Itália investiga seqüestro de imã egípcio pela CIA
30 de setembro de 2005![](https://static.dw.com/image/1726637_800.webp)
O seqüestro do imã egípcio de Milão, Hassan Mustafa Osama Nasr (apelidado de Abu Omar), por agentes da Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana na Itália está causando turbulências nas relações entre Roma e Washington.
Nesta sexta-feira (30/09), a Justiça da Itália ordenou a detenção de três supostos agentes da CIA, entre eles uma ex-diplomata da embaixada dos EUA em Roma, acusados de "envolvimento decisivo" no caso, informa o jornal La Stampa, de Milão.
A diplomata de 38 anos de idade, que segundo fontes norte-americanas atualmente estaria trabalhando na embaixada do Estados Unidos no México, teria ajudado a tramar e executar o seqüestro junto com outros 21 agentes dos EUA quando atuava em Roma.
CIA na Alemanha envolvida?
Segundo o jornal italiano, a Justiça alemã também acompanha o caso, já que na obscura operação ocorrida em 17 de fevereiro de 2003, Abu Omar teria sido levado para interrogatório no Egito através da base militar norte-americana de Ramstein, na Renânia-Palatinado. "Há indícios de que uma estrutura da CIA na Alemanha esteve envolvida no seqüestro", afirma o La Stampa.
No final de junho passado, a Procuradoria de Milão apresentou à União Européia de Cooperação Judicial (Eurojust) uma ordem de prisão contra 13 membros da CIA supostamente envolvidos no caso. Esse grupo de agentes, formado por 10 homens e três mulheres, entre 32 e 65 anos de idade, era liderado por Robert Seldon Lady, de 51 anos, que já foi cônsul americano em Milão, segundo o jornal italiano Corriere della Sera.
As autoridades italianas também apresentaram uma petição de captura do grupo à Europol, a agência de polícia da Europa. Com os mandados de prisão baixados nesta sexta-feira, já sobe para 22 o número de agentes americanos procurados pela Justiça da Itália.
Segundo relatos de testemunhas publicados na imprensa italiana, o imã da mesquita de Milão se dirigia ao templo quando foi abordado por duas pessoas vestidas de policiais, que o colocaram em um furgão com as cores da polícia italiana (Carabinieri). Em seguida, teria sido levado à base de Aviana, na região de Veneza. Dali foi transferido para a base militar de Ramstein, na Alemanha, e depois à prisão egípcia de al-Tora, onde teria sido interrogado e torturado e ainda se encontraria preso, segundo o diário La Repubblica.
"Detenções extraordinárias"
O mesmo jornal denunciou à época que aproximadamente 70 pessoas foram raptadas dessa maneira em vários países pela CIA, após os ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington. As investigações que estão sendo realizadas pela Justiça italiana põem em xeque a política americana de "detenções extraordinárias", cuja aplicação é criticada por grupos de direitos civis.
Segundo o site alemão Spiegel Online, antes do seqüestro, o líder religioso já estava sendo investigado por suspostos contatos com o grupo terrorista Ansar al-Islam, atuante no Iraque, mas a Procuradoria de Milão não encontrara provas suficientes para prendê-lo. Os Estados Unidos afirmam que a Itália estava informada da operação, o que é categoricamente negado por Roma.