democratas – descartaram coalizões entre si. O grande mistério para os eleitores italianos continua a ser como um governo poderá ser formado dessa maneira.

Uma legislação eleitoral extremamente complexa também não ajuda nesse ponto, assinalou o especialista em assuntos italianos Lutz Klinkhammer. "Essas forças políticas iriam, provavelmente, se bloquear no Parlamento", disse Klinkhammer, vice-diretor do Instituto Histórico Alemão em Roma. "Isso pode significar que se chegue a um governo interino que tente rapidamente aprovar uma nova lei eleitoral no Parlamento, partindo então para novas eleições."

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, advertiu que era preciso preparar-se para o "pior cenário", ou seja, um Parlamento não operacional. Os comentários de Juncker fizeram com que o custo do refinanciamento da exorbitante dívida soberana italiana aumentasse temporariamente.

Com a economia italiana crescendo lentamente e o setor bancário vulnerável a crises, os mercados estão nervosos e o sistema permanece instável. Durante a campanha eleitoral, pouco se falaou sobre como se pode reduzir um endividamento estatal correspondente a 130% do Produto Interno Bruto. "Todo mundo faz promessas, mas ninguém tem uma receita", afirmou o economista Ruggero Bertelli.

Ressurgimento da evasão fiscal

Para Berlusconi, agora com 81 anos e 50 anos mais velho que o principal candidato do 5 estrelas, a eleição pode significar um grande retorno.

Na verdade, Berlusconi se encontra inelegível desde que foi condenado num processo de evasão fiscal. Mesmo assim, ele comanda o bloco de direita, que é liderado por sua conservadora Força Itália. Todos os escândalos do passado envolvendo orgias, sexo com a prostituta menor de idade Ruby ou transações questionáveis com antigos ditadores não prejudicaram a imagem do empresário de mídia e multimilionário.

"Partes do governo e algumas instituições me atacaram com insultos indecentes e falsos. Mas as pessoas percebem que essas conversas sobre orgias, festas, etc foram todas mentiras inventadas pelas partes interessadas em eliminar o oponente político", declarou Berluconi em entrevista à TV.

Eternamente sorridente e inelegível, Berlusconi ainda convence muitos eleitoresFoto: Reuters/M. Rossi

Esse papel de vítima por parte do eternamente sorridente magnata da mídia é aceito por muitos eleitores. Nas pesquisas, seu partido conta com cerca de 16% dos votos, sendo a principal força do bloco de direita. Berlusconi não teme a proximidade de neofascistas e populistas de direita. Ele acredita firmemente que um primeiro-ministro de sua escolha vai liderar o próximo governo e já anunciou que ele será Antonio Tajani, o presidente do Parlamento Europeu e seu companheiro partidário de longa data. Berlusconi promete benefícios fiscais e a criação de empregos para muitos jovens desempregados. Mas não revela como pretende financiar tudo isso.

Os problemas da Itália continuam

O prefeito de Palermo, Leoluca Orlando, mostra-se cético quanto ao provável grande número de votos para populistas e partidos de protesto. Para Orlando, as eleições serão decididas, provavelmente, no sul, na parte mais pobre da Itália. Seu partido liberal de esquerda Itália dos Valores tem somente chances modestas, disse ele à DW em Palermo.

"Eu acho que todos os populistas são vulneráveis ​​ao risco que eu chamaria de 'Máfia'. Os populistas não têm experiência de governo. Eles podem ser influenciados negativamente", disse o prefeito, que lutou contra a Máfia durante toda a sua vida. Ele não chama Berlusconi de mafioso, mas diz que o clima político muda com ele no poder. "O estilo de Berlusconi é exatamente o que a Máfia precisa."

Após as eleições, a Itália não se afundará imediatamente no caos nem sua economia vai entrar em colapso. O país continuará a ser a terceira maior economia da zona do euro. "Uma eleição não vai mudar isso", apontou Klinkhammer.

"Os problemas pendentes são de médio e longo prazo. Trata-se de investimentos. Trata-se, sobretudo, do fato de que não há perspectivas para a geração mais jovem e, portanto, muitos partirão para o exterior, especialmente aqueles com boa formação", observou.

As urnas italianas fecharam às 23h (hora local) deste domingo. A distribuição final dos assentos em ambas as câmaras do Parlamento em Roma só será conhecida na manhã de segunda-feira.

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Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.
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